Rabugento desde sempre

78 7 0
                                    

🎼
Posso dizer, pelos seus olhos,
Que você provavelmente esteve sempre chorando

I Don't Want to Talk About It - Rod Stewart

Maria levara um bom tempo para superar a decepção com a mãe... Nunca contou ao seu pai a verdade, e se corroía de culpa por isso... mas queria poupá-lo da frustração.
Ele já estava quase conseguindo seguir em frente, de vez em quando aparecia com alguma mulher dizendo que era o amor de sua vida, mesmo que não durasse...
Tanta coisa aconteceu depois que Maria viu a mãe pela última vez... Ela nem sabia se a veria de novo algum dia, nem sabia se queria...
Agora, sentada na soleira da porta da cozinha, enquanto o bolo que acabara de fazer estava assando, ela se lembrava da conversa que teve com August, e que a fizera estar, naquele momento, esperando por uma visita muito importante.

Por orientação e insistência de August, Maria havia concordado em usar a máquina do tempo que ela e seu avô criaram em um carro DeLorean, para voltar e recuperar duas das 6 jóias, antes que fossem parar em um local quase inacessível, ambas poderiam ser recuperadas com segurança, de uma forma que não mudaria nem o passado nem o futuro.
E assim ela fez sua primeira viagem no tempo...

Se deparou com vários problemas, não era a toa que voltar no tempo era proibido nessas circunstâncias... tudo era absurdamente difícil, e parecia que o próprio tempo fazia de tudo para expulsar o intruso daquela época. O resultado foi que a Jóia da Alma, cuja portadora era Calyssa, não pôde ser recuperada, e ela se encontrava em um local bem inadequado, diga-se de passagem: a Sala Precisa de Hogwarts, onde ela a deixou. Maria já sabia que isso ia acontecer, pois a mãe contara a August onde estava. O problema é que havia um feitiço muito poderoso feito por Calyssa, onde, uma vez colocada ali, a jóia só poderia ser resgatada por alguém que tivesse seu sangue, e só depois de 20 anos. Maria já havia pedido permissão a Dumbledore para ir até Hogwarts dar uma olhada na Sala Precisa, mas nunca conseguiu encontrá-la. A jóia parecia ter vontade própria, e parecia não querer ser encontrada. Então, a solução de voltar no tempo e pegar a jóia de Calyssa antes que ela a colocasse ali, parecia muito interessante. Mas isso tudo teria que ser sem ela perceber, para não alterar nenhuma realidade.
Acabou sendo uma viagem fatídica, que não deu em nada... Nada deu certo, parecia ser inevitável que a jóia fosse parar na Sala Precisa. Isso sem falar no sufoco que foi entrar em Hogwarts pelas passagens secretas, usar uma poção rejuvenescedora e se fingir de aluna, o que levantou inúmeras suspeitas, mesmo ela não tendo aparecido na frente de nenhum professor.
A pior das piores experiências, foi quando finalmente ela decidiu voltar, depois de ver que já não adiantaria em nada ficar ali pois a missão já havia falhado miseravelmente, e ela ainda poderia correr o risco de alguém achar estranho sua presença. Passou pela floresta proibida onde estava escondido o DeLorean, mas se deparou com um lobisomem. Correu o mais rápido que pôde mas o homem-lobo era mais veloz... e estava muito irritado. Maria jogou alguns feitiços que o atrasaram, mas ele não parava por nada. Ela conseguiu alcançar o carro, mas ele também conseguiu... quebrou os vidros e amassou a lataria aos socos, e balançava tanto o carro com suas garras cravadas, que Maria deixou sua varinha cair entre os bancos. Levantou voo no carro com o lobo pendurado e tentando agarrá-la com suas garras afiadas.
Ela queria tentar evitar a morte de alguém, que por trás daquela fera, era um homem, então alcançou uma adaga de prata no porta luvas e enfiou no ombro do animal, que caiu com força no chão uivando de dor. Na euforia, ela só queria sair dali... Estava assustada, não era para aquilo ter acontecido, e se alguma coisa na sua realidade mudasse? Ligou as chaves que movimentavam os motores e saiu como um raio pelos céus, voltando para seu tempo.

