- Oi, mãe. - meu irmão chama sua atenção, enquanto caminho até o sofá para deixar minha mochila sob o mesmo.
Ela olha para nós, e abre um sorriso nos lábios.
- Como foram as aulas hoje? - ela pergunta, olhando para Henry.
Vou até o balcão da cozinha, e escolho uma maçã em meio a cesta de frutas repletas por elas.
- Ah, como sempre, mãe. Tranquilo, e um pouco chato, graças ao professor de matemática. - ele diz.
- Aquele que você vive dizendo que passa muitas atividades? - nossa mãe questiona.
- Sim. Já mandou umas nove hoje para fazermos em casa. Ele não dá descanso um dia pra gente. - meu irmão diz. - Mas pelo menos deve ser bem melhor que estudar seis matérias de humanas seguidas. Quase durmo só de imaginar. Onde que você coloca seu cérebro em prática com isso?
Reviro os olhos, mordendo minha maçã, caminhando até o sofá.
- Seu irmão tem razão, Blair. Por que não muda pra exatas? Você vai conseguir uma profissão muito melhor, e vai ser bem mais inteligente. - minha mãe sugere, como sempre, sendo passiva-agressiva.
Suspiro e me sento no sofá, pegando meu celular. Já estou cansada desse mesmo assunto. Todas as vezes que ela joga na minha cara que ser bailarina é algo completamente inútil para alguém como eu, que preciso estudar para ser alguém de verdade, que vai de fato ganhar reconhecimento e dinheiro de verdade. O mesmo blá blá blá. Toda santa vez.
- Estou satisfeita com a minha inteligência, e não quero uma profissão melhor, "mamãe". - respondo, sem me importar com o quão indelicada fui.
Entro em uma rede social em meu celular e não vejo a cara da minha mãe nem do meu irmão, mas posso imaginar ela com uma carranca, e ele me olhando, conformado com a situação. Realmente não tinha mais nada a se fazer, ela quem deveria se conformar também. Eu amo o que faço, e quero tornar disso a minha vida completamente daqui em diante. Não me importo com o quanto eu ganhar, se for pelo menos o mínimo para sobreviver.
Quero de fato fazer isso por amor, caramba. É tão difícil entender isso? Se eu for a primeira pessoa da história desse mundo a querer fazer algo com o coração e a alma, então eu me orgulho de ser essa pessoa.
- Você é tão estúpida... - minha mãe começa. Meus olhos sobem para si. - Seu irmão estudando para ser um engenheiro, o próximo orgulho da família, a quem não vai deixá-la afundar, e você "estudando", para nos levar para o buraco. O que acha que vai ganhar com isso? É fama e adoração que você quer? Até uma prostituta tem isso. Você deve desejar ter condições suficientes para se manter, manter o legado da família, e ser alguém de honra, não uma dançarinazinha qualquer que não ganha nada com isso além de desgastar seus ossos cada dia mais, e no fim, acabar em uma cadeira de rodas, anêmica e raquítica.
Meus lábios se entreabrem.
Cada pequena palavra que sai de sua boca faz qualquer som em minha volta se esvair, e um zumbido agudo preencher minha audição direita.
Minha respiração pesa e meu coração bombeia o sangue com dificuldade, como se uma adaga estivesse cravada em sua carne.
E é exatamente esse o efeito de suas palavras em mim. Uma adaga, atravessando meu peito, quebrando minhas costelas, e perfurando meus pulmões.
Entreabro os lábios algumas vezes seguidas, sem saber o que dizer à ela. Foi, com certeza, a coisa mais cruel que já escutei sair de sua boca em meses. Não sentia saudades disso.
- Mãe... - Henry diz a ela, querendo repreendê-la, mas nem ele mesmo tem forças para fazer isso direito. Ele é o queridinho dela, e ele não quer que ela mude de opinião em relação a ele, eu sei.
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Em Seus Sonhos
Romantik"E sem me dar conta, estava obcecado por ela, sem nem mesmo a conhecer. Mas a conhecer foi o suficiente para dobrar minha obsessão, me transformando em uma ameaça constante. (Não que eu já não fosse antes)." Luke Foster começou a sonhar com Blair to...