Entre a dor e o nada, o que você escolhe?

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Jungkook não era uma boa pessoa.

Bom, pelo menos achava que não.

No começo, ele até era gentil. Sua mãe sempre comentava que ele era a pessoa mais amorosa que já havia conhecido. Ele lhe ajudava com as compras, afazeres da casa, era educado e sempre estava disposto a tornar melhor o dia de alguém, não importava quem fosse. Nem mesmo seu irmão, Seojun, contrariava aquele fato. Era algo que até mesmo vizinhos da época chegavam a comentar, tamanha doçura que o garoto carregava consigo.

Era uma criança agitada, mas no sentido bom. Gostava de abraços, assim como gostava de dar e receber carinhos. Não havia nada que pudesse mudá-lo, nem mesmo seu pai com os comentários infelizes de sempre. Isso até, claro, o dia em que tudo tornou-se nublado. O dia em que seu mundo caiu por água abaixo, juntamente de seu coração. E então, Jungkook pôde reformular a frase anterior: não havia nada que pudesse mudá-lo, exceto aquele acidente.

Aos seus quinze anos de idade, Jungkook presenciou a pior dor que poderia sentir: a perda de sua mãe e de seu irmão mais velho em um acidente de carro. Tanto ele quanto os outros dois estavam dentro do automóvel no dia do acontecimento. Até mesmo seu pai estava ali, dirigindo o veículo. No entanto, seus ferimentos haviam sido leves: alguns arranhões pelo corpo e um roxo enorme no braço esquerdo. A pior parte havia sobrado aos três.

Sua mãe faleceu no local, restando esperança apenas para seu irmão e pai. Eram ferimentos graves, seria muito difícil sair daquela situação sem uma consequência. No entanto, para sua surpresa, a recuperação de seu pai aconteceu dentro de dois meses. Não houve sequelas, apenas algumas cicatrizes reparáveis espalhadas pelo corpo. Seojun não obteve da mesma sorte, falecendo uma semana após a internação.

Sem dúvidas, era muita coisa para se enfrentar em um curto período de tempo, principalmente naquela idade. Duas perdas significativas em um mesmo mês foi demais para Jungkook, que acabou-se por se fechar às pessoas ao seu redor, incluindo até mesmo seu pai, com quem ainda compartilhava a moradia.

Não queria mais sentir qualquer tipo de dor, muito menos lidar com perdas. E foi a partir daí que tudo começou. Porque ele não era o único. Seu pai também não queria mais sentir dor.

— Jungkook, eu arranjei um novo emprego — disse o mais velho ao chegar em casa, com a mesma expressão vazia de sempre — As coisas vão melhorar para nós. Poderemos quitar as dívidas do hospital e levar uma vida melhor.

O moreno suspirou, um pouco surpreso. A dívida que haviam ganhado com o hospital era altíssima.

— Que tipo de emprego? Algo relacionado à escola? — perguntou, parcialmente interessado.

Antes do acidente, Taemoo trabalhava como faxineiro em uma escola particular da cidade, sendo a mesma que Jungkook estudava. Não era um salário bom, mas era o que tinha na época. Sua mãe e Seojun também possuíam seus respectivos empregos, o que facilitava um pouco nas contas. Agora, sem a ajuda de ambos e somando com a dívida do hospital, as coisas haviam se tornado mais difíceis. Estavam passando por um aperto.

— Não, muito melhor. Vou conseguir pagar sua escola, você não vai precisar mais sair.

O moreno concordou, um pouco insatisfeito.

— Na verdade, acho que prefiro mudar de escola — revelou, sincero.

— Por quê? O ensino de lá é o melhor do país, você sabe disso. Não quero um filho burro andando por aí.

Jungkook suspirou, já acostumado com aquele tom mais ríspido do pai. Taemoo não era ruim, mas ele também não era um exemplo de pessoa com muitas qualidades. A maior, e talvez única, delas era que ele verdadeiramente amava sua esposa, Chungya. Não tinha dúvidas que a dor de perdê-la havia sido enorme para ele, talvez até mais do que Jungkook poderia imaginar. Afinal, Taemoo a amava tanto que, mesmo não querendo filhos, havia feito dois por ela. Unicamente porque ela queria.

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