XXII

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Estava terminando de jantar e observava Liv e Felix sentados no chão perto da lareira acesa. Ambos jogavam xadrez com um copo de leite na mão.

Assim como no jantar, Felix não parecia aquele cara assustador. Era estranho pra cacete, na real. Era como se ele tivesse uma personalidade completamente diferente assim com a minha irmã. Nem outra personalidade, era como se fosse outra pessoa mesmo.

Fala sério, o cara 'tava até bebendo leitinho morno antes de dormir.

Enfim, os três já tinham jantado, eu tinha me recusado a jantar de primeira, mas o tempo foi passando e minha barriga ficou reclamando muito. O cheiro da comida deliciosa não ajudava muito também o meu estado.

Stella pediu para que fizessem o meu prato de novo e aqui estava eu, finalizando ele. Muito satisfeita, obrigada.

— Você gosta de pudim de banana? — Stella apareceu na sala segurando o prato branco pequeno com a sobremesa.

Quero dizer, sempre tem espaço pra mais. E parecia delicioso.

— Valeu — murmurei e aceitei o pudim. Stella sorriu fraco.

— Por nada. Bem, já que você terminou o jantar será que podemos conversar? Em particular?

Ela apontou para as escadas. Saquei, ela me deu o doce pra jogar a bomba depois. Esperta.

Ergui os ombros, mas a segui de qualquer jeito. Ainda comendo meu pudim, é claro. Estava realmente delicioso. Entramos no quarto dela.

Eu olhei em volta da enorme suíte, pelo que parecia Felix realmente morava aqui com ela. Tinha algumas coisas de homem ali, e a mesa de cabeceira da cama estava com uns livros deixado de forma um pouco menos ajeitados do que do lado direito.

Me sentei na cama, eu sentia a droga do band-aid começar a descolar. Quando eu tentei grudar ele de volta, eu soltei um baixo sibilo de dor. Eu, sem querer, toquei no meu piercing que acabou sendo atingido inevitavelmente durante a briga. Meu supercílio doía pra cacete também.

— Você está bem?

— Aham, não é nada — eu franzi o cenho tentando colar o band-aid de volta no lugar, inutilmente. Tinha perdido a aderência. — O que... o que 'cê 'tá fazendo? — Stella sentou o meu lado e levantou o meu queixo suavemente.

Ela estava inspecionando meu rosto.

— Precisa limpar isso, Jo. Tem sangue seco na sua testa e está um pouco inchada — ela suspirou e olhou nos meus olhos. — O que você usou no machucado?

— Só coloquei um band-aid.

— Eu vou pegar o kit de primeiro socorros no banheiro.

— Não precisa...

— Precisa sim — ela já tinha se levantado. Revirei os olhos contrariada e peguei mais um pedaço do pudim, ela era tão teimosa, meu Deus.

Stella voltou com uma caixinha branca nas mãos, me virei pra ficar sentada de frente pra ela. A perna direita dobrada em cima da cama. Tinha acabado com o podim e coloquei o prato do meu lado.

— Você vai ter que tirar esse... piercing pra eu limpar — ela fez uma careta depois que aplicou um remédio de um frasco marrom no cotonete, parecia sangue.

— Sem chance, ainda não cicatrizou e vai doer pra caralho.

— Jo, eu preciso limpar isso.

— Ah, limpa em volta então, meu supercílo, sei lá. Mas eu não vou tirar o piercing — falei decidida.

— Tudo bem, não reclame se infeccionar depois — ela bufou e começou a limpar o machucado. Mesmo sendo mais delicada possível, eu tive um sobrassalto e afastei meu rosto para trás um pouco sibilando de dor, mas tive que voltar para a posição que estava pra ela continuar. Stella murmurou um "desculpe". — Quer me contar por que brigou na escola?

Renegade (b.e)Onde histórias criam vida. Descubra agora