Capítulo 29 - Papai e Mamãe

282 17 28
                                    

POV Zendaya

Amor. Tudo que eu pensava sobre amor na vida foi enrolado em um saquinho e jogado fora. Quando eu encontrei Sarah, bastou um olhar e pronto, eu já a amava. Eu não sei porque parei. Estava consciente de Tom segurando minha mão e então, eu senti uma pequena pontadinha no coração, que me fez olhar para o lado. Era como se alguma coisa me chamasse para aquele beco... Para aquela folha de jornal no cantinho escuro ao lado de uma lata de lixo. Eu já me sentia mãe... Todos os dias eu sentia meu amor crescer pelas minhas veias. Algo inexplicável me fazia amar tudo. E aquela garotinha tinha arrebatado meu coração com um olhar. Ela estava com medo, com fome e abandonada.

Eu nunca tinha sonhado ser mãe até casar e amar Tom. Era estranho a sensação de que você quer dar continuidade daquilo que você tem. Você quer amar outra pessoinha feita com parte de vocês dois e então, era preconceituosa em relação à adoção, mas Sarah... Ela me envolveu. Me ganhou. Me roubou. Foi confuso, ela tinha que fazer uma bateria de exames para sífilis, AIDS ou alguma outra doença grave e bem possível, porque ela morava nas ruas. Graças a Deus, ela só estava anêmica, parecia que não comia a dias e em seu banho saía uma água lamacenta, grossa. Nós tivemos que catar piolhos e aplicar remédios chatos que a deixou magoada e chorosa.

Nós ficamos cinco dias no hospital. Graças a Robert, ela foi bem cuidada enquanto Tom virava a cidade abaixo para conseguir a guarda temporária. Eu disse a ele que não queria não como resposta... Ele iria se virar. Sarah era muito tímida. Não falava muitas coisas e parecia ter medo de todo mundo. As enfermeiras tiveram que ganhar sua confiança e os médicos, ela parecia ter mais pânico ainda que chegava tremer no meu colo, mas não saí do seu lado e acompanhei tudo de perto, até alguns momentos com a psicóloga infantil do estado.

Seus primeiros dias em casa foram difíceis. Ela não conseguia dormir, acabava chorando inquieta, querendo ficar no meu colo ou no colo de Tom. Eu estava um pouco cansada em certo momento, acabei dormindo demais e quando acordei assustada sem Tom na cama, procurei por ele e Sarah no meio da madrugada. A cena mais linda da minha vida e a confirmação de que tinha feito certo foi vê-lo esparramado na cama no quarto de hóspedes e Sarah estava enroladinha ao seu lado, sendo protegida pelo seu braço, dormindo pacificamente.

A Dra. Laura disse que não era tão bom colocá-la para dormir conosco, mas se era a única alternativa no momento devíamos deitar com ela juntos e então ela poderia conseguir dormir melhor porque se sentia segura. A noite podia ser um momento que ela devia ficar com medo de ser abandonada de novo. Então, todos os dias nós tomávamos café juntos, Tom ia trabalhar e eu ia para hidroginástica e ela assistia desenho na cozinha com Dora ou assistia minha aula. Nós iríamos tomar banho e brincar de colorir no quarto ou qualquer coisa até o almoço. Ultimamente sempre tinha alguém conosco, sendo meus pais ou a família de Tom.

De tarde ela tirava uma soneca depois de correr no jardim com Tessa e Noon. Outra brincadeira que foi incentivada. Primeiro compramos um pequeno aquário e ensinamos sobre a alimentação. Segundo Tom, peixe era bonito, atrativo e inofensivo. Seria um passo para colocá-la à vontade com animais. Meu marido era um pai incrível, empenhado e apaixonado. Sarah adorava esperá-lo chegar do trabalho... Ela sabia exatamente o horário.

Quando ele chegava, nós brincávamos juntos, jantávamos e ele sentava no chão da biblioteca para ler alguma história. E ficávamos na cama com ela até o momento que adormecia tranquilamente, sem nem acordar durante a noite para nada, mas só por precaução, o monitor do bebê sempre ficava ligado.

As semanas se passaram de forma graciosa e meio turbulenta. Nós estávamos nos adaptando a uma menina de três anos traumatizada e linda e a chegada da nossa menina. A cada segundo minha barriga parecia maior, as sensações eram diferentes e minha filha era apaixonante mexendo toda vez que Tom tocava piano para suas meninas sábado à tarde ou crescendo a cada ultrassom. Dizer que eu chorava por tudo era eufemismo. Tudo era lindo.

ALÉM DA ESCURIDÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora