A ninfa do rio Cocito

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Hades

Em um momento eu estava ao lado dela na minha sala. Tentei não olhar para o motivo dela ter caído no chão. Meu olhar foi severo quando a puchei para longe dali. Nenhuma raiva ou maldade se escondia nesse ato. Mas de certa forma foi o melhor que pude fazer para ela somente me seguir para longe daquele pesadelo. Amaldiçoei aquela maldita foice com aquele golpe baixo. Aquilo parecia um jogo desesperado para ela. Tentar chegar a mim por outra pessoa foi sujo.

Eu tentei ignorar o terror no olhar de Perséfone ao me olhar. Parecia que ela poderia até olhar para meu rosto sem o elmo das trevas. Até parecia que via a grossa cicatriz que se estendia por meu rosto. Aquele horror foi o suficiente para me fazer rosnar de raiva. Se a garota não sentia medo de mim ia sentir agora. Ela estava aos prantos quando a levei para a sala aonde vi minha melhor amiga sentada.

Hécate me olhou da cabeça aos pés antes de olhar para a garota que chorava ao meu lado. Eu a soltei e como esperado ela caiu no chão e se arrastou para a parede o mais longe possível de mim. Ela me olhava com tanto horror que uma parte minha queria tirar meu elmo para ela poder ver também meu rosto angustiado e saber que eu não lhe faria mal algum.

— Saia de perto de mim!!! — ela chorou e soluçou.

Eu tentei permanecer calmo por todos em meu reino. Tudo que eu fizesse seria testado se eu perdesse o fio da meada. Cérbero veio trotando na minha direção animado e latiu feliz até ele olhar confuso para a cena. O olhar do filhote se perdeu em Perséfone e ele foi até ela tentando faze-la parar de chorar. Mas ela apenas o afastou como se o pequeno fosse algo a se temer também.

— Perséfone — falei com um fiapo de voz.

Ela me olhou mas seu olhar não durou um segundo antes de se desviar. Eu me senti partir no meio. Era normal aquele olhar para mim. Mas eu não esperava que Perséfone teria tanto medo. Me perguntei aonde fora a deusa que me prendeu em uma armadilha. Somente um tempo no meu Reino e ela realmente percebeu quem ela defendeu.

Eu saí da sala deixando ela aos cuidados de Hécate. Eu precisava esfriar a cabeça. Minhas memórias voltavam tão rápido que pensei em pular como uma bomba de canhão no Rio Lete mais uma vez apenas para aquilo sair da minha cabeça. Nunca fora tão fácil as memórias voltarem. Nem quando eu via aquela maldita foice as memórias voltavam tão rápido. Mas a arma pareceu rir quando me viu. Como se seus planos maquiavélicos estivessem apenas começando.

Corri para o Elísio como se minha eternidade dependesse de ir até o lago cristalino. As almas gritavam e corriam para me dar boas vindas. Eu apenas sentei na grama. Meus olhos nublados enquanto observava todos gritarem e dançarem sem se preocupar com a minha presença. As árvores frutíferas eram uma bela visão. Meu olhar foi para o lago aonde a água era límpida e atrativa. Eu me levantei e tirei minhas roupas com cuidado. Meu elmo já estava caído na grama fazia um bom tempo. Meus cabelos negros eram um pouco rebeldes. Meus olhos pelo que percebi estavam inchados. Eu não sabia se eram pelas lembranças ou algo como o olhar de horror de Perséfone. Aonde eu realmente percebi que nem mesmo a mais doce das deusas do Olimpo ainda teria horror a mim.

Meu corpo foi inundado pela água. Eu não tinha nada para esconder a nudez. As almas sussuravam ao meu redor. Era muito bom estar em um lugar aonde ninguém queria correr ao me ver. Mergulhei nas águas cristalinas apenas para molhar os cabelos.

Poseidon poderia ser o cara das águas. Mas nunca me esquivei da sensação gostosa da água límpida e gelada no meu corpo quente. Me ajudava a pensar. Quando ia mergulhar de novo uma voz fraca mais como um arquejo de surpresa me veio. Eu mergulhei e olhei em volta. Não parecia haver nada de diferente naquele dia mas quando energi uma jovem estava me encarando. Ela estava com os olhos fixos em mim. Tentei não corar com aquele olhar.

A Flor Da Morte ( Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora