Alecrim

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Alecrim: A flor do alecrim está associada à coragem e fidelidade e proteção. De igual forma, significa também bom ânimo, confiança, transmitindo um sentido de bem–estar.




25 de novembro de 2021, Lathi - Finlândia



– Isso é mega óbvio. – Ava rolou os olhos. – Você ama The Office, não dá para esperar muito de alguém que tem essa série como favorita.
– E quem é você para falar? – Brad cruzou os braços sobre o peito e se recostou a parede, encarando a terapeuta com olhos estreitos. – Qual é a sua favorita? Friends? – Claro que não. – Bekker deu de ombros, concentrada em devolver as garrafas plásticas para a máquina. – Game of Thrones. – Disse e Brad rolou os olhos e riu pelo nariz.
– Claro, por que eu ainda me surpreendo?
– Qual é o problema? Não é porque você curte essas séries bobas, que todos também gostam. – Ava o encarou com deboche.
– Acontece, que a série não é boba. – Bradley se aproximou, aproveitando o vento frio que começara de repente como justificativa para abraçar Ava por trás, apoiando o queixo em seu ombro. – Ela fica melhor com o passar das temporadas.
– Eu já ouvi essa história antes, você me forçou a ver até a terceira temporada, e não vi nada se tornar mais interessante. – Ava riu, aproveitando o momento e relaxando o corpo nos braços do capitão.
– Bom, podia ser pior. – Brad deu de ombros e maneou a cabeça, projetando o lábio inferior. – Podia ser como seu ex, e te fazer assistir O Senhor dos Anéis.
– Ei! – A inglesa protestou, rindo incrédula, girando o corpo para encarar o central, mas ainda nos braços dele. – Ele não era meu ex, foi só um casinho. – Desdenhou.
– Você assistiu a quase dez horas de filme só por um casinho? – O jogador fez careta.
– Você é detestável, sabia? Já te disse isso? – Ava resmungou, dando-se por vencida, segurando a gola do casaco de moletom de Bradley e olhando em seus olhos, fingindo estar brava.
– Não, quer dizer lá em casa? – Ele respondeu, fingindo desinteresse.
– Você não consegue pensar em qualquer coisa sem que sua mente suja assuma o controle? – Ava riu deixando que sua cabeça caísse para trás, e deu as costas ao capitão, voltando sua atenção a máquina de garrafas, esperando seu ticket.
– Eu não tenho uma mente suja. – Brad protestou, sorrindo. – Você quem sempre pensa mal de mim.
– Claro.

Brad apenas riu baixo, aproveitando para sentir o cheiro dos cabelos da inglesa, aproveitando o momento simples e em paz ao lado dela. Era tarde, algo perto das nove, mas estavam se livrando das garrafas plásticas em uma das máquinas espalhadas pela cidade, em um posto de combustíveis, como um casal comum, e aquilo aquecia o coração do central. Conversas sobre trivialidades, sobre qualquer assunto bobo, presença, era aquilo que precisava.
Depois da noite de quinta, tudo permaneceu bem e era quinta-feira outra vez, e a semana tinha sido boa, produtiva e em paz, sem que sua mente criasse qualquer cenário maluco, gerando mil inseguranças aleatórias e desproporcionais.

– Quer tomar um sorvete? – Propôs.
– Bradley, deve estar fazendo uns dez graus. – Ava sorriu.
– E isso significa?
– Que tal fazermos como qualquer casal e irmos para casa, a gente assiste um filme, come algo quente e depois...– Ava hesitou.
– Depois o que? – Brad arqueou uma sobrancelha, curioso e em seguida sorriu malicioso.
– A gente dorme. – Ela riu, enquanto o jogador negava com a cabeça. – Amanhã você tem que ver o médico, pela manhã.
– Não me lembre disso, você devia me distrair, lembra? – O central entrelaçou a mão a da terapeuta, mas não do jeito comum, do jeito Brad de ser, entrelaçando os dedos mínimos, apenas.
– O que você acha que tentei fazer enquanto ouvia você explicar a complexidade por trás do Dwight Schrute? – Ava arqueou uma sobrancelha, mas Brad fez careta, ofendido. – É brincadeira, estou só brincando, amor. – Ela riu, beijando-o rapidamente e o fazendo sorrir abobado. – Vai dar certo, provavelmente será uma boa notícia.
– Você me chamou de amor? – Bradley, ainda sorrindo, quis se certificar enquanto caminhavam em direção a loja de conveniências.
– Chamei? – Bekker fingiu-se de desentendida.
– Chamou. – O central riu, acusando-a.
– E o que tem? – Ava se adiantou, abrindo a porta da loja, enquanto Bradley andava mais atrás, bobo como um pré-adolescente depois de dar o primeiro beijo.
– Você me chamou de amor. – Ele sorriu.

