Ariana Queiroz — on
Ultimamente, ando mais estressada que o normal. Não acredito que aquela cobra loira é minha irmã.
Caio me explicou tudo que o detetive Nogueira falou.
Fiquei abismada com uma coisa dessas – e o melhor: eu não pareço nem um pouco com ela.
Desde pequena, ouço dizer que sou a cópia do meu pai. Então, isso é a melhor coisa que poderia me acontecer.
Não sei como é minha mãe, e sinceramente, nem quero saber. Ela é uma mulher sem caráter, que abandonou seu marido para traí-lo, e logo depois retornou – só que, dessa vez, abandonando sua filha.
Eu tenho um pouco de medo de me tornar uma versão dela, mas tenho certeza de que esse papel ficou para a Michelle, minha meia-irmã.
Paro no meio da escada quando vejo que Caio está na sala, parado, me encarando.
Nunca conversamos desde que ele falou sobre minha família materna. Eu era muito mais feliz quando não sabia quem eles eram.
Ele não tinha o direito de investigar minha vida sem minha autorização.
E o pior é que eu achava que estávamos tendo um lance legal.
E eu ainda me apaixonei por esse idiota.
— Ariana, precisamos conversar. — Reviro os olhos, terminando de descer os últimos degraus.
— O que você quer? — Paro em sua frente. — Ah, não vai me dizer que tudo isso de eu ser parente da Michelle é um engano? — O olho, esperançosa.
— Não, Ary... — Ele bufa, frustrado. — Podemos conversar no meu escritório?
— O encaro. Ele parece cansado ou desesperado.
O que aconteceu?
Ele sempre chega cansado, mas com humor para ver as crianças, que é uma das primeiras coisas que ele faz quando chega em casa.
Passo por ele, indo em direção ao seu escritório, sentindo-o logo atrás.
Entro na frente, abro a porta e me sento nas cadeiras em frente à mesa.
— Pode falar. — Ouço a porta ser fechada.
— É sobre a Michelle. — Ele se senta, e eu me seguro para não demonstrar o quanto esse assunto é desconfortável.
— O que ela quer agora?
— Ela quer a guarda das crianças. — Ele fala, passando a mão nos cabelos.
Pelo que venho observando em Caio, ele só faz isso quando está nervoso.
Meu Deus, que mulher insuportável. Será que ela não sabe simplesmente seguir sua vida? Afinal, nossas vidas andavam bem sem a presença dela.
— Quais são as chances disso acontecer? — Pergunto, pensativa.
— São bem poucas, pois ela abandonou as crianças. Mas se ela tiver uma boa prova de que foi embora porque era realmente necessário, aí sim as chances aumentam. — O encaro, sem saber como lidar com isso.
Estou preocupada, e não quero que as crianças vão morar com ela.
Pelo que sei, ela era muito ruim com as crianças, e quem mais sofreu em suas mãos foi o Kauan.
Talvez, se usarmos isso contra ela no tribunal, tenhamos mais pontos.
— O que iremos fazer? — O encaro, me sentindo desesperada com essa notícia.
Desde que essa mulher voltou, é só notícia ruim.
Credo.
Se eu fosse ela, pulava de uma ponte. Quem sabe assim nos livrava de suas más notícias.
— Eu não sei... — Ele coça a barba, nervoso. — Só te contei porque precisava conversar com alguém. Isso tudo está me deixando desesperado. Não estou conseguindo pôr tudo na balança... a volta da Michelle, as crianças, a empresa, você... tudo, Ariana. Estou me sentindo um inútil por não conseguir resolver isso.
Respiro fundo, levanto e caminho até ele, abraçando-o.
— Olha, se acalma, tá? Vai ficar tudo bem. É só ter calma e fé. Eu estou aqui com você, para o que precisar.
---❄️❄️❄️---
— Quer dizer que você tem uma irmã? — Meu pai pergunta, e eu assinto.
— Não sei muito. Só que se chama Michelle Azevedo Muniz, tem 28 anos... ah, e tem três filhos — os quais ela abandonou, igual à covarde da minha mãe.
