A vida de Briana foi virando de cabeça para baixo aos poucos, e não havia nada que ela pudesse fazer para evitar.
Desde terríveis conflitos internos na família, até desentendimentos com seu (ex)grupo musical. E para complementar toda a salada...
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Levitação Perfeita. ✦✦✦✦
Todos conhecem aquela pessoa que passou a vida inteira exercendo uma única profissão. O diretor Leônidas, apesar de ser diretor há um bom tempo, também foi professor. Em alguns boatos, dizem que depois que sua mãe o teve, ainda na sala de parto, ele já saiu puxando alguns alunos pela orelha e os levando para a sala de aula. Mas é somente um boato.
E em toda essa vida, rodeado de pais chatos de adolescentes e crianças chatas, ele já deve ter visto trilhões de letras. Bonitas, feias. Aquela letra redondinha que claramente não foi a Giovanna do primeiro aninho que fez. Garranchos que ele não conseguiu decifrar e somente pontuou a atividade. Se fosse com a professora Karen, eu até me daria o trabalho de refazer tudo que Erick tinha feito, afinal, ela tem uma marcação especial — injusta — comigo. Mas o diretor? A cabeça dele com certeza era uma máquina que iria acabar falhando em algum momento. Cheia de provas, trabalhos, detenções e Funko Pops.
— É… Hm… — Eu havia virado um peixe? Minha boca não parava de abrir e fechar. Nenhuma desculpa parecia boa o bastante. Talvez porque não existe algo que fizesse sentindo para justificar as letras distintas. Fingir desmaio e acordar com amnésia era uma boa? Que tal começar a chorar e implorar por perdão?
Com meu olhar perdido, talvez interiormente eu estivesse procurando alguma saída de emergência. Mas não havia nada que pudesse me ajudar. Uma estante cheia de livros chatos. Um mar de papéis. Um mini bebedouro azul. Seus bonequinhos cabeçudos.
— O mini Hulk ali é novo? — Questionei, olhando para um de seus bonecos ainda dentro da caixa e soltando um enorme sorriso no final que com certeza deu uma visão nítida de todos os meus dentes.
O diretor fechou seus olhos. A sua mão direita apertava forte o meio das folhas, o que me fez engolir sem ter vontade. Uma vez cheguei a conclusão de que Leônidas tinha duas personalidades: ou ele era meu best, ou ele só era o diretor. E naquele momento eu estava começando a suspeitar de que ele estava sendo o diretor. Onde será que meu lindo amiguinho da guitarra estaria? Teria tempo para vir me tirar daquela patacoada? Ele provavelmente estaria de longe, observando sua garota especial. Usar suborno com o diretor funcionaria? “Então, se me deixar sair livre dessa, te consigo um autógrafo.” Não. Além de uma pirralha que o tentou passar para trás, também seria vista como mentirosa — ele não iria acreditar que converso com o novo integrante do 4Trevos, e se acreditasse, eu não tentaria conseguir um autógrafo para ele.
— Briana Silveira. — Droga! Ele estava falando meu nome completo ao invés de me chamar apenas de Bri. Aquilo não era somente uma bandeira vermelha indicando que tudo poderia dar errado, era uma lona de circo vermelha e imensa, que poderia servir como um vestido para um gigante. Eu estava prestes a escutar uma de suas várias palestras. — Sente-se. — Me mantive em pé, sabendo que, se sentasse ali, sairia apenas no meu aniversário de 78 anos — Briana Silveira, sente-se. — Ele repetiu pausadamente.
