18- Turquia

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Estávamos sentados à mesa, eu e meus pais, tomando café da manhã. Tinha chegado hoje cedo dos Estados Unidos, e ainda precisava lidar com algumas questões relacionadas à máfia, já que estou em transição de poder. Dentro de poucos meses, meu pai vai me passar oficialmente o cargo que me pertence por herança — o líder de todas as tribos da nossa máfia turca.

— A Sila já foi para a escola? — perguntei, referindo-me à minha irmã caçula de 16 anos, que ainda estava no ensino médio. — E o Çinar? Por onde anda, já que não está aqui? — Meu irmão, que é apenas um ano e meio mais novo que eu, também não estava presente. Tenho outra irmã que já é casada e mora em outra cidade da Turquia com seu marido, um líder tribal.

— A Sila já foi para a escola sim, e por Alá! O Çinar chegou tarde ontem, deve estar dormindo até agora! — respondeu minha mãe.

— Bom dia, família! — apareceu Çinar, finalmente, com aquele ar desleixado de quem havia acabado de acordar.

— Pensei que estivesse morto em algum lugar, já que não atendeu minhas ligações! — respondi seco.

— Olha a língua! — mamãe bateu na mesa, irritada com meu tom.

— Perdão, mamãe. É que ele não deu sinal de vida. — Tentei me justificar, sem grande sucesso.

— Desculpa, irmão! Apaguei depois do trabalho de ontem, mas já resolvi o que precisava ser resolvido. — disse Çinar, socando um pedaço de bolo na boca. Nesse momento, meu celular vibrou com uma mensagem.

"Já cheguei na Itália. Agora estou indo para a mansão com meu pai! Sei que já deve saber disso, só estou avisando."

Sorrio ao ler a mensagem, e meu pai logo percebe.

— O que tem de interessante aí que fez o mau-humorado sorrir? — perguntou ele, com um sorriso intrigado.

— Sua futura nora, pai. — falei, tentando esconder o entusiasmo.

— Já escolheu sua esposa? — ele ergueu uma sobrancelha, surpreso.

— Sim, falta ela aceitar. — disse, sabendo que isso não seria tão simples.

— No meu tempo, a mulher não tinha que aceitar nada. Era escolhida e ponto final. — Ele deu uma risada nasal, enquanto bebia seu café.

— Que eu me lembre, não foi assim conosco, meu querido! — Minha mãe piscou para ele, provocando.

— Nós sabemos! — Eu e Çinar falamos ao mesmo tempo, rindo.

— Você passou meses tentando me conquistar, enchendo a porta da minha casa com pétalas de rosas. — Minha mãe riu, relembrando.

— E me ignorava em tudo, se fazendo de difícil. — Meu pai riu, balançando a cabeça.

— Claro! O futuro líder do clã estava me cortejando, não queria que você pensasse que eu era uma mulher fácil.

— Continua não sendo. — Ele riu novamente, e eu me peguei admirando a história de amor dos dois.

— E como é essa mulher, meu filho? — Minha mãe perguntou com um olhar curioso.

Suspirei, sentindo um calor diferente no peito ao falar sobre ela.

— Ela é uma mulher forte, com uma beleza radiante. Quando entra em um lugar, todos param para olhar e admirar. O que tem de beleza, tem de inteligência. Fundou uma empresa e, em três anos, transformou-a em uma das melhores do mundo. E ela não se dobra a ninguém, nem mesmo a mafiosos! — Terminei, percebendo que estava praticamente suspirando como um bobo apaixonado.

— Quem é você? E o que fizeram com meu irmão frio e sanguinário? — Çinar perguntou, incredulamente, franzindo o cenho.

— Bateu a cabeça em algum lugar? Apresentei tantas moças para você, e nunca era o bastante. Sempre tinha algo que não gostava. — Minha mãe colocou a mão na minha testa, fingindo checar se eu estava febril.

— Haha! Meu filho é igual ao pai. Conquiste-a como fiz com sua mãe. Essa vale a pena. Derreteu seu coração de gelo, hein? — Meu pai riu, satisfeito.

— Terei que lutar por ela. Parece que algum idiota estragou a cabeça dela, e agora está difícil de entender e conquistar.

— Qual o nome dela? — minha mãe perguntou, já entrando no modo interrogatório familiar, que eu conhecia muito bem. Quando a família quer uma resposta, nada neste mundo os impede.

— Só direi quando chegar a hora. Por enquanto, respeitem minha decisão. E mãe, por favor, chega de apresentações de mulheres. Maninho, está na hora de você arrumar uma namorada!

— Preocupe-se com você, que precisa arrumar um herdeiro! Depois, eu arrumo a minha! — Çinar rebateu, provocando.

— Olha o respeito! — retruquei, tentando manter a seriedade. — Apesar de ser seu irmão e braço direito, sou seu futuro Capo! — Falei, deixando claro que a hierarquia estava em jogo, mesmo entre risos.

— Claro, senhor Capo! — Çinar fez uma falsa reverência, mas com um sorriso no rosto.

Minha mãe nos observava, balançando a cabeça com um sorriso suave. Por mais que ela tentasse manter o controle, havia uma ternura nos seus olhos sempre que nos via juntos. Meu pai, por outro lado, permanecia sério, mas era o tipo de seriedade que escondia orgulho. Ele não era muito de demonstrar emoções, mas eu sabia que, no fundo, ele amava esses momentos de provocação entre a gente.

— Vocês dois, sempre nessa briga sem fim. — Minha mãe sorriu, quebrando o silêncio. — Mas, Çinar, seu irmão está certo. Já passou da hora de você encontrar alguém. Não tem nenhuma moça interessante à vista?

— Mãe, por favor! — Çinar revirou os olhos, visivelmente incomodado com a insistência. — Tenho coisas mais importantes pra resolver. Vocês acham que o império se mantém sozinho?

— Ah, pronto! O futuro Capo e o futuro segundo no comando, ambos presos ao trabalho. O que aconteceu com a ideia de formar famílias e gerar herdeiros? — Meu pai provocou, cruzando os braços, a expressão impenetrável, mas o tom cheio de sarcasmo.

— Já falei, pai. Tenho que resolver algumas coisas antes de pensar nisso. — Retruquei, tentando não parecer pressionado, mesmo que o assunto "herdeiros" começasse a me pesar nos ombros.

Meu pai apenas assentiu, mas eu sabia que ele levaria a sério cada palavra. O tempo estava se esgotando. Não só o tempo de assumir a liderança da máfia, mas também o tempo de construir a vida que ele esperava de mim.

— Agora, chega de discussão. Temos muito o que fazer. — Meu pai disse, levantando-se da mesa. — Rodrigo, quando a transição de poder acontecer, você precisará estar preparado para enfrentar muita coisa.

Eu sabia que ele estava certo. A liderança da máfia turca não era um cargo qualquer. Não era só uma questão de herança, mas de poder, respeito e, acima de tudo, controle.

— Sei disso, pai. Estou pronto. — Falei, com firmeza, escondendo qualquer traço de insegurança que pudesse estar surgindo.

— É bom mesmo. — Ele lançou um último olhar, antes de sair da sala, seguido pela minha mãe, que lançou um sorriso reconfortante antes de desaparecer também.

Agora, restava apenas eu e Çinar.

— E aí, pronto pra ser o braço direito do Capo? — Perguntei, tentando aliviar o clima.

— Se você não morrer de amor antes. — Ele riu, me socando de leve no ombro.

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