Os segredos de Maria

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Não vou me deixar embrutecer
Eu acredito nos meus ideais
Podem até maltratar meu coração
Que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar

Um dia perfeito - Legião Urbana

...

Maria era uma pessoa, sem a menor sombra de dúvidas, muito envolta em polêmicas, mas talvez a maior delas era que sua mãe, Calyssa, não era do planeta Terra.
E Maria não descobriu isso da melhor maneira.
Tudo veio a tona no início de sua carreira, quando estava em uma missão perigosa, envolvendo um terrorista russo. O homem era maluco! Por algum motivo, arranjou uma rixa com o vice presidente da Macusa, e ameaçou jogar uma bomba no local. Um dia, o homem acabou conseguindo entrar na Macusa, e apesar da bomba não ter sido detonada, o poder de fogo que ele detinha era muito potente. O ataque terminou com o homem morto, o que gerou uma grande dor de cabeça para August depois... Mas o pior de tudo foi que muitas pessoas, incluindo civis que transitavam pela Macusa, acabaram gravemente feridas, incluindo August.
É claro que armas de fogo trouxas e coisas do tipo não são capazes de ferir bruxos de forma letal, mas isso depende... August foi atingido por uma granada, perfurou alguns órgãos e acabou sangrando muito.
Geralmente uma poção regeneradora resolve casos de perda sanguínea em alguns dias sem maiores problemas, mas August era alérgico ao principal ingrediente da poção.
Então Maria teve uma idéia:
_Podemos fazer uma transfusão, não é difícil, eu sei como faz, meu avô me falou sobre isso.
_Seu avô? - perguntou uma mulher alta, magra, de cabelos negros presos em um coque.
_Eu sei que ele não é médico, mas ele já passou por poucas e boas, sabe? Também, não tem nenhum juízo, meu avô... - disse ela se lamentando - apesar de ser um gênio. Mas o caso é que ele já fez transfusão de sangue uma vez em um colega cientista, em um dos vários apuros que ele passou.
_Mas você só sabe em teoria?
_Eileen, o que difere teoria e prática? Fica tranquila, confia.
_O que difere?? Maria...
Mas a ruiva interrompeu:
_Não se preocupe, vamos fazer tudo certo.
_Você pode... me doar... sangue...
A voz de August soou fraca e titubeante.
_August, ela não pode! - disse Eileen.
_Claro que pode...
_Sim, ele tem razão, meu sangue é "O" negativo, e sou bruxa... então tá tudo certo. Sabe, "O" negativo é considerado o tipo sanguíneo doador universal... Depois te explico.
A mulher de cabelos negros respirou fundo.
_August, precisamos conversar. A sós!
_Eileen, o que é isso agora? Vai ficar de segredinho comigo, é? O que você tem pra falar com August NESSE momento, que eu não posso ouvir?
_Ela pode ouvir... Ela tem que saber.
_August, você não sabe o que está falando, precisa descansar. - repreendeu a mulher.
_Eu sei muito bem, Eileen, eu não bati com a cabeça. Maria...
_Sim...
_Você é... Você é minha... minha filha.
Maria não soube exatamente o que sentiu naquele momento, mas achou que August estava, de fato, delirando.
_August, não fale bobagens. - repreendeu Eileen, mais uma vez.
_August, o que... o que está dizendo? - disse a ruiva, com voz fraca
_Sua mãe... Sabe que eu a conheci, eu estudei na mesma época que ela e Sérgio. Nós... nós tivemos um romance antes dela se envolver com seu pai.
Maria agora estava perplexa, pálida, seu coração gelara. As poucas palavras de August faziam muito sentido. Ela se lembrava de seu pai contar as histórias de sua juventude.
"Eu quase perdi sua mãe para outro rapaz... Quando ela chegou eu estava paquerando outra moça também... Mas fazer o quê? Eu era mais charmoso e conquistador, então ela me escolheu."
Sérgio a contara que Calyssa havia se envolvido com outro rapaz, mas nunca havia mencionado nomes.
Agora tudo fazia sentido.
_Isso não... - mas ela não conseguiu terminar. Começou a ter uma crise de ansiedade. Sentou-se com a mão no peito, antes que desmaiasse.
_Pelo amor de Deus, August! Nem à beira da morte você me ouve! - enervou-se Eileen.
_Isso não é possível... Não é possível.
_Acalme-se Maria. Já que você começou essa presepada, August, na pior hora possível, eu serei obrigada a falar... Você não sabe! Nunca quis fazer o teste de DNA. E sinceramente eu duvido que você seja mesmo pai dela, eu já falei isso pra você!
_Baseado em quê, minha cara? Calyssa me disse...
_Calyssa mentiu.
