O beijo

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Quando Rodolffo regressava da escola sempre havia muitas tarefas de casa para fazer.

Felizmente ele conseguia almoçar porque ele regressava bem na hora que o seu Libério também ia almoçar e ao jantar era igual.
O problema era mesmo o café da manhã,  mas isso ele já nem ligava.

Ele fazia tudo muito rápido para dar tempo de estudar com  a Juliette.

Por seu lado a menina bonita adorava o seu novo amigo.  Durante anos ela viveu sozinha com os pais sem mais crianças e por isso adorava ler e ouvir música.

Hoje ela pediu aos colegas dela que tinham irmãos se podiam doar alguma roupa que já não servisse.  Rodolffo apesar de limpo, levava sempre a mesma roupa para a escola.  Era a que ela tinha comprado.  Ele mesmo lavava e cuidava.
Como tinha o uniforme ele pensava que ninguém via, mas viam e falavam.

As professoras depressa o foram passando de classe.  Além de esforçado era muito inteligente e dois anos depois Rodolffo já frequentava o sexto ano.  Estava dois anos atrás de Juliette. *

A par da escola Rodolffo estava a aprender a tocar violão.   No seu último aniversário Juliette ofereceu-lhe um violão e ele começou logo a dedilhar as cordas. Juntamente com ela ouvia a música no rádio e tentava reproduzir.  Já conseguia alguns sons coordenados.

Juntamente com o padrinho construiu um pequeno quarto junto à casa para ter a sua privacidade.  Não tinha energia mas ele aproveitava a luz da lua para algumas tarefas.

Com uns tijolos e umas tábuas fez a sua cama e umas prateleiras para guardar a roupa que entretanto Juliette tinha conseguido.  Até sapatos de verniz ele tinha agora.

Ele estava tão feliz.  Não fosse a convivência com a madrinha e tudo seria perfeito.

Juliette hoje estava irritada.  Nem mesmo a música a acalmava.  Sentou-se na colcha e começou a fazer os deveres, mas logo pousou o caderno.  Tinha ficado mocinha e estava com dores.   A mãe já tinha explicado tudo mas ela não pensava que era assim.

Rodolffo chegou e viu ela deitada de barriga para baixo.

- Estás com sono, menina bonita?

- Não.   Dói-me a barriga e estou irritada.

- Irritada porquê?

- Irritada porquê,  irritada. Não sabes o que é irritada.

- Desculpa.  É comigo?  Eu fiz alguma coisa má?

- Não é contigo, nada.  Acho que é coisa de mulher, mas eu não sei explicar.  Tu és homem.

Rodolffo fez-lhe um carinho no rosto e deu-lhe um beijo na testa.

Ela corou e baixou os olhos.

Ele segurou as mãos dela e disse:

- Eu nunca vou zangar-me contigo.

- Eu também não,  disse ela, mas eu queria pedir uma coisa.

- Podes pedir.  O que é?

- Eu tenho vergonha.

- Não tenhas.  Nós somos amigos.

- As minhas amigas já beijaram na boca e eu não.  Tu já beijaste?

- Não.  Eu nunca tive amigos nem amigas.

- Eu queria beijar.

- Quem?

- A ti.  Eu gosto de ti.

Rodolffo aproximou a cara da dela e deram um selinho demorado, depois Juliette afastou-se e começou a abrir os cadernos com os olhos em baixo.

Rodolffo segurou no rosto dela e perguntou:

- Foi bom?

- Foi.  Agora vamos estudar.

Fizeram os deveres em silêncio e até da música se esqueceram.

Regressaram a casa e nessa noite os dois tiveram dificuldade em adormecer.

N/A

* Não sei como é no Brasil.  Aqui em Portugal a escola obrigatória vai do 1°ano até ao 12°. 
A seguir é a entrada para a Universidade.

Ah. E esqueci de dizer que essa menina da capa sou eu com 11 anos, em Angola numa roça de produção de café.

Menina bonitaOnde histórias criam vida. Descubra agora