Talvez Atte tivesse razão, pensou Brad.
Talvez estivesse apaixonado por Ava Bekker.
Estava diante dela, a assistindo a trocar seu ticket por dinheiro no caixa da loja de conveniências de um posto de combustíveis numa noite ordinária de quinta-feira, e era o paraíso na Terra. Ava vestia um moletom dos Pelicans e jeans, o mesmo de sempre, exceto pela touca cinza de Bradley, que agora ela usava sempre. Embora estivesse vestida como em dias comuns, estava linda, a mais bonita das mulheres do mundo. Talvez, e só talvez, não tivesse problema se abrir um pouco, admitir que realmente estava entregue a ela, tentar de novo. Talvez, Ava valesse mesmo a pena.

– Brad? – Ela o chamou, balançando uma das mãos na frente do rosto do jogador.

Estava tão entretido a admirando e ponderando sobre ser o emocionado que sempre quis, que não ouviu o funcionário da loja falar com ele, sendo necessário que Ava tentasse o trazer de volta à Terra.

– Desculpe, o que foi?
– Ele quer um autógrafo. – A inglesa falou, apontando com o queixo para o rapaz do outro lado do balcão, que o olhava com expectativa e um grande sorriso.
– Claro. – Brad assentiu, sorrindo fraco.
– Nossa, eu nem acredito que você está aqui, pessoalmente. – O rapaz riu alto. – É uma honra. Eu sou muito seu fã. Demais.
– Obrigada.

Bradley autografou uma camiseta e tirou uma foto com o fã, e em seguida, o casal deixou a loja de conveniências. Com os dedos mínimos entrelaçados, entraram no carro em silêncio, e Ava aguardou até que estivessem na rodovia para falar.

– Então esse é o Brad Mäkelä famoso. Poucas palavras, nada emocionado. – Sorriu, afagando a nuca do central, enfiando os dedos por baixo da touca que ele usava.
– Gostou? – Brad a olhou rápido, depois voltou os olhos para a estrada, aproveitando o toque da inglesa.
– Eu sempre gosto de conhecer todos esses seus lados. – Disse ela. – Gosto quando me deixa ver.

Bradley não respondeu.
Não sabia o que dizer, apesar de no fundo, saber. Queria dizer coisas, propor coisas, mas ainda se sentia amarrado por suas inseguranças e medos, temendo que aquele castelo desmoronasse assim que entrasse dentro dele. Ava era uma boa pessoa, aparentemente, estava disponível, parecia realmente querer estar ali, ao seu lado. Precisava constantemente se lembrar de que a terapeuta não tinha responsabilidade sobre seus últimos relacionamentos ruins, ou sobre qualquer insegurança que eles lhe haviam causado, por mais que o central odiasse admitir.
Talvez fosse hora de tomar uma atitude.

– Quer ir lá em casa amanhã? – Convidou, e Bekker o encarou confusa.
– Na sua casa?
– É. – Ele assentiu, aproveitando a desculpa de estar dirigindo para que não precisasse a olhar nos olhos. – Eu sempre vou para a sua casa, pensei que talvez você...sei lá, quisesse ir a outro lugar. – Brad se engasgou com a própria respiração. – Acho que é uma proposta babaca, na verdade. Devia te levar para jantar, não para a minha casa. Mas eu não quis ser babaca, juro. – Ele se justificou, enquanto Ava assistia a cena com um leve sorriso nos lábios. Secretamente, adorava quando o capitão tão cheio de certezas e marra parecia um adolescente atordoado. – Na verdade, esquece tudo. Vamos sair amanhã. Um jantar. Acho melhor. Estou te devendo aquele primeiro encontro.
– Brad. – Ava o interrompeu, ainda sorrindo.
– O que? – Ele a olhou ansioso.
– A gente não precisa sair para jantar, eu não me importo em onde estejamos, desde que estejamos juntos. – A terapeuta sorriu de modo doce.
– Não, mas...eu quero fazer as coisas direto. – Mäkelä argumentou, sentindo-se mais confiante e aquecido pela resposta dela.
– Não preciso que seja visto comigo em público para isso.
– Não, não. Eu sei que não. – Ele começou a dizer, mas parou quando uma súbita ideia lhe passou pela mente. – A não ser que...se você não quiser ser vista comigo, eu entendo, Ava. Sério. Essa coisa de fama, é muito pesada e é um fardo que odeio dividir com quem convive comigo, então, eu entendo. Na verdade, você tem razão de não querer.
– Bradley Mäkelä. – Bekker o interrompeu, falando um pouco mais sério. – Você pode esperar que eu termine de falar, para só depois tirar suas conclusões? – Pediu.
– Okay, okay. Tem razão. Desculpe.
– Por que está tão ansioso? – Ava sorriu, voltando a seu humor normal. – Parece que está nervoso.
– Você acha? – Bradley coçou uma sobrancelha.
– Está desconfortável comigo? – O que? Não. Não. – O capitão a olhou surpreso, com as sobrancelhas juntas. – Não, não é isso.
– Quer me dizer o que é então? – Bekker incentivou.
– Eu só estou tentando, do jeito mais errado existente, me relacionar com uma mulher bonita. – Confessou, e viu a terapeuta sorrir. – Não quero estragar as coisas.
– Você só precisa ser você mesmo, e tudo vai ficar bem. Você é cativante por si só. – Ava garantiu, e em seguida se inclinou na direção do jogador, beijando-lhe o rosto.

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