_Ela não pode mentir, você sabe.
_Não sei não, August, só sei o que você me contou... E você só sabe o que ela supostamente te contou.
Maria só ouvia tudo, como se estivesse longe, bem longe... e tentava se auto-regular. Seu coração estava a mil e sua respiração estava ofegante.
_Maria tem uma covinha na bochecha direita, e você não tem! Sérgio também tem!
_O quê que isso tem a ver?? - disse Maria, ainda em pânico e segurando as bochechas.
_Minha querida, covinhas são hereditárias. Mas vamos tirar a prova? Vamos fazer esse teste agora!
_Não que eu discorde, mas isso não importa. De toda forma eu posso doar sangue pra ele porque eu sou doadora universal, meu avô me explicou sobre isso, e...
_Não pode.
_Como não?
_Maria... É complicado.
_Então descomplica... Porque eu tô achando que vocês estão me escondendo mais coisas.
_Olha, eu juro pra você que te conto tudo, mas antes precisamos conseguir sangue pra ele. - e virando-se para August, perguntou: Qual é o seu tipo sanguíneo?
_Não sei... E você não vai falar nada, Eileen. - ele falava, quase desfalecendo.
Maria saiu de rompante, trazendo 7 pessoas consigo pouco tempo depois.
_Não dá pra tirar uma só gota do sangue do August, eu sei. Mas precisamos colher uma pequena amostra, e deles também. Vamos ver qual é compatível.
Tipagem sanguínea não era algo tão relevante para bruxos, por isso era muito raro que se ouvisse falar no assunto, ninguém se importava com isso.
_Tudo bem rapazes, precisamos de um pouco de sangue para August, ele está muito mal, estão de acordo que eu tire umas amostras?
Eles olharam para Maria, depois concordaram com a cabeça e um "sim" quase inaudível. Um deles disse, com um tom assustado:
_Ela ameaçou a gente de morte se a gente não concordasse.
_Mentira. - disse, diante no olhar de desaprovação porém sem surpresa de Eileen.
_Bom, não sejam moles, é pra salvar nosso presidente.
_Lembrem-se de tudo que ele já fez por vocês! - disse Maria, de cara feia e semblante duro, em um canto da sala.
Três dos homens eram compatíveis, e Eileen pôde tirar sangue suficiente para ao menos, salvar a vida de August. Depois iria cuidar dele para que fosse se recuperando.
Maria fez o procedimento de transfusão de sangue enquanto Eileen cuidava dos ferimentos.
Eileen era pocionista da Macusa mas também sabia um pouco de cuidados médicos.
Maria deixou-a cuidando de August e foi verificar se as outras vítimas haviam recebido o socorro necessário.
Quando voltou, ainda o encontrou dormindo.
_Como ele está?
_Está bem melhor, dormindo até agora.
_Eileen, August não é meu pai...
_Você mesma fez o teste?
_É claro... É muito simples, e você não esperava mesmo que eu fosse aguentar essa dúvida, não é?
_Imaginei que não...
_É por isso que ele sempre foi tão cuidadoso comigo... Ele me contou uma história de que havia perdido a primeira filha dele ainda bebê... E que ela teria a minha idade. É claro que nunca perguntei mais detalhes, ele sempre falava isso com muita dor. Agora compreendo... Mas tem uma coisa que não entendo. Como minha mãe não pode mentir? Do que vocês estavam falando?
_Maria, quem tem que te contar isso é ele, não eu. Não tenho esse direito. Por favor, espere até ele acordar e se recuperar um pouco.
_Está bem... Acho que é justo.
Dois dias depois, August estava quase como novo, já comia bem, andava, e estava ansioso para voltar a ativa.
Maria ansiava por respostas, e é claro que ele sabia disso.
_Eileen me contou que você fez o exame de DNA...
_Não me leve a mal, você sabe que te admiro muito e gosto muito de você... Mas... Só conheci um pai, e não foi você. Desculpe... desde que te conheci eu te admirei pela pessoa que você é, desde então eu tenho tido um mentor, um amigo... E apesar de você fazer muito bem essa figura paterna... o problema não seria você ser meu pai, mas sim em Sérgio não ser.
_Não precisa me pedir desculpas. Agora eu quero que saiba... saiba tudo.
_Bom, estou aqui pra isso...
_Ameaçou de morte mesmo os rapazes que me doaram sangue? - disse, para quebrar o gelo.
_Não... Eu só disse que poderiam doar o sangue vivos ou mortos.
_Ah, só isso... - ele riu. A conhecia muito bem.
August contou a Maria sobre Calyssa ser filha de uma mulher que veio de um planeta que ele descobriu que se chamava Anodin. Essa mulher, de nome Kaya, conheceu um bruxo da Terra, que August não sabia de quem se tratava, e concebeu Calyssa, que veio para cá pouco tempo depois.
