Finalmente Esse Grupo Serviu Para Algo Útil

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Projeto de Simbolismo (Artes)

Patrícia: Então, meninas
Patrícia: Quando acham bom fazermos o trabalho?
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     Patrícia digitou em seu celular, sentada na cama. Tinha acabado de tomar banho após voltar da academia. Naquele momento, só não fazia nada, já vestida com uma roupa fresquinha e uma toalha na cabeça.

     Embora Brigitte houvesse passado aquele trabalho há menos de uma semana, Pat queria tudo logo claro. Detestava deixar as coisas para última hora, especialmente se não conhecesse direito seus colegas de equipe. O máximo que conhecia das meninas era que Júlia queria muito beijá-la e que Melissa... não sabia muito sobre Melissa. Sabia apenas que ela andava com um bando de arrombado.

     Diante disso, Patrícia foi para a sala de estar. Sentou-se no sofá e decidiu assistir a algo. "Forrest Gump", ótimo filme. Um dos favoritos da autora, também. A garota assistiria ao filme enquanto esperava por uma resposta das colegas.

     -- O que está assistindo, filha? -- perguntou Olívia, mãe de Patrícia. Saira do quarto há pouquíssimos segundos.

     -- "Forrest Gump" -- respondeu -- Inclusive, já mandei mensagem pras meninas pra decidirmos o lugar e o dia do trabalho.

     -- É pra quando mesmo esse trabalho? -- a mulher adulta fez outra pergunta.

     -- Quinta-feira depois do Carnaval. Mas já quero deixar tudo organizado. Como é tipo uma pintura que a gente vai fazer,  acho bom a gente se organizar logo. Até porque a gente provavelmente vai ter que se encontrar em algum lugar, então...

     -- São quantas meninas?

     -- Só duas.

     -- Duas? Então por que você não oferece a casa pra fazerem trabalho aqui? -- sugeriu Olívia.

     -- Tem certeza?

     -- Claro, não é muita gente -- deu de ombros.

     -- Se você diz... -- Patrícia repetiu a ação da mãe.

     Olívia não permaneceu por muito tempo na sala de estar. Pegou um copo, abriu a geladeira e serviu-se de água.

     -- Vai querer água, filha?

     -- Sim, mãe. Traz aqui, por favor.

     Assim fez a mulher. Serviu água na caneca da filha e entregou o objeto a esta. Patrícia agradeceu e deu uma golada, depois pegou o celular de novo para fazer a oferta.
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Patrícia: Eu posso oferecer minha casa, se vcs quiserem
Júlia: opa pode ser
Melissa: durante a semana, não vai dar
Melissa: tenho pilates às segundas, quartas e sextas
Melissa: enquanto tenho francês às terças e quintas
Júlia: ih deu de falar enfiando o dedo no rabo agora
Melissa: pelo menos, sei falar português direito
Patrícia: Sem confusão no grupo
Patrícia: Podemos fazer sábado
Patrícia: Vou comprar tintas e uma tela
Júlia: blz
Melissa: pode ser
Júlia: agora tchau
Júlia: minha mãe tá enchendo o saco pra mim ajudar ela
Júlia: bjos pat 😘😘😘😘
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     Júlia sorria enquanto digitava os emojis de beijinho para Patrícia. O grupo poderia até ser acessível para três pessoas -- o que incluía a palhaça que era Melissa -- porém seu foco estava todo em Pat. De qualquer forma, referido foco fora desviado do momento em que escutou a voz áspera da mãe:

     -- Júlia! -- berrou Yuna, lá do banheiro, do outro lado da casa -- Vem logo! E traz o cloro que eu esqueci!

     A garota nem respondeu. Saiu do quarto escuro -- sua mãe pintara as paredes de preto, mesmo com o conhecimento de que era muito mais difícil detectar um bicho em uma superfície de cor escura -- em direção à cozinha, onde pegou o cloro ativo. Levou a embalagem branca até o banheiro, onde sua mãe se agachava para limpar o vaso sanitário.

     Impressionante como limpar um cômodo é uma verdadeira caixinha de surpresas. Aparentemente, os azulejos esverdeados estavam limpinhos. Entretanto, o lamaçal de poeira no canto do banheiro, bem próximo ao ralo, arrebentava a ilusão. Pobre Yuna Watanabe, que teve de limpar todas aquelas paredes e chão sozinha pois sua filha estava vagabundeando -- Júlia foi falar com suas colegas só ao fim da tarde. Anteriormente, fazia alguma outra coisa, desde mexer no TikTok até ler algum conto policial. Se estivesse estudando, pelo menos, eu poderia defendê-la. Só um pouquinho.

     -- Por que você não responde quando eu chamo? -- a mulher adulta questionou com as mãos ensaboadas com mais produtos quimicos que um laboratório de clonagem sobre os joelhos.

     -- Não achei que precisasse -- Júlia se ajoelhou sobre a superfície escorregadia -- Além disso, eu tava ocupada.

     -- Que seja -- entregou um esponja à filha -- Agora me ajuda aí, vai.

     Ainda que a jovem resmungasse, auxiliou a mãe. As duas lavaram o banheiro até a noite. Sem luvas, pois lavar o banheiro com luvas é coisa de tchola -- sem querer, óbvio, ofender os tcholas que lavam o banheiro sem luvas.

     ...

     Voltando ao momento em que a conversa no grupo do Whatsapp finalizara-se, Melissa revirou os olhos com toda a melosidade de Júlia. Todavia, não pôde deixar de imaginar a reação de Patrícia. Será que ela gostou do carinho? Será que retornava o apreço da colega?

     Ciúmes de crush foi o que corrompeu o homem, não a sociedade, Rousseau. Pelo visto também corrompeu a mulher. Melissa tentou afastar os pensamentos relacionados às outras meninas. Ela tinha namorado e não tinha nada que se envolver em papos sáficos. Afinal, sua "atração" por Patrícia era apenas confusão, certo?

     De qualquer jeito, ela saiu do banheiro da instituição onde aprendia francês. Embora fosse fim de tarde, o curso que Samantha escolhera para a filha era bem extenso. Às vezes, a adolescente se perguntava se sua mãe queria se livrar dela pelo máximo de tempo possível. Caso fosse tão sortuda nesse quesito quanto no baralho, não seria o caso.

     Melissa foi até sua sala de aula, sendo recebida por uma professora rabugenta. Isabelle Bittencourt era um estereótipo do francês fresco. Apesar disso, compartilhava um traço comumente associado a sua nação rival: a pontualidade. Também era obcecada por tal qualidade.

     -- Atrasou-se, Srta. Montenegro -- a mulher devia achar que estava em um filme estrangeiro. Que brasileiro chama o outro pelo sobrenome?

     -- Estava no banheiro, sinto muito -- Melissa dirigiu-se à cadeira onde sentava.

     A aula seguiu por mais uns bons tantos de minutos. Como sempre, um saco. Melissa nem lembrava por que queria tanto estudar francês. Infelizmente, sua mãe não trancaria o curso nem ferrando. Será que eram esses os perrengues da riqueza?

Mais Um Triângulo Amoroso Idiota (SAPPHIC EDITION!!!!!!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora