Aula de Matemática (e a Verdade sobre Rafael)

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     Seguiram-se duas aulas de história. O professor era legal, o que Pat logo descobriu. Entretanto, Júlia não deu meia foda para a aula do homem, prestando atenção apenas na novata.

     Quem lê, deve achar tudo um absurdo. De acordo com a descrição prévia, vocês devem ter achado que Pat se parecia com um cão chupando manga. Todavia, precisa-se comentar que um cão chupando manga não é tão feio assim. Essa era a visão de Júlia Watanabe sobre a menina. Querendo ou não, a jovem curtia pagar de diferentona. O que seria mais diferentão do que se interessar por uma garota não-convencionalmente atraente, cujo rosto parece nunca ter sido cuidado direito? Júlia fechou a prova de "not like the other girls" naquele instante.

     Melissa, por sua vez, não sabia o que fazer. Vez ou outra ela conversava com as amigas, papeava com o namorado ou deslizava os dedos pela tela do celular enquanto mexia no TikTok. Entretanto, independente do quanto tentasse desfocar sua atenção de Pat, ela não conseguia.

     A patricinha não sabia explicar o que estava acontecendo. Era uma espécie de obsessão bizonha que invadira sua cabeça loira. Um poderia dizer que se tratava de atração, porém Melissa negaria até a morte. Ela não era lésbica ou coisa assim. Estava incrivelmente bem com seu namorado bem-apessoado, de aparência convencionalmente agradável e com traços demasiadamente másculos. Sim! Era disso que Melissa gostava! Masculinidade! Homens de braços fortes! Homens que se se sentavam de modo desleixado na cadeira! Homens de cabelo curto, cabelo de macho! Homens com pelo facial!

     O problema é que Pat possuía esses exatos traços em sua aparência. Pensar em características andro-típicas -- termo inventado por mim que significa "tradicionalmente masculinas" -- atravessou a culatra como uma ogiva nuclear.

     De qualquer forma, Pat estava totalmente alheia aos interesses de suas colegas. Prestou atenção nas aulas do professor -- uma vez que era apaixonada pela matéria -- vez ou outra trocando uma ideia com Rafael Sanzio.

     Rafa era um rapaz legal. Curtia videogames e coisas assim. Pat gostou dele -- como amiga -- e, visivelmente, ele também -- como amigo. Todavia, ela só não entendia a zoação em volta do garoto. A razão de alguns rapazes chamarem-no de "Punheta" era desconhecida para a menina. Isto é, um estereótipo comum dos gamers é que eles vivem em seu quarto sujo, masturbando-se e reclamando de minorias em seus jogos. Mas Rafael não parecia ser assim -- e não era assim. Na verdade, as circunstâncias por trás do apelido eram muito mais vergonhosas que a probabilidade dele ser um incel.

     Assim que Seu Álvaro saiu, o coração de Rafa poderia ter parado. Pat notou a agitação do colega e indagou:

     -- 'Cê tá bem?

     Rafael preferiu ficar quieto. As aulas haviam começado há uma semana atrás, contudo Pat viajara naqueles dias. Havia algo que ela não sabia, diferente de, provavelmente, o resto da turma toda. Os rapazes e até algumas meninas não se conteram ao notar o nervosismo de Rafa e soltaram algumas risadinhas.

     O professor finalmente entrou na sala. E, meus amigos, que homem.

     Ele era alto e dos ombros largos, seu torso estreitando-se levemente até a cintura, onde sua medidas se estabilizaram. Sua barba era bem aparada, combinando com os cabelos curtos e ondulados, marrons como chocolate. Seus olhos amarelados eram penetrantes, especialmente protegidos pelos óculos cuja armação era delicada demais para os óculos de um cara cuja idade talvez ultrapassasse os 30 anos.

     Rafael enrusbeceu sua face e engoliu em seco ao perceber as risadas dos colegas a seu redor. Sua vontade era de enterrar a si mesmo vivo, esperado até seus pulmões desistirem e ele definhar coberto de terra e vermes do interior da litosfera. Ele só não podia fazer isso pois perderia a chance de estar na presença de um homão da porra daqueles.

     O professor prontamente corrigiu os alunos risonhos, sua voz grave e sua carranca sendo suficientes:

     -- Silêncio, vamos começar a aula.

     O escárnio não cessou. Aumentou, até, porém de modo mais contido para não chamar muito a atenção do professor. Alguns até iam mais longe, atingindo as mesas das carteiras com a pélvis só pelo meme. A frustração de Rafa era notável.

     -- Vamos começar a aula -- suspirou o professor -- Vejo que temos uma aluna nova.

     Pat virou sua atenção ao homem quando foi mencionada. Estava tão focada nas risadas e enojada pelos gestos dos garotos que sentiu um sobressalto notável ao se referirem a ela.

     -- Meu nome é Patrícia, professor...
   
     -- Ulisses -- revelou seu nome -- Seja bem-vinda -- voltou-se à lousa, começando a redigir o assunto da aula.

     Impressionada com a franqueza e frieza do homem, Pat se resguardou. No entanto, continuou a notar a zombaria ao redor de Rafael.

     -- Por que 'tão fazendo isso contigo? -- sussurrou ao coitado.

     Rafa preferiu não responder, enterrando o rosto na carteira, acanhado.

     -- Pegaram ele batendo uma pro Ulisses! -- segurando a gargalhada, contou um garoto próximo.

     Virando a cabeça lentamente, a jovem fitou Rafael com os olhos arregalados. Um olhar aterrorizado unido a um sorriso sem dentes desconfortável que surgiu do nada. Então essa era a razão pela qual apelidaram o rapaz de "Punheta"...

     -- Foi semana passada -- o elemento que, por sinal, vestia-se como mandrake, continuou -- Pegaram ele no banheiro, metendo o pau num rolo de papelão. Sabe, daqueles em que enrola o papel higiênico, mas não tinha papel higiênico -- começou a rir -- E o maluco ficava gemendo o nome do professor, parecia uma cachorra no cio!

     A carinha de Rafael era de dar dó: olhos chorosos, contudo sem lágrimas; lábios apertados para conter a vontade de berrar um extremo absurdo a plenos pulmões só para ser expulso da escola; rosto vermelho como um pimentão. Ele contemplou a janela. A sala de aula ficava no segundo andar. Tal fato apenas motivava ainda mais nosso pobre "Armadilha de Urso".

     Falando de Pat, primeiramente: ela não precisava saber dos detalhes de como prosseguira aquela bronha. Segundamente, embora o sentimento de que aquela não havia sido a única vez em que Rafa masturbara-se na escola estivesse presente, ela foi incapaz de não sentir pena do carinha. Erros acontecem e o motivo por e o local onde Rafael enfiava o cacete não dizia respeito a ninguém a não ser ele mesmo. O rapaz não nerecia toda essa zombaria para cima dele -- mesmo que Patrícia concordasse que fosse um fato engraçado para dedéu e que se masturbar na escola era uma ação deveras imprudente.

     Todavia, eles não tinham tempo de refeltir sobre a situação. A aula de Matemática estava rolando e Pat tinha problemas de atenção, especialmente em Exatas. A ideia de Rafael macetando um rolo de papel higiênico a assombrava e a divertia, porém era mais recomendado que ela prestasse atenção na aula para não perder assunto e ter dificuldades para fazer a inevitável lição de casa.

Mais Um Triângulo Amoroso Idiota (SAPPHIC EDITION!!!!!!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora