Proximidade Eletrizante.
✦✦✦✦Passaram-se alguns segundos até que eu tivesse noção do que estava fazendo. Na noite do show do 4Trevos, tive o conhecimento esmagador do quão reconfortante é receber um abraço de urso, graças ao meu novo amigo virtual. Ainda tinha sonhos com aquele dia, acordava com um sorriso tolo no rosto, arrepios bons por todo o corpo e uma vontade quase insaciável de saber qual era o rosto que a maldita máscara guardava e escondia. Procurava na internet qualquer vestígio que tivesse vazado da sua face, mas infelizmente eles eram completamente cuidadosos com isso e não havia nada demais. Com o passar dos dias, eu o agradecia interiormente cada vez mais pelo abraço de presente, que eu nem sequer sabia que — tanto — precisava.
E seguindo tal linha de raciocínio, pensei por menos que três zeptosegundos que um abraço poderia ajudar Valentim. Que ele se sentiria acolhido, igual quando eu me senti. Mas não demorou muito para que meu rosto começasse a entrar em combustão e faíscas começassem a sair pelos meus ouvidos. Eu tinha feito outra besteira. Precisava parar imediatamente, arrumar algum jeito de dar um fim naquela mania feia de ouvir e seguir meus pensamentos intrusivos. Valentim continuou parado. Não me abraçou de volta. Provavelmente não precisava de um abraço. Ele não era um bobo derretido, como eu, por exemplo, que fiquei completamente encantada com apenas um abraço que recebi.Semelhante aos desenhos animados, uma parte da minha consciência apareceu no meu ombro esquerdo, em forma de uma mini Briana vermelha, com chifres e um rabinho, resmungando no meu ouvido: “É isso que dá ser uma tonta impulsiva! Viu só?! Acha que só porque ele te carregou, quer dizer que pode sair por aí, mantendo todo esse contato físico com ele? Parabéns, querida, você acabou de deixá-lo totalmente desconfortável e jogou o clima lá no chão. E sabe o pior? Vocês serão uma dupla até o final do ano! Aposto que a cara dele está péssima agora!”. Para amenizar a situação, no meu ombro direito, outra mini Briana, desta vez com asas e uma auréola dourada sobre sua cabeça, se manifestou: “É… Não tenho como defender. Foi ruim. Péssimo. Uma droga. Terrível. Mas ao menos você tentou, não é?”.
Eu estava pirando. Minha consciência sábia estava concordando com meu lado perverso, e eu nem sabia que isso era possível. Era tão assustadoramente óbvio que poderia ser visto pelos alienígenas de outros planetas que, seguir com a ideia de abraçar O VALENTIM era semelhante a deixar vários halteres caírem no meu próprio pé de propósito. Ao menos se tivesse pedido, não? Com certeza ter um abraço negado gentilmente por Valentim seria muito menos vergonhoso e catastrófico do que estar pendurada no pescoço dele, feito uma blelelé das ideias, com ele provavelmente se segurando para não me jogar pela janela. Sua expressão com certeza estava similar a quando descobri que os bebês não eram produzidos colocando uma semente de melancia no umbigo da mulher, muito menos que eram trazidos por uma cegonha enrolados em um pano sustentado pelo seu bico.
Porém, percebi que, enquanto cancelava a mim mesma mentalmente, mais tempo eu passava ali. Ansiei para que aquilo fosse como uma cena de livro, em que só bastasse voltar uma página e fechar a porcaria do exemplar. Passar para a próxima folha era completamente incogitável, já que poderia piorar.
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Amizade Entre Opostos.
Roman pour AdolescentsA vida de Briana foi virando de cabeça para baixo aos poucos, e não havia nada que ela pudesse fazer para evitar. Desde terríveis conflitos internos na família, até desentendimentos com seu (ex)grupo musical. E para complementar toda a salada...