Jacinto branco

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Jacinto branco: Na linguagem das flores, o jacinto significa 'tristeza', podendo também significar coração alegre. Com relação às cores, o jacinto branco indica doçura.



13 de novembro de 2021, Lathi - Finlândia
Centro de Treinamentos do Pelicans



– E como estão as coisas na clínica? Ainda se lembram de mim por aí ou sou só uma lembrança? – Ava perguntou, olhando de soslaio para a tela do celular apoiado em um vidro de álcool, na bancada, enquanto a terapeuta organizava a sala.
– Não, ninguém nem notou que você foi embora. – Maisie ironizou do outro lado, enquanto almoçava comida japonesa. – Claro que sim, sua boba. Por exemplo, eu já não aguento mais olhar para a cara do Louis sem poder falar mal dele com você.
– Ai. – A terapeuta baixou os ombros, girando o corpo para frente da tela e puxando a máscara que usava para o queixo. – Nem faz ideia do quanto sinto falta disso. Até das implicâncias passionais de vocês dois.
– O que? Os finlandeses não são tão engraçados? – A outra quis saber, ignorando o comentário da amiga.
– Não, não é isso...– Ela hesitou, apoiando os cotovelos a bancada, aproximando-se da tela. – Eles são sociáveis, entendem e dão risadas das minhas piadas, fazem suas próprias piadas, são acolhedores, mas não é a mesma coisa. Mesmo com Santtu, Otto, Waltteri e Jasper que já são como meus amigos. Acho que na verdade eu só sinto falta do meu trio. – Confessou com um sorriso triste e Maisie projetou o lábio inferior do outro lado da tela, se compadecendo ao sofrimento da amiga.
– Em um mês o idiota do Louis e eu vamos chegar aí, e eu não vou querer saber de depressão e coisas para baixo. – Brincou Maisie, estalando os dedos teatralmente.
– Mal posso esperar, mesmo. – Ava sorriu. – Os trabalhos com o time tem sido intenso, fisicamente, emocionalmente...eles estão pressionados por conta de um novo patrocínio. A equipe tem sido reestruturada e as cobranças por resultados estão complicadas. Se não fosse por isso, eu iria até aí. Acho que preciso do ar do nosso reino, já não aguento esse clima de geladeira.
– Aqui não está diferente, amiga. – Maisie comentou, comendo mais um pouco de seu almoço. – Pelo menos aí você tem todas essas novidades. Nunca fica tedioso.
– Pode ser. – A terapeuta assentiu, ajeitando a postura. – Mal conheci todos os jogadores ainda.
– Alguém interessante? – Maisie sondou.
– Do que está falando? – A terapeuta arqueou uma sobrancelha e inclinou a cabeça sobre o ombro. – Já te falei sobre eles.
– É, eu sei. – Maisie rolou os olhos. – Mas você disse dos amigos que fez, do moreno malvado que está te dando problemas no trabalho, mas não falou de ninguém que fosse interessante para algo mais. Não me diga que está na Finlândia a dois meses e ainda não conheceu ninguém, nem mesmo no time ou fora dele?
– Claro que não. – Ava gargalhou surpresa. – É trabalho. E além disso, eu estou emocionalmente indisponível, meu foco não é esse, você sabe. – Lembrou baixando o olhar e subitamente pensando no central do time, embora não entendesse bem o porquê. Tudo que mais queria era que Brad Mäkelä não existisse, já bastava ser obrigada a cruzar com ele vez ou outra, não precisava pensar também.
– Então por que você fez essa cara? – Maisie sorriu acusatória. – Você não me engana. Pode estar longe, mas não me engana. O que é que está acontecendo aí?
– Não está acontecendo nada, é sério. – Ava tentou argumentar, tomando o telefone em mãos e dando as costas para a bancada.
– Eu sei. Sei que um nome se passou pela sua cabeça. Conheço você. – Maisie aproximou o celular do próprio rosto, tentando captar toda micro expressão facial da amiga. – Não acredito que você se encantou com alguém e não me contou, sua vaca.
– Tá, talvez tenha passado um nome, mas não é do jeito que está pensando. – Bekker confessou, expirando frustrada.
– Me conta logo, Ava Bekker! Quem é ele e o que vocês andam fazendo no escuro?
– Não é nada disso, relaxe. – Ava desdenhou, rindo da reação da outra. – Acho que quando falei sobre o quanto estou comprometida com meu trabalho, minha cabeça viajou para Brad Mäkelä.
– Esse é o moreno que não presta? – Maisie quis saber e Ava assentiu com a cabeça. – Eu sabia! Você está saindo com um cara do time, mas que safada! Sabia que seria questão de tempo para ficar com o moreno. Eu sabia. Preciso ligar para o Louis. – A outra ajeitou a postura, estava agitada e animada com suas conclusões, ansiosa para contar tudo ao médico. – Me conte logo tudo sobre ele.
– Não é nada disso. Hey! Está confundindo as coisas. – A inglesa sacudiu a cabeça negativamente, tentando argumentar com a amiga que mal parecia ouvi-la. – É só que...é estranho. Acho que todo mundo no time gosta de mim, exceto ele. E eu não estou pessoalizando dessa vez, ao menos eu acho que não. – Ava contou sussurrando, garantindo que ninguém a ouviria.
– Como assim? É impossível não gostar de você. – Maisie franziu o cenho, mudando a expressão animada para outra mais pensativa e confusa.
