Friendzone

Depressiva

A porta estava entre aberta quando subi pra falar com o Oliver sobre a festa, eu vi os dois... vi quando ele tocou o corpo dela e vi quando a beijou daquele jeito... eu senti coisas que não deveria ter sentido, desejei que fosse eu no lugar dela e quando ele tocou os seios dela eu comecei a sentir raiva.

O que Trevor fez comigo me afetou mais do que deveria, esses pensamentos estranhos com certeza são resultado dos traumas, Oliver é meu irmãozinho e eu só estou com raiva porque estou vendo ele crescer e se tornar um homem, nada além disso.

— Pode me explicar porque o diretor da sua escola está me chamando pra ir lá amanhã?

— Aconteceu uma situação ruim... com um garoto..

— Situação ruim? Porque não diz claramente Mia?! ele me contou do vídeo.

— Mãe o vídeo não é a questão ele... me agrediu.. me machucou.

— Ah é? Então porque não me contou?! Eu não tenho tempo e muito menos vontade de ficar indo na sua escola pra resolver os seus problemas Mia.

— Eu queria contar mas você nunca me escuta.

— Eu vou dizer apenas uma vez, eu não me importo com quem você está transando contanto que não traga problemas pra mim. É a primeira e a última vez que eu vou resolver suas confusões está claro?!

Ela nem ao menos se importou por eu ter sido agredida, nem ao menos me perguntou se eu estava bem, ela só se importa com ela mesma.

Subi para o meu quarto em um estado que a muito tempo eu não ficava, não conseguia parar de chorar e não queria ver ninguém eu estava destruída. Tudo que aconteceu começou a voltar na minha mente me fazendo afundar na cama pra tentar esquecer.

Abri a gaveta de remédios e tirei apenas um para tentar dormir um pouco, fazia muito tempo que não precisava das pílulas mas hoje eu não conseguiria dormir sem elas.

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Eu estava suada e ainda sonolenta quando senti alguém me balançar e logo aquela voz que eu conhecia bem surgiu no escuro do quarto me dizendo pra acordar.

— Oli? Porque está aqui?

— Ah que bom...você tá consciente graças à Deus...

— Que foi? O que aconteceu?

Ele foi até a janela e abriu a cortina deixando que a luz do final da tarde invadisse o quarto, meus olhos ainda estavam sensíveis e isso doeu, eu tinha acabado de dormir porque ele estava me acordando?

— Estou te ligando desde ontem.

— Ontem? O que? Eu acabei de sair da sua casa do que está falando?

— Não Mia, ontem você saiu da minha casa. Você está dormindo desde ontem, eu fiquei preocupado porque você disse que queria ir na festa hoje mas não atendeu o telefone.

Eu tinha perdido completamente a noção do tempo, estava dormindo a quase dois dias. Eu estou tremendo por causa do remédio e ainda estou com sono, Oliver está olhando pra mim parecendo irritado ele já notou meu estado.

— Você tomou remédio outra vez?

— Foi só um... eu precisava dormir..

— Eu não acredito.. você lembra o que houve da última vez Mia?! Quer voltar pro hospital?! Porra você quase me matou de susto!

Ele tinha total razão pra estar com raiva, da última vez eu tomei vários comprimidos e entrei em um coma de uma semana, ele ficou no hospital todos os dias até eu acordar e ele ainda tem traumas de hospitais por minha culpa.

Eu acabei de decepcionar ele, prometi aquele dia que nunca mais faria isso. Não conseguia olhar pra ele agora sem chorar, ele estava magoado comigo.

— Me desculpa.. eu juro que não vou fazer mais.

Eu não podia controlar meu choro, meu corpo estava tremendo eu estava mais sensível que nunca, e eu só conseguia pensar que não queria ter decepcionado ele.
Oliver sentou na cama me abraçando com calma e paciência esperando eu me acalmar, ele parecia ser de outro mundo era só me tocar que tudo ficava melhor.

— Não precisa chorar, está tudo bem.

— Eu decepcionei você me desculpa.

— A questão aqui não sou eu Mia, você não deve tomar esses remédios porque te fazem mal olha pra você está tremendo, suada, depressiva.. eu sei que esta sendo difícil tudo o que tem passado mas é só uma fase, as coisas vão melhorar eu prometo.

— Promete?

— Confia em mim, quando você for pra faculdade tudo vai ficar melhor.

— Você não vai estar lá... você vai pra faculdade de medicina do outro lado do mundo e vai esquecer de mim.. vai ficar pior ainda.

— Eu jamais vou esquecer de você, vamos nos ver nas férias de três em três meses. Posso te ligar todos os dias, te mandar presentes... eu nunca vou te esquecer.

Ele disse com tanta firmeza que eu acredito mas isso não anula o fato de que vamos estar separados, não vamos mais dormir juntos, nem comer juntos, nem sair juntos... Oliver é meu melhor amigo faz quinze anos, tudo o que eu conheço e confio é sobre ele, ninguém será capaz de substituir o que somos um pro outro.

Ele me afastou de seu abraço secando minhas lágrimas e me dando um beijo na ponta do nariz como eu costumo fazer com ele. Eu já estava bem mais calma mas tenho certeza de que se ele se afastar todos os malditos pensamentos vão voltar.

— Ainda podemos ir na festa?

— Mia eu não acho uma boa ideia..

— Porfavor Oli, se eu ficar em casa tudo isso vai voltar.. eu não quero mais pensar..

Ele não queria ir mas eu precisava disso, ele sabe que eu não iria sem ele principalmente por que todos da escola estariam lá, mas eu preciso enfrentar essa situação não vou me esconder no quarto pra sempre e como ele mesmo disse as coisas vão ficar melhores é apenas uma fase.

— Tem certeza de que vai ficar bem lá?

— Prometo.

— Tá, eu vou pra casa me arrumar. Porfavor só não faz nenhuma besteira.

É indescritível o carinho que ele me trata, e o jeito que ele faz eu me sentir cuidada. É uma das muitas coisas que vou sentir falta quando for pra faculdade, Oliver não vai estar lá pra cuidar de mim e machuca só de pensar.

Todas essas situações me fizeram chegar a uma conclusão de que eu preciso começar a me despedir, tenho que fazer ele se enturmar com outras pessoas além de mim, Oliver é muito tímido e se continuar assim as coisas vão ser difíceis pra ele. Talvez isso seja a última coisa que vou poder fazer por ele e retribuir um pouco de tudo que ele já fez por mim.

Começando por hoje.