16

290 15 0
                                    

A vida tem uma maneira cruel de nos lembrar que, no final das contas, é ela quem dita as regras. Fugi deste lugar e da minha família por anos, mas assim que pisei novamente nesse solo, senti que as correntes do passado me prendiam. Aqui estou eu, dentro de um dos restaurantes que pertencem ao meu pai, um espaço onde o seu poder é palpável, como se cada parede estivesse marcada por sua presença.

Os soldados do meu pai já devem ter me visto no aeroporto. Assim que saí do carro, soube que a visita do temido Antônio Ferrari estava prestes a se concretizar. O mafioso que, por sua vez, é meu pai.

— Minha menina voltou para sua terra! — exclamou Francesco, o dono do restaurante, um amigo de longa data da família. Seu sorriso era genuíno, mas eu sabia que havia um subtexto em sua alegria.

— Tio, Francesco! — abracei-o, um sorriso forçado nos lábios.

— Afinal, a ovelha negra da família Ferrari tinha que ter uma volta triunfal, bem a tempo do casamento da Isabella! — Ele riu, mas o tom dele fez meu coração acelerar de ansiedade.

— Ovelha negra, meu pé! De todos, você é a mais próxima de ser santa! — Eu ri, mas a leveza da conversa foi rápida, como um fôlego preso na garganta.

— Vou preparar um lanche especial para você, aquele que você amava quando vinha aqui! — Francesco sorriu, e eu pude sentir um fio de esperança aquecer meu coração.

— Ainda gosto! Só não consegui encontrar ninguém que faça como você, tio! — Respondi, buscando um momento de conforto em meio ao caos.

Minutos depois, ele voltou com meu lanche favorito: torradas recheadas com patê. Mas antes que eu pudesse dar uma mordida, a paz foi interrompida. Duas mulheres se sentaram à mesa ao meu lado, e a atmosfera mudou de repente. A loira e a morena trocavam olhares carregados, seus sorrisos eram venenosos.

— Estão deixando qualquer uma entrar nesse restaurante agora? — a loira disparou, suas palavras cortantes como facas.

— Arianna, você precisa avisar o Marco. Afinal, o pai dele é o dono desse território! — A morena debochou, olhando em minha direção como se eu fosse uma peça de xadrez em um jogo cruel.

— Vou falar com ele, afinal, sou noiva dele e tenho esse direito! — Arianna jogou o cabelo para trás, e eu não pude deixar de pensar como meu irmão poderia ter se apaixonado por alguém tão insuportável.

— Santo Dios! Me dê paciência para não explodir hoje! — murmurei, terminando meu lanche enquanto sentia a raiva crescendo dentro de mim.

Quem você pensa que é? Não tem nada melhor para fazer? — desafiei, a voz tremendo de indignação.

— Eu sou Arianna, futura esposa do herdeiro da máfia italiana! Então, respeite quem faz parte da realeza, queridinha! — Ela gritou, seu desprezo ecoando.

— Parece que seu "herdeiro" tem péssima escolha de mulher! — Eu ri sarcasticamente, e um dos seguranças dela se aproximou, mas o reconheci e o impedi com um olhar.

— Que inveja! Arianna é o melhor partido da Itália! — A morena exclamou, enquanto a loira bufava, claramente irritada.


- — Aparentemente, a Itália está fraca! Apenas as mulheres da família Ferrari têm dignidade, beleza e elegância! — retruquei, levantando-me para sair. Mas antes que pudesse ir, a loira puxou meu cabelo.

— Sua vadia!! — ela gritou, e a raiva tomou conta de mim. Com um movimento rápido, a empurrei, fazendo-a cair no chão.

— Onde está meu segurança? — Ela se levantou, tentando me socar, mas desviei com agilidade, chutando sua barriga e socando seu nariz.

— Ele não vai vir te socorrer, sabe por quê? — uma voz masculina interrompeu.

— Que porra está acontecendo aqui? — Meu irmão Marco se aproximou, a preocupação em seu olhar se misturando à fúria.

— Amor!! Essa mulher me bateu, e meu segurança não fez nada! Olha meu nariz sangrando! — Arianna começou a chorar, uma atuação digna de Oscar.

— O seu teatro de donzela acabou! Como é mesmo seu nome? Ah, Arianna! — Marco e meu pai mantinham a postura, e a tensão no ar era palpável.

— Mata essa desgraçada! Faltou com respeito comigo! — Arianna gritou, com uma arrogância que me tirou do sério.

— Senhor, a senhorita foi importunada! — A morena cochichou em meu ouvido, mas eu sabia que estava cercada por cobras.

— Ela não fez nada demais! Apenas situou o comportamento inadequado da senhorita Arianna! E, por sinal, a mesma tentou agredir, mas foi agredida em legítima defesa! — A voz de Marco ressoou firme, e eu sentia o peso da expectativa.

— Que mentira! Mata esse soldado também, querido! — Arianna olhou para meu pai, mas ele não parecia convencido.

— Já chega, Arianna! — Marco falou, seu tom cortante.

— Quem você pensa que é? Perdeu a noção da vida? — Meu pai, com voz autoritária, desafiou.

— Está cancelado o casamento de vocês! Não quero essa mulherzinha como minha nora! — A ordem reverberou, e todos pararam, absorvendo o impacto como se um trovão tivesse ecoado.

— Mas—, faça algo, amor! — Arianna olhou para Marco, seu desespero evidente.

— Eu não vou fazer nada! As palavras do meu pai são as minhas! Acabou! Não quero uma mulher que trata meu povo assim como você tratou minha irmã!

— Irmã? — Arianna e sua amiga gritaram, incrédulas, a expressão de choque em seus rostos era um prêmio para a minha raiva.

— Sim, eu sou uma Ferrari! — Sorri para Marco, um desafio nos olhos.

— É assim que você me recebe? — Olhei para ele, colocando as mãos na cintura, meu coração batendo mais rápido.

— Vem cá, baixinha! — Ele me abraçou, e a familiaridade do gesto me trouxe um conforto inesperado.

— Estava com saudades de te atormentar! — Ele me soltou e fez espaço para meu pai, que se aproximou.

— Carolina? — A voz dele soou como um eco que eu não esperava.

— Pai! — Ele abriu os braços, quase deixando uma lágrima escapar, e naquele momento, as barreiras que eu havia construído começaram a desmoronar.

— Esperei por esse momento, minha princesa! — Ele me envolveu em um abraço apertado, e por um instante, senti como se o mundo estivesse em paz.

— Como posso te perdoar? Pelo que você fez?

— Como perdoar? Eu esqueço as merdas que você fez e, depois, sou notificada de uma bem maior?! Me casar? Sério, pai? E ainda ter um bando de marmanjo me seguindo?

— Eu sei! Vamos para casa conversar, sua mãe nos espera!

— Tá bom, pai! — E assim, entrei de volta na tempestade familiar que sempre tentei evitar, ciente de que essa guerra ainda estava longe de acabar.

Minha Riqueza Onde histórias criam vida. Descubra agora