Acordei com o sol filtrando pelas cortinas, aquecendo meu rosto. Por um instante, fiquei confusa, sem reconhecer onde estava. A mente embaralhada lutava para se situar, até que me lembrei: o quarto em que estava dormindo desde que cheguei em Fortal. Sentei na cama, esfregando o rosto com as mãos, enquanto tentava reunir os pedaços soltos da noite anterior. A memória estava turva, como um sonho que escapa pelos dedos.
Levantei-me devagar, os pés descalços tocando o chão frio, e fui até a cozinha. Clara estava sentada à mesa, a aparência dela era um reflexo do que eu sentia: exaustão e confusão. O cabelo desgrenhado e o rosto pálido denunciavam os efeitos da ressaca. Ao me ver, ela sorriu fraco.
- Bom dia. - murmurou, a voz rouca e cansada.
- Bom dia. - respondi, observando-a com uma mistura de preocupação e empatia. - Como você está?
- Um pouco pior por causa da ressaca. - admitiu, levando a mão à cabeça. - E você?
- Não tenho certeza. - confessei, apertando as têmporas enquanto tentava desvendar os borrões de memória. - Algo aconteceu ontem à noite, mas não consigo lembrar os detalhes.
Enquanto tomava um café amargo para tentar despertar, peguei meu telefone. O visor acendeu, revelando mensagens e chamadas perdidas. Meu coração disparou ao ver o número, 69 ligações não atendidas de Teto.
- Clara, olha isso. - chamei, mostrando o celular a ela com a mão trêmula.
- Teto te ligou 69 vezes? - Clara exclamou, arregalando os olhos E pesar do estado deplorável, ela não perdeu a oportunidade de brincar. - Número suspeito. - ela riu, mas a tensão em seu olhar denunciava sua preocupação.
Revirei os olhos, mas não consegui sorrir. Meu estômago revirava enquanto tentava lembrar por que não percebi as ligações. Antes que pudesse tomar qualquer atitude, uma nova notificação chamou minha atenção, uma mensagem de Chico.
- "O segredo pra não ter ressaca é continuar bebendo." - li em voz alta.
Soltei uma risada curta e nervosa, enquanto Clara revirava os olhos.
- Sério? - ela questionou, franzindo a testa. - Ele realmente te mandou mensagem?
- Pelo visto, sim. - respondi, encarando a tela como se ela pudesse me fornecer respostas.
Clara suspirou, passando a mão pelo cabelo.
- Você tem que ligar pro Teto. Isso parece sério. - assenti, sentindo o peso da situação.
Sávio nunca havia me ligado tantas vezes sem motivo. Respirei fundo, tentando reunir coragem antes de pressionar o botão para retornar a ligação.
O telefone tocou duas vezes antes que ele atendesse.
- Samantha? Onde você está? Tentei te ligar a noite toda! - sua voz, normalmente calorosa, estava tensa e carregada de preocupação
- Teto... me desculpa. Eu nem vi as ligações. Minha cabeça está um caos. - expliquei, sentindo as palavras saírem apressadas e inseguras.
- Você está bem? - ele perguntou, sua voz suavizando levemente, mas ainda carregada de tensão.
- Estou... agora estou. Acordei confusa, com memórias turvas da noite passada. - admiti, a culpa me esmagando.
- Precisamos conversar. Vem pra cá quando puder, tá? - Teto disse, num tom que não deixava espaço para recusa.
-Tem alguém aí? - perguntei, em tom sarcástico, mas a pergunta carregava uma pontada de insegurança.
