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Enquanto Teto e eu caminhávamos até a casa de Matheus e Clara, o silêncio entre nós parecia carregar todo o peso do que estávamos prestes a contar. Clara e Matheus já sabiam da história, mas essa seria a primeira vez que falaríamos com Wiu, e meus tios sobre o bebê. Eu sabia que, no momento em que as palavras saíssem, tudo mudaria.

- Tá pronta? - Teto perguntou baixinho, me olhando de lado.

Assenti, mesmo que por dentro eu não tivesse certeza.

Quando chegamos, Clara abriu a porta antes mesmo de tocarmos a campainha, com aquele sorriso acolhedor que sempre me acalmava um pouco.

- Vem, tá todo mundo lá na sala. E relaxa, vai dar tudo certo.

Entramos e logo vimos Tuê encostado no batente da porta, segurando uma cerveja. Ele acenou para nós, mas o olhar dizia que sabia o que estava por vir. Vinicius estava jogado no sofá com meus tios ao lado dele, todos rindo de algo que claramente perdemos. Só que, assim que nos viram com o bebê nos braços, o riso morreu.

- Ei, que fofura é essa? - Cynthia foi a primeira a reagir, com um sorriso curioso, mas sem entender.

- Vocês tão praticando já? - meu irmão brincou, arqueando as sobrancelhas, mas o tom de brincadeira não disfarçava a surpresa.

Eu respirei fundo, trocando um olhar rápido com Teto antes de falar.

- Então... tem uma coisa que a gente precisa contar pra vocês. - Matheus já havia se aproximado de Clara, que observava tudo em silêncio.

Eles já sabiam o que estava por vir, então ficaram ao nosso lado, como se fossem nos apoiar durante o que estava prestes a acontecer.

- Ele... ele foi deixado com a gente. Pela Marcela. - comecei, minha voz mais baixa do que eu pretendia.

O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Wiu arregalou os olhos, Froid parou com a cerveja no meio do caminho e Cynthia apenas piscou, sem saber como reagir.

- Marcela... deixou um bebê com vocês? - Froid finalmente quebrou o silêncio, soando tão incrédulo quanto parecia.

- Ela apareceu do nada e... bom, ela disse que não tinha como cuidar dele. Deixou ele com a gente e desapareceu. - Teto se adiantou.

- Espera, então vocês estão cuidando dele? - Wiu perguntou, descrente. - Tipo, de verdade?

- Mas, pera... como exatamente isso aconteceu? Ela simplesmente deixou o bebê e foi embora? Vocês sabem onde ela está? - Cynthia perguntou, ainda com o olhar fixo no bebê.

- Vocês têm ideia de como lidar com isso? Tipo, legalmente? Porque isso não parece algo simples. - meu tio se inclinou um pouco, com a expressão séria.

Eu suspirei, sentindo o peso das perguntas.

- Ela apareceu de surpresa, disse que não tinha condições de cuidar dele e... sumiu. A gente não tem ideia de onde ela está agora. - sabia que seria difícil contar, mas falar em voz alta tornava tudo mais real. - Nós vamos falar com um advogado pra ver como a gente pode colocá-lo para adoção, não sei... - disse, minha voz firme, mas ao mesmo tempo incerta. - Eu sei que não é nossa responsabilidade, e com tudo o que aconteceu... não sabemos se será a melhor opção a ele, né T? - ao chamá-lo ele ficou em silêncio ao meu lado, segurando o bebê com um cuidado quase instintivo.

- Adoção? Mas... vocês têm certeza disso? - minha tia franziu a testa, claramente surpresa.

Eu olhei para Sávio, esperando que ele concordasse comigo, mas ele ficou em silêncio por mais tempo do que eu esperava. Quando ele finalmente falou, sua voz saiu baixa.

Morfina • Teto • 30PRAUMOnde histórias criam vida. Descubra agora