– Eu não sei. – Ava ergueu os ombros, desanimada. – Ele fica me encarando sem dizer nada, como se tivesse algo errado comigo. E quando eu tentava sorrir ou acenar, ele me ignorava. Segui o conselho de vocês, tentei ser simpática, levei pizza com abacaxi e bombom de coco. Ele odeia pizza com abacaxi e é terrivelmente alérgico a coco. – Contou chateada, e viu Maisie morder o lábio, compreendendo a frustração da amiga.
– Mas Ava, pizza com abacaxi é realmente de se esperar...quem em sã consciência gosta disso?
– Um amigo dele, do time, me disse que não havia nada no mundo que o deixasse mais feliz do que essas duas coisas. – Contou a terapeuta.
– Parece que você caiu em uma pegadinha de muito mal gosto. – Maisie observou, levando um pouco mais de seu almoço a boca. – Que babaca. Esse cara deve detestar o moreno.
– É Bradley. O nome é Bradley Mäkelä. – Ava corrigiu a amiga. – Não chame ele assim, é estranho. – Pediu e viu Maisie dar de ombros.
– Para mim ele sempre será o moreno misterioso e de caráter duvidoso. Mas deixe isso para lá, me conte: como ele reagiu depois de você tentar mata-lo. – Quis saber a outra, rindo pelo nariz.
– Não tem graça. – Ava torceu os lábios, afastou-se da bancada e se sentou sobre uma das macas. – Ele ficou afastado por dois dias por causa da reação alérgica, parece que foi mesmo sério. Eu fugi dele o máximo que pude, mas ontem ele estava treinando junto com os outros.
– E aí?
– E aí que eu percebi que ele estava me encarando e tentei encarar de volta, ele sorriu e eu quase me escondi. – Confessou encabulada, e Maisie gargalhou. – Acho que é para me irritar, ele deve querer se vingar.
– É enigmático demais para o meu gosto, mas deve ser o seu tipo de cara. – Maisie provocou, fazendo a amiga rir. – Ou ele só é míope. Um míope metido.
– Acredito nessa opção.
– Mas é curioso, eu estou em cólicas para descobrir o que se passa na cabeça dele, imagino que você também. É um daqueles caras que te prendem e você nem entende porque. – Disse a inglesa de cabelo rosa, e Ava assentiu. – Mas pelo menos, se ele não deu queixa de você, deve ter entendido que o incidente do bombom não foi proposital.
– Acho que sim, acho que ninguém mais no time sabe. Ou se sabem, foram discretos o suficiente para não me constranger. – Ava ponderou. – O que só reforça minha ideia de que ele está maquiavelicamente planejando sua vingança. – Falou a terapeuta e Maisie riu abafado do outro lado.
– Como ele é? É bonito pelo menos? – A amiga quis saber. – Para valer todo esse estresse.
– Não tem muito o que dizer, não fico reparando nele – Ava disfarçou, já havia sim reparado, mas não gostaria de admitir a Maisie. – Ele é alto, tem rosto expressivo, sorriso bonito, do tipo muito bonito, mesmo que quase nunca sorria para mim. Os olhos são castanhos, parece ser engraçado com todos, exceto comigo. E é inteligente também, a estrela do time, é alto...– Ava sorriu fraco quando Maisie gritou de empolgação.
– E isso é porque não repara. Você está interessada nele, sua safada. Me conte logo, Bekker! Pare de me enrolar. – Ordenou a outra.
– Não é assim, não é nada assim. Talvez seja algum tipo de complexo de rejeição respondendo a ele. – Ela tentou se justificar, dando de ombros e desviando o olhar. – Mal trocamos algumas palavras, como eu poderia ter interesse em alguém assim?
– Isso nunca impediu ninguém.
– Não, não venha com essa. – Ava ameaçou, levantando o indicador em direção a câmera. – Ainda mais sobre Bradley, a pessoa mais grosseira e rude, desagradável e arrogante da cidade. O fato de conseguir minimamente descreve-lo a você só significa que tenho olhos. De resto, não significa absolutamente nada. Nadinha.
– Claro, não mesmo. – Maisie balançou a cabeça negativamente, debochando.
– Não adianta tentar me juntar a alguém, Maisie querida. Não vai acontecer, eu não vou me apaixonar. – Ava piscou satisfeita enquanto a outra ria. – Nem por Brad Mäkelä ou por qualquer outro homem, não vou me apaixonar por nenhum finlandês. – Garantiu e a amiga rolou os olhos. – Agora, se me der licença tenho muita coisa de forasteira na Finlândia para fazer.
– Ela mente que nem sente. – Maisie deu de ombros.
– Adeus, sua insuportável! Até nunca mais! – Bekker despediu-se, desligando o celular e apertando-o contra o peito.

Sentia tanta falta da amiga, que até mesmo suas brincadeiras e implicâncias sem fundamentos aquecia seu coração. Obviamente Maisie estava errada sobre o capitão dos Pelicans e sobre todo o resto. Não estava ali para se apaixonar, estava para trabalhar e o último lugar em que procuraria um marido era na Finlândia, detestaria ficar para sempre no país tendo consciência do gigante mundo que habitava.
E principalmente com Bradley Mäkelä, não seria burra para em um mundo tão grande, se apaixonar justamente por alguém tão desprezível e desnecessário. Talvez fosse só isso, um complexo de rejeição ativado pelos gatilhos de Bradley, o que se somava as inúmeras bandeiras vermelhas ligadas a ele. Era até cômico. Ava, interessada em Bradley Mäkelä. A inglesa riu abafado ao pensar no quão absurdo aquela frase soava.

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