Perséfone
Meus músculos doíam. O frio não era nada reconfortante. Fiz uma careta quando olhei ao longe. Nuvens cobriam o horizonte. Mas se olhasse com atenção dava para perceber pequenas luzes presentes em um vilarejo próximo.
Eu não tinha para onde ir. Não tinha escolha.
A neve ficava levemente dourada antes de derreter. O meu sangue ainda estava escorrendo. Meu corpo imortal mesmo sendo quase invulnerável não estava acostumado com a temperatura baixa. Meus olhos não conseguiram focar no caminho que vinha a diante.
Não sabia bem o que falar se encontrasse algum mortal próximo de onde eu me encontrava. Nada no mundo poderia explicar o dourado que pintava o chão branco sem se enchergar o óbvio. Mas não tinha o que fazer.
Meus joelhos cederam quando parei a uma porta dupla. Não sabia bem porque meus joelhos ainda falhavam. Não deveria me sentir tão fraca.
A porta foi aberta com uma cautela compreensível. Uma criança estava do lado de dentro da casa. Tinha cabelos escuros e ondulados. Pele morena e olhos castanhos. Poderia ter uma beleza comum se vista de maneira rápida. Mas percebia que o olhar desafiador a denunciava como uma criança valente.
A menina me olhou com cautela e fez uma careta. Um menininho menor que ela estava atrás da possível irmã mais velha tentando se proteger do frio. Seriam idênticos se desconsiderasse a diferença de idade.
Nunca tive tanto contato com crianças. As excessões era Hermes e Tânatos que pouco sabiam como deixar outros deuses seguros. Mas nunca havia visto crianças mortais.
Mas agora que eu via nada era tão assombroso. A delicadeza e a pureza presente em um corpo tão limitado era algo ao mesmo tempo fascinante e curioso.
A menininha apenas me encarou com uma carinha confusa antes de abrir totalmente a porta para mim.
Os olhos castanhos se prenderam em mim. Ao mesmo tempo que o pequenino atrás dela saiu de trás da irmã para poder me ver melhor.
Não pareciam nada surpresos pelo meu corpo quase congelado. Pelos trapos que antes eram roupas exuberantes que usava. Apenas me encararam por alguns segundos em silêncio como se fossem me desvendar.
Mais quando meu sangue escorreu para o chão da casa humilde as crianças deram um passo para trás.
— Quem é você? — a menina fez uma careta ao me perguntar. Como se não soubesse se era certo falar com uma mulher que aparecera a sua porta daquela maneira.
O menininho tentou sair de trás da irmã que mais uma vez tentava cobri-lo como se fosse um escudo. Nunca vi uma criatura tão corajosa.
Antes que eu pudesse responder o menino me encarou e perguntou:
— Você viu nossos pais?
Uma parte minha se quebrou quando viu o brilho esperançoso do garotinho que não parecia assustado. Só tinha a percepção de que alguém aparecendo em sua casa poderia significar coisas boas.
— Sinto muito... Não os conheço.
Minhas palavras pareceram estranhas em minha boca. Como se de certa forma não quisesse acabar com o brilho que durou pouco naquele olhar infantil.
— Sou Perséfone — admiti como se falasse algum tipo de crime.
As crianças não pareceram abaladas. Na verdade apenas continuaram me encarando.
— Meu nome é Melinoe, e esse é o Zagreu — a menina me falou e os nomes penetraram minha mente como uma informação que não iria nunca esquecer.
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A Flor Da Morte ( Em Revisão)
Roman d'amourHistória de Hades e Perséfone de um novo ângulo nunca visto!