A tal da introdução

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     Melissa Montenegro chegou na escola desfilando. Seus cabelos loiros e ondulados estavam soltos, o que chamou a atenção de vários rapazes na entrada da escola. Alguns assobiaram e cochicharam entre si, mas um olhar frio da jovem foi o suficiente para boa parte se calar.

     Melissa era rica. Até mais que seus amigos burgueses na escola de burguês em que estudava. Entretanto, o baixo custo de vida da cidade fazia um favor a esses jovens. De patrimônio líquido realmente elevado eram poucos no I.F.M. (Instituto Fritz Müller). Melissa, por sua vez, devido a sua grana, era bastante respeitada pelos alunos e até funcionários do colégio.

     Ela se encontrou com José Carlos da Silva, seu namorado. Era um rapaz bem padrão: um jogador de futebol branco, filho de um delegado e de uma médica de clínica. Melissa gostaria de torná-lo mais "único" e, por único, ela quer dizer semelhante àqueles tiktokers gringos famosos. José se recusou a dar um tapa no visual. Em sua visão, todos aqueles rapazes eram gays tirando a camisa para adolescentes a fim de ganhar dinheiro. Ele estava certo, embora a maioria desses tiktokers fossem heterossexuais e os mais infames genuinamente queriam seduzir garotas menores de idade. Ele estava parcialmente certo.

     -- Bom dia, amor! -- Melissa beijou José nos lábios de maneira casta -- Chegou cedo só pra me ver?

     -- Quis te fazer uma surpresa, princesa -- o rapaz tomou a cintura da namorada.

     Assim, ambos caminharam para dentro da escola. Muitos alunos os observavam: as meninas queriam pegar José e os meninos queriam pegar Melissa. Além deles, adolescentes que curtiam o mesmo sexo tinham seus favoritos, logicamente. Esses eram mais discretos, uma vez que julgamentos não eram incomuns na instituição de ensino.

     Falando em julgamentos homofóbicos, chegou na escola a lésbica mais delinquente já vista: Júlia fucking Watanabe. Sua maquiagem gótica e bastante carregada chamava bastante atenção e provavelmente quebrava algumas regras da escola. A garota morava no Norte do Brasil e, ainda assim, todas as suas peças de roupa fora a camiseta do uniforme eram pretas. Ninguém ficaria surpreso se ela brotasse no colégio sem o uniforme e com uma tatuagem no braço. Julinha era do balacobaco e seu cabelo era preto com uma mecha vermelha, tipo as asiáticas de filmes adolescentes.

     Vários comentários eram presentes no momento. Uns estavam indignados com a plena existência homossexual de Júlia. Outros, em sua total sensatez, afastavam-se dela por conta da personalidade forte da guria. Digamos que o título de delinquente era bastante adequado. Júlia parou de causar brigas físicas na escola -- caso contrário ela seria expulsa -- mas continuava a aprontar, sendo uma aluna bastante intimidadora. Teve até passagem na polícia no ano passado por pichar um muro. Mesmo se não fosse a personificação do caos, ela continuaria se isolando com seu jeito explosivo.

     -- Caralho, Júlia! -- berrou José Carlos -- Tá indo pra um funeral?

     Sabe aquele garoto da escola que se acha o engraçadão? José Carlos era assim. O pior de tudo é que a maioria achava ele engraçado. Portanto, uma porção generosa dos alunos riu. Até Melissa riu, porém de modo mais contido. Ela era uma lady, afinal.

     Júlia simplesmente ergueu ambos os dedos do meio para todos no local, o que causou ainda mais risadas. Entretanto, Melissa sentiu o olhar da garota recair sobre os seus olhos. A patricinha preferiu desviar o olhar, observando seu namorado, que continuava a debochar de Júlia.

     ...

     Na sala de aula, Melissa conversava com suas amigas. O típico grupinho de meninas populares, com a patricinha em menor escala (Nina) e a burrinha (Clara). Conversavam sobre suas viagens a cantos distantes:

     -- Minha viagem à Califórnia foi um arraso! -- comentou Nina -- Fiquei em um hotel sensacional e até fui pra Disney!

     -- Tem Disney na Califórnia? -- perguntou Clara.

     -- Tem Disney em todo o lugar, Clara.

     -- Bem, eu fui pra Tóquio -- gabou-se Melissa.

     -- O que você fez lá? -- Clara questionou.

     -- Também tinha uma Disney lá.

     -- Meu Deus! -- exclamou Clara -- Por que que eles constroem um monte de parques em todo o lugar?

     -- Porque dá muito dinheiro...?

     -- Eles já não têm muito dinheiro? Os donos da Disney?

     -- Sim, mas eles continuam ganhando muito dinheiro para ficar com muito dinheiro -- explicou Nina, um pouco impaciente. Mas foi a explicação suficiente para Clara.

     Enquanto as meninas papeavam nas carteiras mais ao meio da sala, Júlia sentava-se no fundo da sala, junto dos rapazes bagunceiros. Todavia, ela não conversava com eles. Ficavam zoando-a e seus gostos não eram compatíveis. Portanto, em seu próprio mundinho, Júlia escutava death metal em seus fones de ouvido enquanto lia algum livro antigo em PDF no celular.

     Contudo, um rosto desconhecido surgiu pela porta de vidro da sala de aula. A maioria dos alunos olhou de relance e não deu a mínima, porém a atenção tanto de Melissa quanto de Júlia foram capturadas pela moça que entrou.

Mais Um Triângulo Amoroso Idiota (SAPPHIC EDITION!!!!!!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora