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Ficamos deitados no sofá, um ao lado do outro, o silêncio entre nós sendo preenchido pelo som suave da nossa respiração. Teto continuava segurando minha mão, como se estivesse me ancorando naquele momento, mantendo-me presente enquanto o cansaço lentamente se instalava em nossos corpos.

Meus olhos começaram a pesar, e o calor do corpo de Sávio ao meu lado me dava uma sensação de segurança que eu não sentia há muito tempo. A tensão que tinha segurado dentro de mim por tanto tempo finalmente começou a se dissipar. Senti meus pensamentos ficarem mais lentos, mais nebulosos, enquanto o sono começava a me envolver.

Clériton estava quieto, seu corpo relaxado ao meu lado. Acariciei levemente suas mãos com meus dedos, sentindo o conforto de sua presença, e em algum momento, enquanto o cansaço nos dominava, senti meus olhos fecharem completamente. O som de nossas respirações se sincronizando foi a última coisa que me lembro antes de cair no sono.

Acordei no meio da noite, meus pensamentos ainda agitados pelo que havia acontecido. O apartamento estava mergulhado na escuridão, exceto por um suave brilho prateado que entrava pelas frestas das cortinas. Pisquei, tentando me situar, e percebi que Teto ainda estava dormindo ao meu lado, a respiração profunda e regular.

Apesar do cansaço, meu sono se dissipou rapidamente, substituído por uma inquietação que não consegui ignorar. Senti a necessidade de clarear a mente, de encontrar algum tipo de paz que ainda parecia fora do meu alcance.

Me levantei devagar, tentando não fazer barulho para não acordar Sávio. Ele murmurou algo baixinho, mas continuou dormindo. Peguei um cobertor que estava jogado na poltrona e me envolvi nele antes de caminhar até a varanda do apartamento.

A noite estava fria, e o ar fresco me trouxe uma clareza instantânea. Fechei os olhos por um momento, permitindo que a brisa suave acariciasse meu rosto. O mundo lá fora parecia tão calmo, tão diferente da tempestade interna que ainda estava enfrentando.

Abri os olhos e olhei para a cidade, as luzes piscando no horizonte como estrelas distantes. Era como se o caos que tínhamos enfrentado estivesse a quilômetros de distância, preso em outra realidade. Mas, ao mesmo tempo, sabia que ainda estava ali, dentro de mim, aguardando para ser processado e entendido.

Me apoiei no parapeito, deixando que meus pensamentos vagassem. A noite trazia consigo uma certa introspecção, um momento para refletir sobre tudo o que havia acontecido. Finalmente, estávamos livres de Caio, mas o preço que pagamos por essa liberdade ainda pesava em mim.

Olhando para o céu, me peguei questionando o que viria a seguir. Como seria nossa vida agora? Como eu me sentiria ao acordar todas as manhãs sem a sombra do medo pairando sobre nós? A ideia de um futuro incerto, mas cheio de possibilidades, era ao mesmo tempo emocionante e assustadora.

Perdi a noção do tempo enquanto meus pensamentos corriam, até que ouvi passos suaves atrás de mim. Virei-me e vi Teto na porta da varanda, os olhos sonolentos, mas atentos.

- Você está bem? - ele perguntou, a voz ainda carregada de sono.

Assenti, tentando lhe oferecer um sorriso reconfortante.

- Sim, só... precisava de um momento para pensar. - ele se aproximou, se juntando a mim na varanda.

Sem dizer uma palavra, ele me puxou para perto e me envolveu em seus braços. Fiquei ali, deitada em seu peito, sentindo o calor do seu corpo me envolver enquanto olhávamos juntos para a cidade abaixo.

Teto beijou o topo da minha cabeça, e ficamos em silêncio por um tempo, apenas desfrutando da presença um do outro. O ar frio da noite e o conforto do abraço de Clériton começaram a acalmar minha mente.

Morfina • Teto • 30PRAUMOnde histórias criam vida. Descubra agora