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O festival finalmente chegava ao fim, mas a turbulência dos bastidores ainda ecoava em nossas mentes enquanto nos dirigíamos para casa. Matuê e Clara se perderam nos corredores da excitação pós-show, enquanto eu buscava um momento de tranquilidade à beira da piscina.

A água refletia as luzes da noite, criando um ambiente sereno que contrastava com a agitação que experimentamos nos últimos momentos. Enquanto mergulhava meus pés na água, Teto se aproximou, seu olhar revelando a preocupação que persistia após o incidente nos corredores.

- Sam, sobre antes... - ele começou, suas palavras hesitantes.

- Me desculpe... - minha voz transmitia uma compreensão mútua da complexidade da situação.

Ele se sentou ao meu lado, seus pés balançando sobre a água também. A noite estava silenciosa, mas a tensão entre nós era gritante.

- Eu só queria dizer que... Eu sei que você estava nervosa com a situação toda. Não precisava ter se desculpado. - um sorriso tímido surgiu em meu rosto, reconhecendo a sinceridade em suas palavras.

- Mesmo assim, eu fui rude com você mais cedo. Não foi justo, e eu sinto muito por isso.

- Não precisa se desculpar, Sam. Eu só queria ter certeza de que você está bem. - agradeci pela preocupação, sabendo que a batalha emocional não terminara completamente.

Por um momento, mergulhamos em um silêncio contemplativo. A água da piscina refletia as estrelas, criando um cenário calmo.

- Sam, eu... eu só quero que saiba que tem um amigo aqui. - quebrou o silêncio.

- Significa muito para mim. - minha expressão transmitia a sinceridade das minhas palavras.

- Acho que todos nós carregamos bagagens, não é mesmo? - quebrou o silêncio novamente.

- É que às vezes a bagagem era pra ter se extraviado. - ele riu.

Decidimos entrar para irmos cada um para seu quarto. Matuê e Clara já haviam se recolhido, deixando um silêncio reconfortante no ambiente.

À medida que nos aproximávamos dos nossos cômodos, trocamos olhares, sabendo que havíamos compartilhado algo único naquela noite.

- Boa noite, madame. - ele disse suavemente, seu sorriso refletindo uma mistura de alívio e compreensão.

Mas havia algo mais nos olhos dele, algo que fazia meu estômago formigar.

- Boa noite, Teto. - respondi, sentindo um peso se dissipar, mas uma tensão subindo entre nós.

Ao fechar a porta, soltei um suspiro, liberando a tensão. Meus passos lentos ecoavam no piso enquanto eu me dirigia ao banheiro. A água corria suavemente quando liguei o chuveiro, preenchendo o ambiente com um murmúrio da água.

Despi-me dos vestígios da noite agitada, deixando as roupas caírem no chão. O vapor do chuveiro envolvia o espaço, criando uma cortina. Sob a cascata de água quente, senti a meu corpo ceder, uma liberação gradual. Fechei os olhos, permitindo-me absorver a sensação reconfortante do banho que, por alguns instantes, serviu como uma pausa nos pensamentos. À medida que a água caía suavemente, minha mente começou a divagar para territórios inesperados. Imagens vagas de Teto, banhado pela mesma água quente, começaram a se formar, como se o vapor do chuveiro estivesse criando ilusões na minha mente.

Sacudi a cabeça, tentando dissipar aquelas fantasias irreais. O som constante da água caindo agora parecia ecoar minhas próprias hesitações. "Isso é loucura", pensei comigo mesma. Desliguei o chuveiro, envolvi-me numa toalha macia, absorvendo a umidade pós-banho que impregnava meu corpo.

Meus passos me conduziram de volta ao quarto, onde a cama, com seus lençóis convidativos, aguardava para oferecer um descanso. Deitei-me, sentindo a maciez da cama, mas o repouso se tornava um luxo inatingível. Os instantes mais cedo ecoavam em minha mente, alimentando uma inquietação que impedia qualquer tentativa de sono.

Decidi sair do quarto, buscando uma fuga temporária na calada da noite. Corredores silenciosos se estendiam diante de mim, como passagens sombrias conduzindo a destinos desconhecidos.

Ao abrir a porta, o silêncio noturno se rompeu, e me deparei com um inesperado encontro.

Morfina • Teto • 30PRAUMOnde histórias criam vida. Descubra agora