Doce Maria

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🎼Doce Maria, dos olhos limpos
Dos olhos molhados, é hora de ir:
E logo você vai sentir o perfume da manhã
E o rouxinol cantará, voando perto de ti ...
Não olhe para trás

Dolcissima Maria - Renato Russo

Maria precisava mesmo dar um tempo da Sala Precisa. Desde que chegou no castelo, não houve um só dia em que não entrasse lá para procurar a Jóia da Alma.
Um dia, passando pelos corredores, encontrou no chão, perto da sala de Filch, uma carta da Feiticexpresso, uma companhia de aulas de magia a distância. E estava com o nome de Filch. Ela não era assim amiga do zelador, na verdade ele nem gostava dela, pois em sua época de escola aprontava horrores. Mas achou que se um aluno encontrasse aquilo, não seria bom... e precisava devolver a ele pois poderia ser importante.
Ela bateu na porta de sua sala e ele a abriu fazendo a careta azeda de sempre.
_O que foi?
_Isto é do senhor, suponho. Estava no chão, perto da porta.
Ele apanhou o pergaminho, num arranco, lendo, e em seguida empalidecendo e olhando para ela com horror e vergonha.
_Você leu? - perguntou ele, em uma careta bem feia.
_Bom, eu precisava ler, como saberia de quem era?
_Satisfeita em saber que sou um... Um aborto?
_Senhor Filch, eu sempre soube.
_Sempre? Como? Por que? Está tão na cara assim? - disse o velho, em uma mistura de raiva e tristeza.
Snape parecia ter uma antena para fofocas pois ia passando justamente na hora em que Filch dissera isso. Parou a poucos metros, antes de dobrar o corredor, para escutar e tentar entender o que estava acontecendo.
_Bom, não sempre... Eu levei um tempinho... Mas no meu primeiro ano eu já sabia. O senhor não fazia magias nem tinha varinha, e sempre reclamava muito do trabalho, que era pesado...
_Achava divertido rir de mim?
_Eu nunca ri do senhor. Meu avô também é aborto, e ele é um homem íntegro e excepcional. Meu irmão também é aborto, e igualmente íntegro e excepcional.
Filch suavizou o semblante.
_Seu irmão? Achei que não tinha irmãos.
_Meu pai o adotou.
_Por pena, aposto.
_Não... Por amor.
O velho não soube o que dizer, pareceu surpreso e sem palavras.
_Sabe, senhor Filch, por mais que eu tenha dado muito trabalho por ser indisciplinada, eu sempre admirei o senhor. Eu sei que não é fácil aguentar todos esses pestinhas fazendo merda o tempo todo... O senhor é muito competente no que faz. E tenho certeza que se é do seu desejo obter algum resultado com esse curso, vai conseguir.
_Humm.
Filch quase esboçou um sorriso. Resmungou, agradeceu por ela ter devolvido o pergaminho e entrou em sua sala.
Snape achou aquela postura admirável. Ficou surpreso, até. Nunca ouvira ninguém falar assim com um aborto.
Ficou olhando-a sair e ir passear um pouco pelo jardim. Ela colheu algumas flores e ia levando para sua sala, quando o encontrou no caminho, e ele é claro, despistara para que ela não pensasse que ele a estava observando.
_Ah, olá professor Snape.
_Olá, senhorita.
_Linda tarde, não? Essas flores estão tão perfeitas! Vou levar para colocar na minha escrivaninha.
Ela sorriu, pegou uma tulipa branca e deu a ele. O homem não soube o que fazer. Nunca, nunquinha, em toda sua vida, recebera uma flor. Nem de sua mãe, nem sequer de Lily.
Ele ficou imóvel, franziu o cenho e não sabia o que fazer, enquanto a ruiva ainda estava com o braço esticado com a tulipa na mão.
_Não é flor carnívora, pode pegar... Anda, pega... meu braço tá doendo.
Em um gesto meio automático, Snape pegou a flor. Ela sorriu e passou por ele, subindo as escadas.
O bruxo estava um pouco atordoado, era um sentimento estranho, não estava acostumado com essas gentilezas... Ela parecia tão estranhamente doce... Talvez tenha tido razão ao dizer que mudara.
Mas ele tentava se convencer de que aquilo não importava. Jamais perdera o foco por uma mulher antes, e ela não seria a primeira a conseguir essa façanha.

Ele até fez menção de atirar a flor no lixo quando chegou em sua sala, mas não conseguiu... Se sentou, pousando-a sobre os livros, e deixou seu corpo afundar na cadeira.

Poucos minutos depois foi tomar um banho... A espuma inundava suas narinas com o cheiro de almíscar, e ele sentia o relaxamento tomar conta de todos os seus músculos enquanto a água descia por seu corpo. Não entendia por que o rosto da ruiva vinha tantas e tantas vezes em sua mente...
Terminou, fez a barba como sempre, e se vestiu para o jantar, onde se divertiu um pouco com as costumeiras cantadas que Lockhart dispensava a ela, bem como as caretas e invertidas da ruiva... invertidas essas que ele nunca entendia e fazia questão de sempre distorcer para dizer que ela estava muito a fim dele.

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