Rosas amarelas

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Rosas amarelas: Populares e amadas, porém, as amarelas podem representar ciúmes.

30 de novembro de 2021, Lathi - Finlândia
Centro de Treinamento do Pelicans

Os dias começavam infinitamente melhores quando acordava ao lado de Brad Mäkelä. Uma rotina normal de casal, dormir juntos, enrolar para sair da cama depois de ouvirem o despertador, dividirem o banheiro enquanto um escovava os dentes e o outro tomava banho, tomar café da manhã juntos e depois irem juntos para o trabalho. Era tudo tão perfeito e confortável, cada conversa, cada olhar cúmplice, cada risada e piada interna, cada detalhe do corpo, jeito e personalidade do jogador que ela conhecia. Tudo levava a um caminho, estava completamente apaixonada por Brad Mäkelä, já não era mais possível voltar atrás. Era ele.
Era fácil viver em Lathi se Brad estivesse por perto, poderia passar o resto da vida naquela cidade pacífica e de natureza exuberante, longe do caos da Birmingham, longe de grandes cidades e todo sua loucura. Bekker refletia sobre enquanto organizava as evoluções dos atletas que atenderia naquele dia, se dedicando um pouco mais a de Mäkelä, seu mais novo caso prioridade devido a urgência do retorno do capitão ao time.

– Precisamos conversar. – Petri com voz de trovão quando entrou na sala de repente, fechando a porta atrás de si.
– Meu Deus... – Ava se sobressaltou, colocando uma mão sobre o peito, inclinando-se para frente. – Caramba, Petri, você me assustou.
– Quando ia me contar que você e Aleks estavam metidos no incidente dos bombons? – Questionou ele, sem rodeios.

Ava sequer moveu um músculo.
Internamente, seus neurônios tentavam compreender a fala do técnico. Então Brad havia contado? Ou talvez Aleks...ou talvez uma outra terceira pessoa. Mas Petri estava ali indagando sobre ela e Aleks, e não sobre o relacionamento da inglesa com o central, sendo assim, ele possivelmente ainda não sabia sobre. Bekker abriu a boca, mas não emitiu nenhum som, em seguida, passou as mãos pelo cabelo, e se apoiou a bancada, tentando organizar os pensamentos.

– Bradley quem te contou? – Perguntou tentando fazer com que a voz soasse firme.
– Quero ouvir sua versão dos fatos. – Falou ele em tom de ordem.
– Por favor, Ava, poderia compartilhar comigo o que sabe sobre o caso? – Bekker ironizou, cruzando os braços sobre o peito, irritada com a postura do mais velho. – Não vou responder qualquer coisa se continuar usando esse tom comigo, e se Bradley não me autorizar.
– Ele já me contou, não precisa de autorização. – Petri se aproximou um pouco mais, ainda usando o mesmo tom firme e severo, olhando a terapeuta de cima.
– Existe uma coisa chamada sigilo, não sei se já ouviu falar disso na vida. –Bekker não hesitou, nem se afastou com a proximidade do técnico, erguendo o queixo para encará-lo, sem vacilar.
– Se Aleks sugeriu a você, não está protegido por sigilo e você não tem sigilo comigo.
– E aí voltamos ao primeiro ponto, não vou responder qualquer coisa enquanto estiver usando este tom comigo. – Ela sentenciou com firmeza, sem hesitação.

O treinador a olhou nos olhos, estreitando o olhar, estava a centímetros de distância de Ava, como dois cães raivosos se encarando. Petri, no instante seguinte, expirou derrotado e ergueu as mãos, rendido.

– Certo, tem razão. Tem razão. – Ele cedeu. – Peço desculpas. É que essa revelação me tirou do eixo. – Expirou ele, como uma panela de pressão que tenta liberar a pressão para não explodir.
– Se tirou a você, imagine o que pode ter feito ao Bradley. – Ava ergueu o queixo vitoriosa, sorrindo de canto.
– Você tem razão outra vez. – Concordou Petri. – Mas devia ter me dito tudo isso quando conversamos.
– Eu não podia antes, nem posso agora. Isso é um assunto que só diz respeito ao Bradley, não posso passar por cima da vontade dele. – Ava se justificou.

Petri a direcionou um olhar que sinalizava que não concordava com nenhuma palavra, mas que sabia que se insistisse em contrariar a terapeuta, perderia.

– O que acha disso tudo? – Petri quis saber, depois de um longo silêncio e de encarar o chão por mais tempo do que seria educado.
– Ainda não sei. – Bekker deu de ombros. –Preciso esperar que Aleks volte, talvez conversar com ele, ou ver como o grupo vai reagir. Ainda não sei. Só sei que a vida pessoal dos dois não pode interferir aqui.
– Nisso você tem razão. – Petri concordou com uma risada debochada.
– Não, Petri. – A terapeuta negou, cruzando os braços sobre o peito e se aproximando dele. – Não estou falando o que você acha que estou falando. Os dois não precisam de uma lição sobre separar as coisas, sobre deixarem os problemas pessoais do lado de fora antes de entrarem. Quero dizer que Aleks e Brad não podem ser punidos, além do que já foram, por questões pessoais, da relação deles. Você já os afastou, é suficiente.
– Se isso for verdade, Aleks tentou envenenar o Mäkelä. – Petri enfatizou, aproximando-se mais de Ava.
– Não, Petri, está exagerando. – Discordou a inglesa, incrédula, já que ela mesmo pessoalmente não concordava com o que estava prestes a dizer. – Não sabemos o que levou Aleks a fazer isso, mas isso é entre os dois. O que você quer fazer? Obrigar Mäkelä a chamar a polícia? Demitir Aleks? Expor ele perante o time e depois o amarrar em um poste e queimar numa fogueira? Existem limites que você, enquanto técnico, e eu, enquanto terapeuta ocupacional, não podemos ultrapassar.
– Você não pode estar falando sério...– Petri negou com a cabeça, chocado. –Não está irritada, chocada com isso?
– Estou, e por isso aconselhei o Bradley a falar sobre isso quando fossem conversar. – Disse ela. – Mas existem limites. Eu não gosto do que vou falar, mas talvez seja hora de ouvir e observar, não de punir e julgar.
– Está falando isso só pelo Aleks, ou por causa da nossa conversa, sobre o Mäkelä seguir como capitão? – Petri sondou depois de alguns instantes em um silencio revoltado.
– Estou dizendo isso sobre os dois. – A inglesa cruzou os braços sobre o peito. –Você veio aqui querendo minha opinião, estou dando, faça com ela o que quiser. Mas eu espero que a considere antes de tomar qualquer decisão.
– Desde que você passe a ser honesta sobre o que sabe ou não sobre os meus atletas.
– Desde que você me faça perguntas que eu possa responder, e me trate com o mínimo de respeito, eu respondo como prazer. –Ava sentenciou. – Agora, se não tiver mais algum assunto sobre o qual você queira gritar comigo ou tentar me colocar contra a parede...
– Conversamos depois. – Assentiu ele, ainda irritado, e Bekker acenou com a cabeça, vendo-o deixar a sala em silêncio.

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