Três anos depois, na fazenda tudo caminhava direito. Juliette tinha feito algumas reformas que foram copiadas por outros fazendeiros ao redor.
Os trabalhadores comentavam a mudança, e se ao princípio os patrões estavam cépticos, ainda mais por vir de uma mulher, logo mudaram de opinião quando viram os seus trabalhadores quererem trabalhar com Juliette.
A fazenda era enorme. Juliette reservou um pedaço da mesma para que os trabalhadores pudessem cultivar alguns bens para consumo próprio.
Rodolffo também não se podia queixar. Hoje era requisitado sempre que surgia alguém doente.
Carolina, o xódo do avô Renato, vivia correndo pela fazenda, ou brincando com o irmão.
Juliette engravidou cerca de um ano depois de chegar à fazenda e nasceu o Tomás. Ao contrário de Carolina, Tomás nasceu de pele morena tal qual o pai.
Juliette sorriu. Tomás era uma miniatura autêntica do pai. Diferia apenas no cabelinho todo liso.
Os avós vieram quando ele nasceu e ficaram cerca de dois meses. Juliette e Rodolffo também já foram visitá-los algumas vezes.
Etelvina nunca aceitou ser consultada por Rodolffo. Libério bem insistia, mas ela recusou sempre qualquer aproximação. Nunca o viu, nem aos filhos. Morreu há cerca de dois anos. Libério sentiu-se só e pôs termo à vida três meses depois.
Renato tratou dos funerais a que poucos trabalhadores assistiram. Rodolffo simplesmente ignorou qualquer um deles.
-
Juliette estava sentada debaixo da laranjeira da sua infância. A seu lado Tomás brincava em cima da colcha, com alguns carrinhos.
Juliette lia um dos seus romances favoritos. Amor de Perdição.
A história da Simão e Teresa sempre a fascinou. O amor proibido lembrava o dela, mas felizmente com finais diferentes. A história do preconceito, a diferença de classes, sempre esteve presente.
Foi despertada do seu momento zen por uma vozinha que gritava enquanto corria.
- Mamãe, mamãe!
- Desculpa Juliette. Ela não quer passear mais comigo, disse Renato. Diz que quer a mamãe.
- Obrigada pai.
- Mamãe, lê para mim a história.
- Primeiro vem comer um lanche e vou dar também ao mano.
Juliette tinha por hábito levar o lanche das crianças para debaixo da laranjeira. Recordava-lhe o tempo em que Rodolffo descascava duas laranjas para eles, ou comiam is biscoitos que ela levava de casa.
Depois das crianças alimentadas, Tomás encostou-se no peito da mãe e logo adormeceu.
Juliette acomodou-o a seu lado e cobriu-o com um resguardo fino.Depois puxou Carolina para o seu colo e iniciou a leitura do livro que já sabia de cor.
Durante os primeiros dois anos de Carolina e apesar dos dias difíceis, Juliette sempre arranjou um bocadinho do dia para escrever.
Carolina escutava a história com a máxima atenção. Fazia uma ou outra observação e Juliette sorria porque cada dia que ela lia a história, Carolina interpretava diferente.
A história resumia uma vida, mas estava escrita para fácil leitura e interpretação.
Rodolffo tinha terminado o seu dia e foi procurar a família. Não era preciso ser expert para descobrir onde os encontrar.
Aproximou-se o mais silenciosamente possível e ficou por trás da laranjeira, vendo a interacção delas.
- E por fim, no meio destes encontros e desencontros entre a menina bonita e o menino moreno, nasceu a Carolina. - leu Juliette do livro que contava a vida dos dois e que a sua filha adorava.
- A xódo dos papás - respondeu prontamente Carolina.
- Isso mesmo. A xódo do papai e da mamãe.
- E o Tomás, mamãe?
- O Tomás veio muito depois.
- Eu também queria ser a menina bonita do papai.
- E és. - respondeu Rodolffo saindo detrás da àrvore.
Rodolffo sentou-se ao lado de Juliette e puxou Carolina para o colo.
- Tu e a tua mãe serão sempre as minhas meninas bonitas.
- E tu, papai! És o meu príncipe. Eu te amo.
- Também vos amo muito.
Rodolffo deu um beijo na testa da filha e outro nos lábios de Juliette.
Fez um carinho na filho que dormia.Juliette sussurrou um eu te amo e colocou a mão dele na barriga dela, olhando para ele com olhos apaixonados e brilhantes.
FIM