Louro-da-Montanha

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Louro-da-Montanha: Ela é belíssima, mas por baixo daquele exterior delicado bate o coração de um assassino. Se consumido em grande quantidade, pode causar ataque cardíaco..

04 de novembro de 2021, Lathi - Finlândia
Centro de Treinamentos do Pelicans

Se fosse possível a algum ser humano explodir de raiva, Ava Bekker teria seus pedaços espalhados por toda aquele centro de treinamentos. A inglesa mal conseguia pensar sem que uma brutal vontade de arrancar os olhos de Bradley Mäkelä a dominasse. Nada justificaria o modo rude com o qual o atleta a tinha tratado, nenhum estresse ou até mesmo se Mäkelä soubesse de seu passado com Koskinen. Era a primeira vez que a terapeuta sofria com tratamento tão desagradável por parte de um dos atletas, e nem mesmo poderia reclamar com qualquer pessoa sobre isso.
Assim que salvou Otto de sua tentativa de suicídio culposo, Bekker se dirigiu ao banheiro, precisava de algum tempo sozinha para organizar as ideias, e garantir que não choraria de raiva em público. Precisava também de o maior tempo possível na ausência de Bradley Mäkelä, se o time ainda quisesse contar com os serviços do capitão. Ao encarar seu reflexo no espelho, Ava percebeu os olhos vermelhos e a veia que lhe saltava o pescoço, sinais de sua irritação. Tudo indicava que seria logo visitada por uma intensa enxaqueca causada pelo momento de estresse, e amaldiçoou Bradley mais uma vez por isso. A inglesa jogou um pouco de água fria no rosto, se apoiou a pia e fechou os olhos e tentou contar até cem o mais devagar que conseguia, buscando um pouco de calma.

– Inglesinha. – Uma voz cantarolou do lado de fora do banheiro, mas Ava ignorou. – Inglesinha... – Alguém chamou outra vez.

A princípio, a terapeuta pensara ser Jasper, mas se fosse o caso, ele já estaria dentro do banheiro a àquela altura, e sua voz era conhecida o suficiente para que a inglesa notasse. Ava respirou fundo, pensando que se fingisse não estar ali, quem quer que estivesse a chamando desistiria e iria embora. Pareceu funcionar, já que no segundo seguinte não havia mais barulho algum, a não ser o da respiração pesada da terapeuta. Ao menos era o que Ava pensava até ser surpreendida pela entrada repentina e despreocupada de Aleks Haatanen no banheiro feminino. O finlandês parecia despreocupado e relaxado, como se entrasse em seu vestiário.

– Espero que não esteja interrompendo nada. – Ele sorriu antes de se sentar sobre a pia. – Você não me respondeu.
– Haatanen, isso é o banheiro feminino, você não devia estar aqui. – Bekker alertou com olhos sutilmente arregalados.
– Nem você. – Ele deu de ombros, estava relaxado, um dos pés não tocava o chão por causa do modo com que ele estava sentado, Aleks balançava a perna com certa preguiça, como se estar ali o entediasse ou se estivesse totalmente relaxado.
– Do que está falando? Só parei alguns minutos para vir ao banheiro. – A terapeuta sentiu o sangue esquentar outra vez. – Por acaso está controlando meu trabalho também?
Calmita, Ava. – Aleks ergueu as mãos em sinal de rendição, mas mantendo nos lábios o sorriso de escárnio. – Não é bem sobre isso que estava falando.
– Seja direto, Haatanen. – Ordenou ela, ignorando os sorrisos dele.
– Hade, me chame de Hade. – Lembrou ele projetando o lábio inferior. – Por que todos vocês sempre pensam mal de mim antes que eu tenha chance de fazer algo ruim de verdade? Qual é, só vim aqui saber como você estava.
– Saber como eu estava. – Ava repetiu cautelosa, não confiava no ar malicioso natural de Aleks, mas não sabia bem porquê.
– É. – O jogador deu de ombros, levantando-se da pia e se aproximando da terapeuta. – Eu vi o que rolou lá dentro com o Brad. Não o leve a mal, ele só não sabe falar com mulheres...fica nervoso que só.
– Mäkelä não pareceu nervoso, muito pelo contrário. – Ava cruzou os braços sobre o peito e baixou o olhar, cedendo a Aleks rapidamente.
– Mas eu sei que ele está gritando internamente até agora, confia. – Ele piscou, sorrindo de canto. – Brad só é meio...ogro. Sabe, essa coisa de morar sozinho nas montanhas transformou ele numa versão limpinha do Shrek.
– Não justifica a forma com que ele falou comigo. – Ava ergueu o olhar. – E além disso, não vou tratar desse assunto com você.
– Por que não? Existe algum pré-requisito para fazer parte do seu clube da Luluzinha? – Aleks alfinetou, direcionando a ela um olhar que a inglesa sabia bem o significado. – Eu não sou tão alto quanto Santtu? Ou não tão bonito quanto Waltteri?
– Não tem nada a ver com isso, Aleks. E por favor, pare de fazer piadas maliciosas com os outros jogadores. – Bekker usou seu tom mais sério e firme, mas que não gerou efeito qualquer em Aleks.
– Assim como o Brad, eu só quero ser amado. – Zombou ele, brincando com uma escova de cabelos que ficava disponível no banheiro sobre a pia, enquanto sorria com deboche. – Mas já me cansei. – Aleks expirou entediado. – Vim só deixar meu ombro amigo, mas me cansa ter que ficar provando minhas intenções. Boa sorte com o Brad da próxima vez. – Falou ele e começou a se afastar, dando as costas para Ava.
– Certo, espere. – Pediu a inglesa, após respirar fundo. Após o modo com que fora tratada por Mäkelä, a última coisa que queria era ser grosseira gratuitamente com alguém. – Me desculpe. Agradeço a gentileza.
– Não há de que. – Aleks girou em seus calcanhares, sorrindo grande. – Estou sempre as ordens para ajudar um amigo. – Disse, e Ava franziu o cenho, confusa com o gênero utilizado por ele na palavra amigo.
– Bom, obrigada. – Falou. – Eu acho...– sussurrou, apenas para si mesma.
– Certo, já chega. Eu realmente estou entediado, vou voltar para o treino. – Avisou ele, apontando para trás de si com o polegar enquanto fazia careta. – E Ava, o Brad pode ser meio resistente, mas ele sempre se rende no final. E sabe uma coisa que sempre faz com que ele fique de bom humor? – Aleks sorriu arqueando as sobrancelhas, Ava pensou sobre o quanto sua expressão era estranha. – Bombons de coco e Pizza com abacaxi. Ele ama. Mais. Que. Qualquer. Coisa. – Disse pausadamente e outra vez deu as costas para Ava, sem se importar em se despedir.

Bombom de coco e Pizza de abacaxi...
Que Brad Mäkelä fosse para o inferno com bombons, pizzas e tudo que tivesse direito, pensou.

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