Mais aulas se passaram até o fim do dia letivo. Considerando a maluquice presenciada por Pat inicialmente, até que a manhã prosseguiu normalmente.
A última aula foi de Biologia. Assim que a professora saiu de sala, os alunos a seguiram, como de costume. Patrícia e Rafael andavam lado a lado, a dissertar por voz.
-- Foi um momento de fraqueza -- suspirando, confessou Rafa sobre a questão da bronha no banheiro.
-- Relaxa -- Pat pôs a mão no ombro do colega -- É só tu não fazer isso de novo.
-- Mudando de assunto, quer carona?
Patrícia distanciou-se um pouco. Os papos trocados entre os adolescentes ainda não era suficiente para aceitar caronas entre si.
-- Relaxa, meu pai vai me levar pra casa -- Pat esboçou um pequeno sorriso.
-- Beleza, então -- Rafa deu de ombros -- Até mais -- despediu-se, caminhando para fora da escola. Ele voltaria para casa à pé. Mais uma razão para Patrícia recusar a "carona", visto que o rapaz provavelmente teria de se desviar de sua rota original.
Esperando por seu pai, Pat se sentou em um dos bancos da frente da escola, solitária, e passou a mexer no celular. No entanto, seu aparelho não era o único elemento do cenário observado.
Longe por poucos metros, Melissa conversava com suas amigas. Entretanto, seu foco não parecia se direcionar a seu círculo usual de amizades.
-- Puxa vida, Nina! Nunca me canso de escutar sobre sua viagem pra Califórnia! -- exclamava Clara, interessada nos contos de sua amiga dos longos cabelos castanhos.
-- Compreensível, querida. Compreensível -- Nina exibiu os dentes alvos com orgulho. Ela passara boa parte da manhã se gabando, diga-se de passagem.
-- E você, Mel? Não falou quase nada sobre sua viagem pra Tóquio.
-- Hum, não falei, não? -- o desinteresse de Melissa era notável. Seus olhos prestavam atenção nas amigas só durante os diálogos. Quando quieta, seu olhar se atraía para Patrícia.
-- Nadica de nada. Aliás, você parece bastante ligada nessa menina -- Nina apontou discretamente para a novata -- Lembra que você tem namorado.
O sangue subiu às bochechas de Melissa. Seu rosto se transformou logo em uma carranca, rubra como um tomate. Tal expressão cômica arrancou risadas contidas de suas amigas.
-- Deixa de ser ridícula, Nina! -- defendeu-se -- Eu só gosto de homem! E, mesmo se eu gostasse de mulher, nunca que ia ser uma dessas! -- com escárnio, seus lábios se curvaram -- Essa Patrícia é claramente sapatão! Nem pra tentar disfarçar...
Melissa era uma péssima mentirosa. Embora sua voz implicasse em negar seu interesse, o tom vermelho de sua face entregava seus sentimentos, ainda que ela não entendesse do que se tratavam. Com sorte, Nina não perceberia como seus olhos cintilavam curiosos ao ver Patrícia -- Melissa estava certa de que Clara não sabia ler expressões. E com razão.
-- Se tu dizes... -- o sorriso de Nina era menos que conformado. Ela não era nem um pouco besta.
Clara não poderia estar menos aí para toda a situação. Queria somente ouvir sobre a viagem da loira. Contudo, a chegada de seu pai na moto vermelha cortou seu barato inexistente. Acenou com melancolia para as amigas ao se afastar, mesmo sabendo que retornaria no dia seguinte.
Não muito diferente da ruiva, Nina foi obrigada a se retirar da escola. Todavia, embora abandonasse Melissa, o sorriso ladino em seu rosto pálido não se esvaiu em momento algum.
Sem mais o que fazer, Melissa se sentou. José Carlos já saira da instituição faz tempo. Sua mãe claramente demoraria para chegar. A jovem suspirou, seus olhos procurando por Pat. No caso, a novata se dirigia para fora da escola, entrando no carro pertencente a sua própria família.
-- Linda, né?
Melissa virou a face a noroeste, sobressaltada. Júlia fitava-a de cima, uma vez que sua estatura elevada era ainda mais acentuada pelas respectivas posições de ambas.
-- Fique à vontade. Deve ser sapatona que nem você -- Melissa repousou o queixo no próprio punho, tentando disfarçar seus atos anteriores.
-- Melissa... -- o sorriso de Júlia ganhou um toque ameaçador -- não acho que você possa falar essas coisas.
-- O que vai fazer, me bater? -- Melissa ergueu uma sobrancelha.
Júlia bufou. Lembrou-se da ameaça do diretor em relação a seu comportamento.
-- Relaxa, mana. Eu não ia te bater -- Júlia cruzou os braços -- Só ia te dar uma bronca pra você não ficar se apropriando de certos termos -- sentou-se ao lado de Melissa, que se distanciou com firmeza -- Ficou com medo, foi?
Lembranças chegaram à mente da loira. Um punho enluvado atingindo seu nariz. Uma joelhada no estômago. Seu arrepio notável deu espaço ao rosto de incredulidade atual. A sagacidade no olhar de Júlia deu a entender que a gótica manjou do que a outra garota pensava.
-- Ei, sem ressentimentos! -- deu um soco brincalhão no ombro da patricinha -- Faz tempo isso.
-- Não faz nem um mês -- Melissa retrucou, protegendo o próprio braço -- Mas pode ficar tranquila. Não quero nada com sua... namoradinha.
-- Acho bom mesmo -- a piscadela em seguida escureceu o tom da sentença. Pior ainda quando Júlia se levantou e saiu da escola sem dizer uma única palavra.
Melissa encostou as costas na parede. Tudo estava muito confuso. Sua atenção em relação a Pat era incomum. Ela não queria pensar nisso. Tinha namorado e gostava de homens. Se tentasse reprimir suas reações à plena existência de Patrícia, talvez os pensamentos divergentes do mundo real cessassem. Portanto, começou a encarar o portão da escola, esperando por sua mãe -- isto é, se a mulher não tivesse esquecido de buscá-la novamente.
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Mais Um Triângulo Amoroso Idiota (SAPPHIC EDITION!!!!!!!)
RomanceMelissa Montenegro e Júlia Watanabe são bastante diferentes: uma é uma patricinha, filhinha de mamãe e arrogante; enquanto a outra é uma gótica que vive se encrencando com qualquer ser vivo que a incomode. Por conta dos interesses distintos, elas se...