Cheirinho de Ciúmes no Ar.
✦✦✦✦— O quê?! — O meu tom de voz subiu algumas notas, fazendo alguns alunos olharem na nossa direção. Comecei a ver alguns pontinhos pretos e o meu estômago ficou abalado. — C-como assim?! Quando? Ai, meu Deus!
— Olha só, princesa, eu ainda não tô acreditando que tô ajeitando você pra outro mano — lamentou soltando um forte ar no final. — Ele disse que precisa ser hoje porque daqui alguns instantes vai pra outra cidade.
— Não entendi. Alguns instantes? Ah, já sei. Provavelmente ele vai pra uma cidade aqui do lado e, quando ele chegar, nos encontraremos. Não é? — perguntei já visualizando todo o meu guarda-roupa e planejando dar uma boa olhada no Pinterest para selecionar algum penteado (mesmo sabendo que não era boa com penteados. Da última vez que tentei copiar uma blogueira, ela saiu linda, maravilhosa no final do vídeo, e eu encarando o espelho semelhante a uma baratinha). Queria que ele enxergasse minha melhor versão.— Não, neném. Vocês vão se encontrar antes. Ele disse que é pegar ou largar.
Torci minhas sobrancelhas. Ele estava inventando coisas? “Pegar ou largar” não era uma expressão que Vagner usava, tampouco combinava com ele. De certa forma, soava até rude. Com meus punhos fechados, respirei fundo. Erick estava exagerando porque não queria que eu me encontrasse com Vagner. Era isso. E depois de tanto tempo torcendo para que aquele momento acontecesse, eu não poderia deixar que nada estragasse. Tinha tanto para contar, dizer, agradecer. Não era hora de torcer o bico por causa de uma simples expressão — que com certeza não saiu da boca de Vagner.
— Quão antes? — questionei estreitando minha visão. Precisava avisar meus pais, selecionar algumas opções de roupas, tomar um banho bem relaxante para não ficar tão nervosa, dar um jeito com maquiagem na espinha gigante que apontava feito um chifre no centro da minha testa e…
— Olha, é uma mensagem do Vagner — Erick disse checando seu celular. Sua tela de bloqueio era ele mesmo, só que sem camisa e segurando um copo com algum líquido laranja dentro (com certeza não era refrigerante) e a tela inicial coincidente também era ele sem as vestes de cima e com uma bermuda super baixa (não dava pra ver as bordas de sua cueca, e eu esperava muito que na foto ele estivesse usando uma). — Então, na verdade, minha jóia, o cara tá indo pra lá agorinha. É melhor você correr.
— HÃ?! Como assim ele tá indo pra lá agora?! Lá? Lá onde?! — questionei sentindo a necessidade de começar a arrancar o meu cabelo. Iria chegar lá levando o ar estudantil? Uniforme com marca de molho por causa do lanche no intervalo (o cachorro quente da Dona Esperança é uma delícia), meu cabelo preso em um rabo de cavalo hiper mal feito, mochila…
— Parece que o lugar se chama Ramalho. Eu não sei te dizer onde é, Docinho, mas parece ser algum tipo de café.
O Ramalho é um daqueles lugares que sabemos o que é, todos os itens do cardápio, preços, mas nunca vamos. O motivo é simples: um pão de queijo com um micro copinho de café é quase um salário inteiro. Quando pequena, minha concepção de rico era uma criança ter alguma Barbie que o cabelo muda de cor quando entra em contato com a água. Agora sabia bem que, se a pessoa tinha alguma foto no cenário característico de madeira do Ramalho era porque aquela pessoa tinha dinheiro sobrando na conta — ou os pais.
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Amizade Entre Opostos.
Ficção AdolescenteA vida de Briana foi virando de cabeça para baixo aos poucos, e não havia nada que ela pudesse fazer para evitar. Desde terríveis conflitos internos na família, até desentendimentos com seu (ex)grupo musical. E para complementar toda a salada...