Uma escuridão óbvia

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Perséfone.

Um baile acontecia no mundo inferior. Um baile feito por Hades para comemorar o noivado dele e de sua futura rainha, Minta.

A jovem ninfa estava sorrindo de maneira exagerada para todos os presentes. Não sabia porque minha raiva por ela foi tão grande. Alguns deuses tinham vindo ao mundo inferior para o baile. Minha mãe tinha vindo com um olhar abatido. Eu não sabia oque pensar. A vivacidade presente nela normalmente tinha se extinguido. Me senti no mesmo segundo culpada por não ter pensado tanto em sua situação.

Mas ela apenas me abraçou e percebi que pela primeira vez em minha vida ela parecia mais velha do que eu. As feições estavam mais duras do que antes e seu olhar me perseguia como se temese me perder de vista.

Hades era o ponto principal que estava em minha mente. O Deus apenas estava sério como nunca esteve. Ele parecia ser cortês com os convidados. Mas não parecia a vontade, eu percebia isso mesmo com o elmo em sua cabeça. Ele estava com os ombros mais rígidos que normalmente além do olhar estar mais perdido do que eu imaginava que era normal para um Deus.

Senti em mim uma necessidade absurda de conversar com ele. Pedir desculpas por tudo que havia falado e pensado dele. No mesmo instante me amaldiçoei pelas ideias estúpidas. Ele agia comigo de maneira fria desde do episódio da visão da foice no escritório dele. Eu também tinha me afastado o máximo que eu conseguia. Mas depois daquele surto de medo eu percebia que nada em Hades estava mostrando estar com vontade de me punir por aquilo. Nem me fazer nenhum mal. Apesar da traição feita aos irmãos.

Eu imaginava que ele fosse um Deus egoísta. Mas quando vi o brilho do seu olhar para Poseidon e Zeus algo se afrouchou no meu peito. E quando vi os olhos do Deus do mar brilharem mesmo que sutis para o irmão mais velho vi a admiração nua e crua ali.

Eu ainda não entendia quem era Hades. Oque eu vía na minha frente era um Deus que traíra o Olimpo. No entanto, era suspeito o amor presente no olhar dos irmãos. Poseidon parecia tão perdido quanto ele. E aquilo que mais me assustou. Eu não era a única que viu a tristeza em Hades.

Somente alguns deuses estavam presentes. Zeus estava ao lado de Poseidon que fingia não se importar com o irmão mais velho. E aquilo me fez ranger os dentes. Ele poderia ser o rei. Hades poderia tê-lo traído. Mas ele não podia fazer Poseidon ficar aonde estava quando oque mais queria era correr para abraçar o irmão mais velho.

Marchei para perto do rei dos deuses e ele finalmente pareceu me perceber. Pareceu ver que eu existia e era ele que havia me mandado para lá.

— Core... Esta encantadora como sempre...

Ele falou aquilo com uma pitada de tédio e desinteresse como se eu não fosse nada e aquilo foi como um soco no estômago.

— Eu gostaria de conversar com você.

— Não temos nada para tratar, minha querida.

As palavras eram amargas na boca dele e eu estranhei. Meu rosto queimou. Não era a mesma maneira provocante e educada demais de Hades me chamar assim. Mas aquilo pareceu uma ofensa nos lábios dele. Eu não sabia porque aquilo me parecia errado. Ele agiu como se eu fosse uma aberração feita para ser tratada com ironia. Aquilo não era a maneira de alguém tratar outro.

Ele se aproximou de mim o suficiente para eu sentir sua respiração e sussurrou no meu ouvido:

— Você escolheu estar aqui. Sua responsabilidade agora é ficar quieta e não fazer absolutamente nada além do que eu mandar. Observe e vigie. Vamos ver até que ponto meu querido irmão poderá se esconder dos crimes que cometeu — ele tocou meu ombro com autoridade — Se quiser voltar para casa vai tratar de fazer tudo do geito que eu lhe pedir.

Eu olhei para ele pálida. Aquilo era uma ameaça velada. Pela primeira vez em minha existência eu era importante para o Olimpo. Mas aquilo não era uma honra. Era uma obrigação que se eu falhasse ia me destruir e tirar tudo que eu tinha e amava. Se eu falhasse com ele nunca mais iria voltar para casa.

— Tenha uma ótima festa querida. Tenho certeza que não teremos problemas, não é? — ele sorriu como se não tivesse me ameaçado. O sorriso cortês acompanhou a esposa para conversar com os outros deuses presentes.

Eu fiquei paralisada no mesmo lugar. Vi que Poseidon me encarava com pesar como se soubesse do que o irmão tinha me avisado. O Deus do mar que normalmente era tão malicioso veio para perto de mim com um olhar de súplica densa nos olhos.

— Por favor — ele falou — Não deixe machucá-lo, por favor.

Ele me encarou de uma maneira que vi o Deus amargurado que estava por trás da máscara maliciosa. Ele implorou para mim como se fosse implorar pela própria vida. E aquilo me surpreendeu.

— Isso não o faria um traidor do Olimpo? — questionei mesmo sabendo muito bem a resposta.

— Sim, mas não ligo. Ele já foi considerado um monstro por nos amar uma vez. Não quero que aconteça de novo. Mesmo que me destrua.

Ele saiu de perto de mim como se tivesse me falado que gostava de peixes palhaços como bobos da corte dele. Eu tentei permanecer neutra mesmo sabendo que nada no mundo foi tão assustador e assombroso como naquele momento.

Poseidon havia implorado que eu protegesse Hades da raiva do Olimpo. Admitiu que se destruiria pelo irmão mais velho. E aquilo nunca me fez tanto sentido. Eu nunca pensei ser uma espiã do Olimpo. Muito menos uma agente dupla.

Apenas respirei e tentei me concentrar. Descobriria o resto da história de Hades e saberia porque afinal a traição dele foi tratada como amor por Poseidon. Eu sabia oque tinha acontecido pela visão. Mas eu precisava saber a história toda para poder decidir oque fazer. Faria aqueles deuses idiotas perceberem que eu não vendia minha lealdade. Não sem ler as letras miúdas.

Meu olhar foi para Hades que ainda estava preso em um escudo invisível que o separava do resto dos deuses. Ele era imponente ali. Mas nunca vi alguém se mostrar tão frágil. Mas me perguntava se somente eu e Poseidon víamos aquela áurea de escuridão em volta do Deus dos mortos. Ninguém mais parecia perceber ou se importar. Então não me surpreendia por ele deixar os sentimentos evidentes. Ninguém via oque tinha por baixo do elmo e da frieza. E me senti estranha ao perceber que eu sabia o decifrar em tão pouco tempo.

A Flor Da Morte ( Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora