Sincronia Noturna.

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                   Sincronia Noturna

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                   Sincronia Noturna.
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 — Que droga tá acontecendo? — Perguntei ao meu próprio reflexo, de frente para o espelhinho acima da pia. Não era uma boa ideia deixar o Senhor Cérebro sozinho com os meus pais, mas após uma mísera ordem da mamãe sobre ir tomar um banho, acabei enxergando a saída que tanto precisava. Antes de aceitar, olhei para Valentim por alguns segundos.
 
      “Posso ir? Você vai ficar bem?” foi o que meu olhar perguntou. Fechando seus olhos calmamente e assentindo com sua cabeça, li aquela feição como se ele estivesse me dizendo “Vai tranquila”. Mas insisti. Meu olhar persistiu e perguntou novamente “Certeeeeza?” e o ato que tive como resposta foi ser completamente ignorada. Ele ajudava com os pratos antes de agarrar João Miguel em seu colo. “Óia. Desenho” disse João Miguel, apontando para o tablet que estava em sua mão. Valentim abriu um sorriso, agora também olhando para tela e falou “É meu desenho favorito, sabia? Eu não perco um episódio de…”, “Joãozinho.” tive que completar. “Joãozinho.” ele repetiu, confiante.

    Em poucos segundos, Lorenzo e Isaac apareceram, percebendo que o irmão estava tendo uma atenção a mais. Eles começaram a brigar pelo colo, o que fez Valentim se contorcer para pegar todos juntos. João Miguel em um braço, Lorenzo em outro e Isaac acima de seu pescoço fingindo que ele era um cavalo. É, ele não ficaria bem. Claramente aquilo não passava de pura atuação, afinal, Valentim não tinha cara de ser um fã de crianças, mas ele parecia mesmo estar se divertindo com os trigêmeos o fazendo de capacho. Agrupando mais a mamãe e o papai o enchendo com perguntas, imaginei que ele continuaria sendo um grande guerreiro e lidaria bem com a situação. Aproveitei o momento para procurar refúgio — o chuveiro — e ele poderia levar aquilo como uma vingancinha. Não me teria por alguns minutos para o livrar de perguntas constrangedoras, tampouco o ajudar com algumas falas indecifráveis das crianças.

— É castigo. — Continuei, usando minha imagem no espelho como psicóloga, enquanto deslizava meu hidratante preferido sobre minha pele. Sua fragrância de cereja e amêndoas era ótima e se assemelhava muito com o cheiro de algum iogurte de morango. —- Não é possível. Valentim na minha casa e jantando com todos. Escutando perguntas bobas como se fossemos “nAmOrAdInhOs”. — Debochei mostrando minha língua no final da frase, tentando demonstrar o asco que sentia. — Espero que todas as pessoas para quem ele conte essa história tenham amnésia pelo resto de suas vidas e morram jovens. Afinal, aquele tonto tem com quem desabafar, rir e contar histórias ridículas como essas. Agora, eu…

     Antes de continuar reclamando, fazendo hora e enrolando para me livrar da toalha que cobria meu corpo, olhei para meu celular. Eu agora tinha com quem conversar. O agarrei sem pensar duas vezes e fui até o aplicativo de mensagens. Meu caro amigo mascarado não deu um sinal de vida desde sua última mensagem.

— Eu deveria mandar um alô? — Perguntei outra vez para mim. Estava ficando cada vez mais comum ter longas conversas sozinha. Estava ficando maluca? Precisava fazer exames de cabeça urgente.

Amizade Entre Opostos.Onde histórias criam vida. Descubra agora