Aparentemente Calyssa confiava muito em August, pois não contara nada disso a mais ninguém, nem mesmo a Sérgio.
_Sabe... ela não chegou a dizer que eu era seu pai. Quando eu soube que ela estava grávida, ela já estava namorando Sérgio, mas ainda se encontrava comigo as vezes. Eu perguntei a ela, e... ela só disse: "Tenho certeza que você será um ótimo pai!". Eles não podem mentir, não são capazes, sabe? Não está na programação mental e emocional deles, nem é por ética. Mas pelo jeito podem ludibriar. - ele riu de si mesmo - Eu era um jovem tolo, Maria... muito tolo. Eu estava mesmo muito, muito apaixonado por Calyssa. Tanto que respeitei a vontade dela de ficar com seu pai. Quando você nasceu, ela colocou o nome que eu sugeri... "Maria". Sabe por quê? Porque no nosso primeiro encontro estávamos escutando uma música... em italiano, que ela gostava muito, "Dolcissima Maria". Era a noite italiana na Casa de Chá de Madame Puddifoot, ela sempre servia capuccinos, chás de flores, pães italianos e geleia de frutas. Eu, imbecil que era, sempre a acompanhava até lá, todo mês... mal sabia que ela só ia por causa do seu pai, que sempre estava por lá... com alguma garota, claro. - ele sorriu.
Se houve choque? Claro... Não é todo dia que você descobre que é meio alienígena. Mas por mais que ela tentasse negar, era como se no fundo já soubesse... Sempre sentiu uma ligação surreal com os planetas e astros.
Maria ouvia tudo com atenção, como se estivesse viajando ao passado. Ele continuava, com a voz carregada de nostalgia.
_Eu pretendia contar a verdade quando você nasceu, eu não achei justo comigo! Mas ela foi embora pouco tempo depois, seu pai já estava arrasado o suficiente e eu me comovi com o esforço que ele fez para superar tudo e criar você da melhor forma possível. Quando você fez um ano, eu desisti. Já era muito tarde, e você já o reconhecia como seu pai. Eu tinha tudo aqui em casa... seu quarto, seu berço, tudo! Um bebê que nunca chegou, um vazio que nunca foi preenchido. Quando, após uns 5 anos, eu me casei com Jane, eu disse a ela que tinha uma filha perdida, mas nunca contei a verdadeira história. Ela sempre me acolheu e compreendeu, e então vieram Lucy e Matt... Um presente em dose dupla.
_E você foi, e é um ótimo pai... ela tinha razão, afinal. Seus filhos te amam! E Jane também...
_Preciso te confessar uma coisa... Eu nunca esqueci Calyssa. Nunca consegui. Sei que não é justo com Jane, eu a amo, amo mesmo. Mas... é complexo. Calyssa sempre terá um lugar muito especial no meu coração.
_Tá tudo bem... Eu fico feliz que tenha compartilhado essa história comigo. Mesmo eu estando com muita raiva por ter escondido isso por tantos anos!
_É difícil contar esse tipo de coisa...
Após toda a gama de informações novas, Maria perguntou:
_Mas onde ela está? Porque ela foi embora?
_Maria, sinceramente, não sei. Eu falo com ela as vezes, mas só quando ela quer. As coisas são mais complicadas do que imagina. Ela foi embora porque a atmosfera da Terra era pesada para ela, se ficasse aqui por muito tempo poderia ter graves problemas, ou até morrer.
_Mas por quê ela me deixou?
_Minha querida, ela não podia te levar, você não aguentaria viver em Anodin da mesma forma que ela não aguentaria viver na Terra, e ela sabia disso.
_Você tem que me dizer quando ela falar com você de novo... August, promete! Por que ela não quis falar comigo até agora? - falava com a voz cortada, quase chorando.
_Para te proteger.
_Me proteger de quê?
E então August contou a Maria sobre Calyssa ser uma das protetoras das 6 jóias do infinito. Sobre ela trabalhar em parceria com a Tropa Galáctica para conseguir encontrar as jóias e colocá-las em um lugar seguro, longe do caminho de Thanos.
A Tropa Galáctica era uma grande fortaleza que gerenciava os planetas da Via Láctea, como a Terra e Anodin. É claro que alguns desses planetas, como a Terra por exemplo, cuja maioria dos habitantes sequer acredita em vida alienígena, não sabiam da existência dessa fortaleza. Lá existiam seres de várias raças planetárias diferentes, incluindo gente da Terra, todos trabalhando para o bem maior. E desde algumas décadas, o objetivo principal da Tropa era evitar que Thanos detivesse o poder das jóias.

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