Interligados.

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                         Interligados

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                         Interligados.
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    “Ele é tão legal” era a afirmativa que sobrevoava pelo meu subconsciente, viajava pela minha cabeça e parava na ponta da minha língua, mas morria e era trocada por outra coisa sempre que eu abria a boca. Tudo pareceu cair por terra quando um casal adolescente se sentou na mesa ao lado. Dividiam um único canudo e se beijavam mais do que piscavam. Precisei apertar meus lábios e me conter ao máximo para não acabar soltando um despretensioso “Podia ser a gente, né?”. Me perdia no assunto quando entrava sem querer em algum devaneio, que me levava para uma realidade cósmica romântica em que Valentim e eu nos beijávamos.
   
    Era óbvio que tinha algo de errado acontecendo ali. Sendo mais direta, tinha algo completamente errado comigo. Sensação de fogo ao invés de sangue passando pelas minhas veias, risos excessivos por coisas que talvez nem fossem tão engraçadas assim. Tendo beijado apenas uma vez na minha vida, não sabia ao certo as definições de beijar bem ou mal, mas gostaria que Valentim me mostrasse. Tinha uma curiosidade absurda para saber em quais das duas definições ele se encaixaria. Precisava tomar doses de cuidado redobrado para não acabar pensando alto e deixando algum pensamento catastrófico ultra vergonhoso escapar. O que ele diria se soubesse que eu estava imaginando a textura ou o gosto dos seus lábios? Só de imaginar sua reação horrorizada e o julgamento de “Que menina carente” minha pele se arrepiava de vergonha.

   Depois de um tempão abraçados em frente ao Ramalho (sinceramente, passar por outras decepções e receber como prêmio de consolação a oportunidade de ficar grudada com Valentim não me parecia nada mal) começamos a andar um pouco sem rumo. Ao menos era o que eu achava. Mas acabamos parando em uma lanchonete, e por convite de Valentim — que precisou insistir um pouco mais que dez vezes —, entramos. Enquanto meu cérebro martelava que nós estávamos gastando e abusando do dinheiro de Valentim, minha barriga soltava confetes e fazia uma grande festança.

    Tivemos tempo para falar sobre tudo. Valentim xingou Vagner por mim e deixou claro que bastava pedir que ele iria resolver aquilo para mim, me acalmou quando senti que desabaria de novo, se propôs a ouvir como eu tinha parado em toda aquela confusão. E claro, como poderia esquecer do sorriso mais bonito que já vi em toda a minha vida? Ou não lembrar da risada gostosa que ele soltou quando contei sobre Erick e seu apaixonante beijo com o pobre sapinho? Aquela risada maléfica — mas muito linda — que com certeza saiu do fundo de sua alma provavelmente estava guardada a anos. A cada vez que sua gargalhada ou um simples riso me chamava a atenção, tentei não demorar meus olhos na sua boca, mas sem conseguir calar o pensamento de… que boquinha linda.

   Mas nós não poderíamos ficar por ali, comendo salgadinhos e bebendo refrigerante. Enquanto nos divertíamos juntos, contando casos parecidos de infância e descobrindo coisas muito importantes em comum, como por exemplo, os dois sabiam que tirar a água do macarrão instantâneo o deixa muito melhor ou que capivaras são os melhores animais da face da terra, existia sempre um mini diretor Leônidas no meu ombro, resmungão como sempre, batendo com sua régua gigante de plástico na minha cabeça, dizendo: “Você foi pra ficar de gracinha com Valentim ou para poder fazer as atividades que PRECISAM ser feitas? Você prefere ir fazer a porcaria dos exercícios ou repetir de ano? Dois reais ou uma repetência misteriosa?” E não importava quantos petelecos dava para que aquela maluquice saísse dali, ele evaporava mas sempre voltava. “Ah, que bonito. Tá me ignorando? Fica aí, sorrindo igual uma idiota e esquece das matérias. Esquece seu futuro! O que a Briana Exemplar, antiga mini militante, diria se soubesse que acabou de trocar seus estudos por um garoto? Decepção.

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