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P.O.V - Teto

Enquanto as horas se arrastam e a apreensão toma conta de mim, observo os enfermeiros se movendo com agilidade e urgência ao redor de Samantha. Cada movimento parece amplificar o ritmo acelerado do meu coração, e a tensão no ar é palpável. Uma sensação gelada percorre minha espinha, enquanto eu luto contra o turbilhão de pensamentos que se acumulam na minha mente. Estou preso entre a expectativa de receber boas notícias e o medo do desconhecido, temendo o pior enquanto busco desesperadamente qualquer sinal de esperança.

Quando um dos enfermeiros, com seu tom suave e sereno, sugere que eu aproveite para tomar um café da manhã enquanto os exames de Samantha são realizados, uma onda de emoções contraditórias me invade. Agradeço em silêncio pela distração, uma pequena pausa que me oferece algum alívio mental, mesmo que momentâneo. Sinto-me esgotado, como se a maré de preocupações tivesse me consumido por completo, mas tento manter a compostura, agarrando qualquer oportunidade para acalmar minha mente, mesmo que por instantes.

Levanto-me com cuidado da cadeira, sentindo o peso da noite mal dormida repousar sobre meus membros, cada movimento me lembrando da exaustão física e emocional que me consome. Faço um esforço para manter minha postura firme, lutando contra o nó de ansiedade que se forma na minha garganta enquanto respondo ao enfermeiro com um simples aceno de cabeça. Apesar da dificuldade em encontrar forças, tento não mostrar o quanto estou frágil por dentro. Com os pensamentos ainda inquietos, deixo o quarto e me dirijo à cafeteria do hospital, onde o ambiente, embora simples, oferece um alívio temporário para a mente. O café da manhã, no entanto, perde todo o sabor diante da agonia que ainda persiste em meu peito. Cada garfada parece sem sentido, como se nada pudesse realmente alimentar a tensão e a apreensão que me dominam.

Quando termino a refeição, o vazio dentro de mim permanece, e a sensação de impotência volta a me envolver. Retorno ao quarto de Samantha, onde os enfermeiros ainda estão ocupados com os exames, o som das máquinas e os seus passos rápidos criando uma atmosfera de urgência. Meu coração começa a bater mais rápido à medida que me aproximo deles, ávido por qualquer notícia, por qualquer sinal de progresso, mesmo que mínimo.

Um dos enfermeiros, ao me perceber, se vira e, com um olhar sereno, transmite a notícia com a mesma compostura que caracteriza todos os profissionais ali.

- Ainda não temos os resultados completos, mas parece que houve uma pequena resposta em uma das áreas do cérebro. Vamos continuar monitorando e realizando mais testes para garantir a estabilidade. - diz ele, mantendo a seriedade necessária diante da situação, mas sua resposta, ainda que cautelosa, carrega uma centelha de esperança.

Aquela simples frase, "uma pequena resposta", me traz um suspiro de alívio. Não é uma grande vitória, mas é algo, e eu me agarro a isso com toda a força que tenho.

- Obrigado. - murmuro, sentindo uma onda de gratidão me envolver. Sento-me novamente ao lado de Samantha, segurando sua mão com ternura.

Enquanto os enfermeiros se retiram, deixo-me ficar ali, absorvendo as palavras que acabei de ouvir. Um peso é levantado parcialmente de meus ombros, mas a vigilância e o medo ainda estão presentes, como uma sombra que não se afasta. Em silêncio, continuo segurando sua mão, rezando por sua recuperação, desejando que esse pequeno sinal de melhora se transforme em algo maior.

Neste momento, os passos familiares de Clara, Matheus, Wiu e os tios de Samantha se aproximam, e, ao vê-los entrar no quarto, uma mistura de emoções toma conta de mim. Seus rostos expressam a mesma ansiedade que sinto, mas também há uma centelha de esperança nos olhos de todos. O peso da solidão se dissipa um pouco, pois sei que não estou sozinho nesse momento. Estamos todos juntos, compartilhando a mesma luta. Clara, ao me ver, corre em minha direção e me abraça com força, suas lágrimas molhando minha camisa. Eu a abraço de volta, retribuindo o carinho e a dor de forma silenciosa. Não é preciso dizer nada, a troca de sentimentos é suficiente.

Morfina • Teto • 30PRAUMOnde histórias criam vida. Descubra agora