— Não sabia que Angela era casada e que tinha uma filha. Sabe que eu nunca ficaria com mulheres comprometidas? — Assinto. — Você tem 25, então não há muitos anos de diferença. São só quatro anos. Ela era praticamente um bebê quando você nasceu.
— Viu? Ela traiu o marido enquanto eles tinham uma filha pequena. Que falta de caráter e vergonha na cara. E o pior: ela escondeu a gravidez por nove meses. E foi quando voltou que me entregou ao senhor. — Falo, indignada.
— A Angela sempre pareceu uma mulher ambiciosa, que gostava de luxo. Juro que por um momento achei que ela gostava de mim. E se isso fosse verdade, ela nunca ficaria comigo de qualquer jeito, afinal, tenho pouco a oferecer. — O encaro, triste. — Mas eu tenho certeza de que ela gostava de você. Talvez a ambição dela fosse maior... mas eu vi nos olhos dela, quando entregou você em meus braços, que ela aparentava estar muito triste.
— Pai, eu não tô sabendo lidar com tudo isso. — Coloco minha cabeça em seu colo.
— Calma, meu amor, vai ficar tudo bem. — Ele acaricia meu cabelo.
Depois de muita insistência, Caio deixou meu pai vir me visitar. Então Fred o trouxe até aqui.
Fred ficou na sala, sentado no sofá.
Enquanto isso, eu e meu pai conversamos em meu quarto.
Caio está na empresa, a essa hora da tarde.
Kauan está no treino de basquete.
Kaik, na biblioteca.
E Kelly, na sua aula de balé.
Então, meu pai pôde vir me visitar de boa, e também para conversarmos com mais calma sobre tudo isso que está acontecendo. Afinal, meu pai também está metido nisso tudo, de certo modo.
— Eu não entendo... — Me sento na cama, bruscamente. — Por que eu vim parar justo nessa casa? Por que ela voltou? Por que estamos nos encontrando depois de anos? Agora eu sei que tenho uma irmã. Teria adorado essa notícia há alguns anos, mas hoje não, pai. Hoje, eu tenho ódio. E me sinto mal por isso. Eu odeio aquela mulher.
— Filha, calma...
— Não, pai. Eu não vou me acalmar. Eu nem sei por que a odeio. Talvez porque ela teve tudo que eu sempre quis ter. E não se trata de dinheiro, porque eu acho que, lá no fundo, é tudo o que ela quer. Ela teve uma mãe. Uma mãe que a apoiou em todos os momentos. Uma mãe que ia nas reuniões da escola, que ia às suas aulas de balé. Uma mãe que esteve com ela enquanto ela aprendia a andar de bicicleta. Uma mãe que esteve com ela na sua primeira menstruação. Uma mãe que brigou com ela por chegar tarde em casa e que lhe deu conselhos para a vida... — Deixo as lágrimas caírem. — Talvez a dona Angela a tenha ensinado a andar de patins. Mas eu não sinto falta dela, pai. — Enxugo minhas lágrimas e vejo os olhos do meu pai marejados. — Sabe por quê? Porque eu tive o senhor. O senhor me ensinou tudo, me apoiou, brigou, me deu conselhos pra vida. O senhor, papai, foi minha mãe e meu pai ao mesmo tempo. E posso dizer que, diferente dela, o senhor fez um bom trabalho... — Abraço meu pai, que retribui o abraço.
— Eu te amo, filha. — Ele me abraça forte.
— Também te amo muito, papai.
Se tem uma coisa que eu tenho certeza, é que eu não me pareço em nada com minha mãe.
Nem fisicamente, nem de personalidade.
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.Continua...

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Babá vida Loka
Ficción GeneralAriana nem sempre teve uma vida fácil , mas entre lutas e desafios conseguiu um diploma , graças ao seu pai que sempre esteve ao seu lado quando sua mãe a abandonou . em busca de sua própria independência ela resolve sair da casa de seu pai , mais a...