Quando Maria retornou, demorou algum tempo para perceber que algo estava errado. Ela saiu do meio das florestas dos arredores de Hogwarts e viajou com o DeLorean em segurança para a casa de seu avô, na Califórnia, mas ao chegar lá, tamanha foi sua surpresa! Não havia nada ali, nada construído, nenhuma casa, apenas um terreno baldio. Seu coração parou por um segundo... Será que havia alterado a realidade? Voltou para o carro e tentou evitar uma crise de ansiedade, quando visualizou o painel. A data não era 1999, seu presente, e sim 1991!
Droga! Percebeu que havia mudado o último cursor do painel acidentalmente de 9 para 1, enquanto tentava se desvencilhar do lobisomem. E agora? Foi verificar o tanque de combustível para ver se tinha algum dano, e tal foi sua surpresa ao perceber que o plutônio havia vazado quase completamente por furos feitos pelas garras do animal... e sem plutônio, sem viagem no tempo.
_E agora? O que eu vou fazer? - falou, como se alguém pudesse ouvi-la.
Ela não sabia onde seu avô estava exatamente nessa época, ele nunca parava em lugar nenhum, e não havia sequer um jeito de se comunicar com ele. E ele era a única pessoa que poderia ajudá-la a conseguir plutônio. Pensou e pensou. Talvez ele ainda morasse em Orlando, mas ele vivia viajando para eventos científicos... além do quê era muito arriscado ir até lá, era longe, ela podia ser vista, e também sequer se lembrava do endereço.
_Vovó...
Se lembrou de Laura, sua avó, que naquela época ainda estava viva. Pensou em ir até ela e dar um abraço, pedir que evitasse sua morte 2 anos depois, quando foi atacada por uma Mantícora. Mas ela sabia que não podia... Não podia ser tão egoísta assim. Se Laura vivesse, sua realidade mudaria e talvez até outra pessoa morresse no lugar dela.
Maria andava de um lado para o outro e a cada passo, se convencia a destruir o DeLorean quando voltasse, ou pelo menos o que o transformava em uma máquina do tempo, mexer com o tempo era realmente muito, muito perigoso.
E agora, onde? Onde ela poderia encontrar plutônio de forma que não interferisse na história?
Poderia até parecer uma grande tolice, afinal ela era bruxa, poderia pegar inclusive escondido. Mas qualquer evento, por mínimo que fosse, poderia gerar um colapso temporal, e ela sabia bem disso, havia estudado muito antes da viagem.
Uma luz se acendeu em sua cabeça, e ela se lembrou que há dois anos atrás, numa visita a Borgin & Burkes, o velho, dono da loja, a acusou de ter roubado uma adaga contendo plutônio. Ela se assustou e não entendeu nada, estava ali para uma investigação da Macusa, de certo ele a estava confundindo. E foi o que ela lhe disse, mas o velho berrou, muito bravo: "Pode ter mudado o cabelo, mas os olhos de cobra não consegue disfarçar! Feiticeira! Não sei o que faz para permanecer jovem, mas não tenho medo dos seus truques! Fora da minha loja, agora!". Ela poderia ter lançado um feitiço no velho atrevido, ou quem sabe um soco no nariz pra aprender? Mas aquelas palavras lhe despertaram gatilhos emocionais. Por volta dos seus 13 anos, ela quase perdeu a visão quando um aluno da Grifinória que vivia implicando com ela, jogou pó de chifre de Erumpente em seus olhos durante a aula de Poções. Ela sempre sofria bullying por seus olhos serem cor de âmbar... a uma certa distância e dependendo da luz, faziam suas pupilas parecerem de cobra. Isso acarretou em um problema sério de visão, o que a fez ficar míope, e acabar aderindo a lentes de contato.
Então... Eureca! Era realmente ela a ladra da adaga! Tudo fazia sentido... "Afinal o que está para acontecer já aconteceu, o tempo não é linear!" - Pensou.
Mas e agora, como chegaria na Travessa do Tranco? Bom, o DeLorean ainda funcionava como um carro mágico, podia voar até Londres, onde conseguiria um local seguro para estacionar. O DeLorean poderia ser um carro diferente e futurista, mas ainda era um carro, e apesar de pouco conhecido, não iria chamar muita atenção em Londres, e então ela poderia ir até a Borgin & Burkes.
Analisou em voz alta:
_Mas por que eu roubei a adaga? Não era mais fácil comprar?
Verificou seus pertences, e com desânimo, concluiu:
_Agora entendi.
Não foi só o plutônio que foi perdido. Na correria, e ao tentar evitar que o lobisomem a agarrasse, Maria atirou algumas coisas pra cima do bicho, e agora se deu conta de que na mala que havia jogado, estavam não só suas roupas mas também todo seu dinheiro.
_Puta merda! - disse batendo a porta do carro. - Não tenho dinheiro nem pra comer!

Um amor de outro mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora