Cap 3// A Rosa

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O concerto continua, e agora apenas a orquestra e o maestro então encima do palco. Eles tocam várias músicas bonitas, mas minha mente ainda está naquele violinista intrigante.

Quando mal percebo, o concerto acaba, as luzes se acendem e todos começam a se retirar da sala.

- Vai ficar aí, Carolyne? - meu irmão chama minha atenção. Olho para trás e o vejo nos degraus do corredor, me esperando, junto de seus amigos.

Me levanto, saindo de meus devaneios, e caminho em direção à ele. Ele volta a andar, e eu vou bem atrás dele, mas algo me faz olhar para trás, para o palco, mais uma vez. Entretanto, não há mais ninguém lá. Eu posso sentir algo me observando, mas não vejo ninguém.

Quase tropeço e caio encima do meu irmão, ele reclama mas me segura pelo braço, para não cair.

- Porra, Blair, o violinista te afetou tanto assim? Mal tem uma coordenação motora descente para subir uns degrauzinhos agora. - ele diz, sarcástico, e escuto seus amigos rirem.

- Cala a boca, seu estrupício! - digo à ele com uma carranca e seus amigos reprimem uma risada da cara dele.

Nós nos juntamos aos meus pais no corredor, e logo saímos da galeria.

Meus pais param na calçada da galeria para conversar com uns amigos seus que encontraram, e meu irmão também conversa e ri alto com os seus em outro canto. Decido por mim mesma me afastar um pouco das duas rodinhas, e ficar sozinha, ainda admirando o lugar. Gosto de ficar sozinha e observar as coisas. Gosto da minha própria companhia e de ser atenta à tudo.

Me aproximo mais do limite da grande calçada, ficando bem próxima dos corrimãos guarda corpo. Cruzo os braços cruzados, vendo o rio imenso lá embaixo. Ver de perto as luzes brilhando nas águas é lindo demais. Um vento calmo brinca com as mechas do meu cabelo e a saia do meu vestido.

Tudo aqui é muito lindo. Com certeza mesmo depois de começar a morar sozinha, eu não irei me mudar desta cidade. Há muitas coisas com que sou apegada aqui. Não só às pessoas, a cidade e seus lugares também.

Faz pouco tempo que fiz 19 anos, e pode até parecer estranho eu ainda morar com os meus pais depois dos 18, mas eu não consigo me distanciar da minha família, apesar de às vezes querer muito. Eu prometi a eles que logo logo irei arrumar meu próprio cantinho e aprender a seguir minha vida assim, mesmo com eles insistindo que não se importam em eu ficar com os mesmos, e acham até melhor enquanto eu não me sentir segura o suficiente para morar sozinha. É, quando me imagino morando sozinha realmente só consigo ver o caos. Me imagino solitária.

Para alguns pode ser o seu maior sonho, ter sua liberdade toda para si, ter paz, não escutar mais brigas da sua família já ao acordar, e até mesmo ser metido no meio dessas confusões desnecessariamente. E eu entendo perfeitamente isso, às vezes é tudo o que eu mais desejo também.

Desejo um dia poder parar de escutar minha mãe discutindo com os meus avós (seus pais) pelo celular. Queria tanto que eles tivessem uma relação boa, mas ela é extremamente ignorante com eles, eles não merecem isso. Mas infelizmente isso não muda nunca. Desde que meu pai morreu ela se tornou uma mulher amargurada, e depois de anos descontando sua infelicidade em tudo e todos ao seu redor, ela conseguiu encontrar o amor novamente e se casou à cinco anos. Mas às vezes, a amargura em seu coração ainda mostra que não foi embora completamente. Eu já até suspeito, há um bom tempo, que ela é um pouco narcisista.

Desejo um dia poder dormir sem precisar escutar minha mãe e Jhonn transando.

É, isso acontece com frequência. É um inferno. O quarto deles é bem perto do meu, e eles tem um fogo impagável, mesmo nessa idade.

Em Seus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora