O primeiro dia

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Renato foi conversar com Libério.  A princípio relutou em deixar ir Rodolffo para a escola, mas após saber que o dinheiro viria na mesma, não teve como não deixar.

A megera da Etelvina é que ficou furiosa.  Imagina,  agora ir para a escola.

Juliette foi com o pai comprar os materiais e a mochila para Rodolffo.
Depois pediu para comprar uma roupa nova e umas botinas porque ela reparou que as que ele usava estavam rotas e gastas.
Tinham ainda o uniforme.

- Espero que este menino saiba merecer tudo isto, Juliette.

- Ele vai ficar muito contente, pai.

Regressaram a casa e foram entregar tudo na casa de Rodolffo.   Ele estava de joelhos a limpar o chão da cozinha.  Esta cena fez o coração de Juliette doer.

Rodolffo levantou-se, lavou as mãos e veio receber os presentes com o maior sorriso do mundo.

- Obrigado patrão.
- Obrigado menina.

Amanhã já podes ir à escola.  Vai ter ali ao cimo da estrada que o jeep que leva a menina também te vai levar.

- A que horas, senhor?

- Às 8 da manhã.

- Está bem, obrigada.

Eles saíram para ir embora.  Juliette ia agarrada ao braço do pai a saltitar.

A megera logo que eles desapareceram, mandou Rodolffo terminar de limpar o chão.

- Onde já se viu.  Um escarumba na escola!

Rodolffo fez o trabalho de cara fechada mas por dentro era todo sorrisos.

Dormiu mal nessa noite.  Acordou cedo, vestiu a roupa nova e colocou a mochila nas costas.  Quando ia pegar no pedaço de pão,  Etelvina apareceu e deu-lhe um tapa na mão.

- Larga isso.  Quem não  trabalha não come.  Experimenta comer uma folha desse caderno, para ver se vives muito tempo.

Deviam ser umas 6 horas da madrugada.  Rodolffo não ligou, esqueceu o pão e saiu.  A fazenda onde estavam era rica em frutas.   A cada canto havia uma qualquer espécie de fruta.  Colheu duas mangas ainda verdes, duas laranjas e pô-las dentro da mochila.

Passou no canavial, colheu uma cana e seguiu para o local onde se ia encontrar com Juliette.   Sentou-se numa pedra e começou a chupar a cana.

Levantou-se rápido assim que ouviu o jeep.  Deitou fora a palha da cana que estava a chupar e guardou um pedacinho ainda não chupado na mochila.

Limpou a boca, sacudiu a roupa e entrou no carro todo feliz.

É o primeiro dia que eu estou muito feliz, pensou.

Conversou todo o caminho com Juliette sobre a escola.

Logo que chegaram tiveram que se afastar porque ela estava avançada.
Ele ia para a classe dos pequenos e por isso foi zoado.

Eram tantas piadas que a professora teve que intervir e explicar porque é que ele estava ali.

No recreio também não foi fácil.   Rodolffo poucas vezes tinha brincado como criança e preferiu manter-se a um canto sózinho.

A escola servia um lanche a meio da manhã e Rodolffo devorava-o num abrir e fechar de olhos.  Depois ainda ia buscar uma das frutas dele.

Juliette sempre que podia estava junto dele.
Hoje, ele descascou as duas laranjas e ofereceu-lhe uma.

Deixou de colher as mangas verdes porque podia contar com o lanche da escola.

Não abdicou das laranjas e depois de as descascar percorria o recinto à procura da sua amiga para lha entregar.

As aulas de Juliette deram fruto e um mês depois a professora mudou-o para o segundo ano porque ele estava já equiparado no conhecimento.

- Este menino vai longe, comentava a sua primeira professora, ao que a outra respondeu:

- Às vezes perdem-se talentos por várias circunstâncias.  Uma delas é a ignorância de certos adultos.

Menina bonitaOnde histórias criam vida. Descubra agora