Teto, de pé no corredor, parecia envolto na mesma insônia que me atormentava.
- E aí... - sua voz era um sussurro, carregado de uma tensão que refletia a turbulência emocional que compartilhávamos.
- O que cê tá fazendo aqui? - minha surpresa mal conseguia disfarçar a necessidade de companhia naquela noite inquieta.
Ele desviou o olhar por um momento, como se buscasse palavras na escuridão antes de responder.
- Não consegui dormir. Precisava... de ar fresco, talvez. - suas palavras eram vagas, mas o brilho nos seus olhos entregava um desejo mais profundo.
Percebi que a tensão entre nós, antes contida, se intensificava no espaço estreito do corredor. A eletricidade no ar era palpável, e em nossos olhares, havia um entendimento mútuo de que algo havia mudado entre nós.
- Eu também não consegui. - confessei, sentindo-me vulnerável sob o olhar perscrutador de Teto.
O silêncio tenso nos envolvia enquanto nossos olhares se encontravam, uma comunicação silenciosa que ultrapassava as palavras. Ele se aproximou lentamente, como se cada passo fosse calculado para não quebrar a frágil atmosfera que se formava.
- Eu preciso disso. - ele começou, mas suas palavras foram interrompidas quando a distância entre nós se reduziu a nada.
O toque suave dos seus lábios nos meus foi um eco da tensão que se acumulava entre nós. O beijo era uma explosão controlada, uma resposta mútua ao magnetismo que nos envolvia.
Nossos corpos se aproximaram, a proximidade desafiando os limites de uma noite comum. Cada contato era um convite para explorar territórios desconhecidos, um ato de entrega que transcendia as palavras. Ele me puxou mais para perto, suas mãos que apertavam firmes minha cintura seguiram do meu quadril até minha bunda, onde ele apertou.
Quando nos afastamos, a respiração entrecortada, a tensão sexual persistia no ar, envolvendo-nos numa orquestra silenciosa de desejo não dito. Teto me olhava, seus olhos carregados de promessas e questionamentos.
- Eu... - ele começou, mas as palavras pareciam inadequadas diante do turbilhão emocional que nos envolvia.
Não houve necessidade de justificar ou explicar. O beijo fora a expressão física da tensão que compartilhávamos, um ato que selava um entendimento que transcendia a complexidade das palavras.
- Talvez devêssemos... - murmurei, mas minhas palavras desvaneceram quando Teto me puxou novamente para seus braços, retomando a dança silenciosa que começamos.
Escutamos um barulho atrás de nós e olhamos para a mesma direção ao mesmo tempo.
Matuê, com um sorriso irônico, observou a tensão no ar. Seus olhos se moviam entre Teto e eu, como se tentasse decifrar a complexidade daquela situação. Um silêncio desconfortável se estabeleceu.
- Interrompi alguma coisa interessante aqui? - provocou Matuê, quebrando o silêncio com sua voz carregada de ironia.
Teto, ainda me segurando, tentou disfarçar o desconforto. Me afasto ligeiramente, uma sensação de surpresa misturada com nervosismo.
- Cara, você... - começou Teto, mas Matuê o interrompeu com um gesto de mão.
- Sem explicações necessárias. Acho que já entendi o suficiente - disse Matuê, mantendo o sorriso sarcástico.
- Acho que vou deixar vocês continuarem sua festa privada. Não quero ser um intruso, sabe como é... - disse Matuê, começando a se afastar lentamente.
Teto parece tentar encontrar as palavras certas, mas eu o interrompo, tomando a iniciativa.
- Matuê, espera. Não é o que parece. - olhei para Teto, buscando apoio, enquanto tentava encontrar uma explicação que pudesse amenizar a situação.
- Gente, que isso, somos adultos aqui. - ele ri e sai correndo. - Clara! - grita correndo até seu quarto.
Saio correndo atrás dele.
- Não faz isso! Não aconteceu nada! - tento impedir ele de abrir a porta.
