Cap 10// A Fuga

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× Luke Foster ×

Pode parecer que não fico nervoso perto de si, mas estou balançando minhas pernas incessantemente por debaixo desta mesa, e sinto meus lábios secarem e a saliva ficar rala por dentro deles.

Tenho a sensação de que ela ainda é um sonho. Como se tudo não fosse real, não passasse de um longo sonho meu até agora. E isso é agonizante.

Eu me sinto vivo. Me sinto vivo quando estou perto dela, quando posso sentir sua respiração, seu cheiro, seu calor, seu jeito reservado e independente que me tira de órbita; mas eu tenho isso tão pouco por perto, como se eu precisasse de tudo isso à todo momento, como um meio de oxigênio que afeta diretamente as veias que levam até meus pulmões.

Blair é como uma dose de adrenalina em meu sangue, ela é o delírio mais real da minha mente, ela é tudo o que um homem pode sonhar em ter, mas não é o que a maioria sabe como ter, como lidar.

E essa sensação de que tudo pode ser minha mente brincando comigo esse tempo todo, é desesperadora. As coisas parecem reais. Eu sinto o sol em minha pele, sinto o vento, posso respirar, ainda tenho que suportar Vinnie, e posso escutar as cordas do meu violino ecoarem suavemente ou violentamente, conforme eu as toco. Posso fazer e sentir outras diversas coisas que todo ser realmente vivo sente e faz. Mas o que ainda me garante de que tudo não é só passageiro e eu posso acordar a qualquer momento?

Bom, sendo sonho ou não, as coisas são passageiras de qualquer forma. E parar para pensar nisso me deixa ansioso e sedento. Porque eu quero estar com Blair, na vida real, e não sei quando posso perder essa oportunidade.

E é isso que me deixa nervoso, como estou aqui, agora. Posso demonstrar confiança perto dela, ou fazer parecer que estou confiante, mas por dentro eu estou sendo corroído por uma ansiedade insaciável, ansiedade para ter Blair, ansiedade de poder acabar a perdendo, o que transformaria minha realidade de volta à um sonho onde só a vejo e não posso fazer mais nada além disso, tal ansiedade que só vai cessar quando tudo deixar de parecer um sonho, parecer eterno, e eu não ter mais medo de viver livremente, aproveitando a cada segundo sem receio algum.

Não sei se conquistá-la vai ser mais difícil do que eu imagino, mesmo não pretendendo poupar nenhum esforço quanto a isso, e não sei o quão Blair pode mecher com meus sentidos até ceder, tornando isso perigoso demais ou não.

Ter que ir com calma, me segurar para não tocá-la da forma que eu realmente quero, admirá-la sem parecer um maníaco, mesmo que eu já pareça um, e poder beijá-la com toda a vontade que eu tenho acumulada em meus hormônios, é péssimo. Mas sei que é assim que as coisas funcionam, e não vou conseguir tê-la se só sair fazendo o que minha mente quer e manda o tempo todo. Eu já faço isso até demais. Mas é incontrolável. Ela tem que entender isso, uma hora ou outra.

E agora, estou bem perto dessa morena.

Não consigo ver seus olhos castanhos direito, porque eles estão mirados para baixo, como seu rosto. Seu corpo está um pouco encolhido, como se estivesse sob alguma pressão. Alguns fios do seu cabelo brilham e se mechem sob a luz do sol e a leve brisa do vento. Ela mastiga um pedaço do sanduíche pelo qual segura em suas mãos finas como se ele nunca fosse acabar, e suas bochechas parecem estar um pouco mais ruborizadas do que o normal.

Ela está com vergonha? Está com vergonha do que?

- Você tá bem? - resolvo a perguntar, vendo que Vinnie conversava livremente com Emilly, e eu e Blair ainda não tínhamos trocado uma palavra um com o outro.

Ela continua em silêncio, sem olhar para mim, ainda mastigando aquele sanduíche que a esse ponto já deve ser inexistente. Isso dura por longos segundos, e eu, já começando a estranhar demais essa situação, toco levemente em seu braço, tentando chamar sua atenção. Ela tem uma reação imediata, tomando um susto. Seu corpo dá um pequeno pulo e seu rosto se levanta na mesma hora, com os olhos arregalados, e finalmente, ela para de mastigar aquele sanduíche.

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