Flor do campo

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Flor do campo: Essas plantas carregam um intenso simbolismo festivo e representam sentimentos como energia, felicidade, equilíbrio e ponderação.

02 de dezembro de 2021, Lathi - Finlândia
Centro de Treinamento do Pelicans

Estava levando tempo demais para que Louis e Maisie atendessem a chamada de vídeo. Ava estava em sua sala de sempre, era algo perto das duas da tarde, depois de decidir recusar a carona de Mäkelä para o centro de treinamentos e caminhar até lá, Bekker estava a postos para o trabalho. Logo veria o capitão outra vez, tinha o nome de Bradley em sua agenda com letras maiúsculas. Também queria tentar conversar com Aleks, explorar a última conversa que tivera com o ala, mas antes, precisava curar o gatilho de sua agitação, se resolvendo com os amigos ingleses.
Depois de mais tempo que o habitual, tempo esse que Ava imaginava Louis convencendo Maisie a aparecer no vídeo, os dois surgiram do outro lado da tela.

– Ava. – Louis sorriu, mas Maisie apenas arqueou as sobrancelhas, como se aquilo significasse algum tipo de cumprimento.
– Oi, gente. – Bekker sorriu de volta, um pouco mais aliviada. – Que bom que me atenderam.
– Claro. – Louis assentiu. – O que aconteceu? Pareceu urgente quando mandou mensagem hoje de manhã.
– E é mesmo. – Ava respirou fundo, ajeitando os ombros. – Queria pedir desculpas. Primeiro pela forma que reagi quando conversamos pela última vez, segundo por não ter me desculpado antes.
– É sério? – Maisie estreitou os olhos. – Está mesmo pedindo desculpas?
– Estou, de coração. – Disse a terapeuta tocando o peito. – Pensei muito, conversei com outro amigo que me disse o mesmo que vocês. – Quando mencionou o terceiro amigo, Bekker pôde ver a careta de insatisfação que Maisie vestiu, mesmo que por alguns segundos. – O que estou tentando dizer é, antes de vocês falarem, não tinha pensado sobre a questão ética que envolvia minha relação mais íntima com Brad. Mas vocês falaram e eu pensei, conversei com outra pessoa que confio e ele disse que vocês tinham razão. Eu só queria dizer que sinto muito, que reagi mal e que sei que vocês tinham razão. Queria pedir para que me perdoem, se puderem. – A terapeuta projetou o lábio inferior de modo inconsciente.

Louis e Maisie se olharam por algum tempo, como se conversassem por pensamento sobre o que fazer.

– Claro, Ava, não se preocupe. – Louis sorriu sereno. – Está tudo bem. Você é nossa amiga, a gente se preocupa. E também, não é como se eu suportasse ficar só com a Maisie aqui. – Brincou o médico, sendo empurrado por Maisie pelo ombro.
– Infelizmente esse é o papel da melhor amiga, Ava Bekker. – Maisie resmungou, fingindo ainda estar zangada. – Dizer o que você não quer ouvir.
– É, eu tô sabendo. – Ava sorriu, sentindo-se mais aliviada.
– Como você está com isso? – Maisie perguntou, inclinando a cabeça e apoiando-a em uma das mãos.
– Com isso o quê?
– Você e o seu jogador, vocês terminaram, não é?

Ava uniu os dentes e respirou fundo, enquanto Maisie estreitava o olhar.

– Não acredito nisso! – A inglesa se irritou outra vez.
– É complicado, bem complicado. – Bekker tentou se justificar. – Nós conversamos sobre o assunto, ele e eu. Ele quis romper, mas não durou dez minutos. Não seria possível. – Explicou se esforçando para soar convincente, mas não inconsequente. – No ponto em que estamos, se nos separarmos agora, não seria um fim muito amigável, e mesmo que fosse, prejudicaria mais nossa relação profissional do que estando juntos.
– Ava, isso continua sendo um problema. – Louis pontuou apertando os lábios.
– Eu sei, eu sei e ele também sabe. – Expirou cansada a terapeuta, esfregando as têmporas. – Também é uma coisa que me preocupa e chateia, mas agora não é possível voltar atrás. Na verdade, desde meu primeiro dia aqui isso já interfere na nossa vida profissional. Ele acha que se a gente conseguir ficar bem, pode funcionar melhor do que se separados.
– O que ele entende sobre o assunto? – Maisie ainda estava incrédula e injuriada.
– Parece ruim, mas não é tão ruim assim. – Bekker tentou explicar outra vez. – As coisas aqui estão entrando nos eixos, no time. É incorreto, precisa ser mantido em segredo por ser errado e todas as outras coisas que vocês vão dizer, mas agora já é tarde demais. Certas coisas na vida estão além da escolha, da minha escolha agora.
– Não sei o que dizer, sinceramente. – Maisie cruzou os braços sobre o peito, bufando irritada.
– Você pode dizer que mesmo não concordando me apoia, e que quando vier para cá me visitar, não se opõe em conhecê-lo. – Ava falou, tentando despertar a empatia dos amigos, que se entreolharam outra vez.
– Ava tem razão. – Louis concordou depois de algum tempo e disse olhando para Maisie. – Existem coisas que na teoria são mais fáceis de resolver do que na prática. – O médico sorriu com doçura.
– Eu odeio fazer isso, mas tudo bem, se você quer ficar com esse finlandês problemático e cheio de bandeiras vermelhas, não serei eu a impedir. – Falou a outra, ainda a contragosto. – E é bom que no fim isso tudo valha a pena.
– Ele é russo. – Corrigiu a terapeuta, com um sorriso aliviado. – Não posso garantir, mas posso tentar. – Bekker sorriu. – Obrigada, gente. Tenho certeza que quando vierem para cá e o conhecerem, vão entender.
– Ou não, ou vamos querer te amarrar e trazer de volta para Birmingham. – Maisie discordou.
– Podem, é uma hipótese de bases fortes. – A terapeuta sorriu mostrando os dentes e estreitando os olhos. – É bom estar bem com vocês.
– Idem. – Louis piscou, apoiando um dos braços ao redor de Maisie. – Idem.

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