- Clara! - ele escora na porta. - Depravados. Deixa só a Clara saber que vocês estavam se pegando na cozinha que ela planejou. E digo mais... - só vi Matheus indo pro chão quando a porta é aberta por dentro.
- Gente, que isso!? - Clara dá um pulo para trás quando Matheus cai em seus pés.
- Bem feito, otário. - mostrei o dedo do meio pra ele.
- Teto e Samantha tavam se pegando na cozinha. - ele diz com a voz tremendo por conta da dor de ter caído.
Clara, com um sorriso travesso, olha para nós dois, claramente se divertindo com a situação. Matheus, ainda no chão, parece orgulhoso de sua performance dramática.
- Vocês dois, na cozinha que eu planejei? - Clara começa a rir. - Eu não posso acreditar! Que escândalo!
- Clara, não aconteceu nada na cozinha. - Teto tenta começar a explicar, mas é interrompido pelo riso contagiante de Clara.
- E por que tem batom na sua boca? - Clara pergunta a Clériton.
Ele arregala os olhos e limpa a boca com a mão. Olho pra ele com uma expressão de "Sério?!".
- Achei que você fosse mais inteligente. - Matuê diz pra ele.
- Gente, tá tudo bem. Espero que tenha sido somente beijos. Minha cozinha é nova. - Clara diz e eu saio andando mostrando o dedo pra todos. - Agora eu tô numa brisa muito forte, mas amanhã eu quero falar com você. - aponta para mim.
Escuto a porta do quarto deles se fecharem à medida que ando pelo corredor em direção ao meu quarto. A adrenalina da situação ainda pulsa em meu peito quando Teto me alcança.
- Sam, espera. - ele me para suavemente, olhando em meus olhos.
- O que foi? - pergunto, tentando ignorar a tensão no ar. - Cê acha mesmo que eu uso batom de madrugada? - ele ri nasalado e se inclina, tentando roubar um beijo de boa noite.
Um misto de surpresa e antecipação percorre meu corpo, mas uma parte de mim também se sente atraída pelo gesto espontâneo.
O beijo é suave, uma mistura de doçura e arrepios que percorrem minha espinha. As preocupações da noite se dissipam por um momento enquanto me entrego à sensação. Teto se afasta, mas seus olhos ainda seguram os meus.
- Boa noite, madame. - ele sorri, deixando-me no corredor, onde o silêncio da casa parece mais profundo após a turbulência anterior.
Ando até meu quarto, a mente repleta de pensamentos sobre o que acabou de acontecer. O gesto de Teto foi inesperado, mas trouxe consigo uma doce tensão que persiste mesmo após fechar a porta.
No interior do quarto, a penumbra cria um ambiente acolhedor. Pego o celular para checar as mensagens, mas minha mente ainda está na cozinha e nos corredores onde o destino decidiu pregar suas peças.
Em um momento em que mal consegui desbloquear o aparelho celular que deu carga o suficiente para ligar, escuto passos se aproximando do quarto, e a porta se abre lentamente. Teto está ali, ainda carregando a sombra da tensão da noite.
- Posso entrar? - ele pergunta, sua expressão revelando uma mistura de nervosismo e determinação.
- Que foi? - digo, surpreendida, mas receptiva ao convite.
Ele entra e a porta se fecha atrás de nós. O quarto parece menor agora, como se estivéssemos isolados do mundo exterior. O que Teto está prestes a dizer ou fazer cria uma expectativa no ar.
- Tem algo que quero esclarecer. - diz, se aproximando, seus olhos buscam os meus.
Antes que eu possa perguntar, ele me surpreende novamente, mas dessa vez não com palavras. Seus lábios encontram os meus, um beijo cheio de intenções e, ao mesmo tempo, de incertezas. É como se estivéssemos dançando na linha tênue entre a amizade e algo mais.
A noite, que começou com uma reviravolta inusitada, parece se desdobrar em capítulos imprevisíveis. Nesse momento, no meu quarto à luz tênue, com a porta fechada, Teto e eu nos encontramos num espaço onde as palavras se tornam desnecessárias e as emoções falam mais alto.