Dia triste

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O fim do período escolar vinha chegando e com ele a tristeza por saber da partida dela.

Os nossos encontros agora eram carregados de saudade pois sabíamos que ficaríamos separados por muito tempo.

Eu até estou desconfiado deste afastamento.  Não creio que seja só pela doença da mãe dela.

Um destes dias eu vi o pai dela a espiar-nos enquanto nós estávamos a estudar.  Não lhe contei porque temi que ela o confrontasse e ele proíbisse a nossa amizade.

Hoje era o nosso último encontro.  Juliette trouxe a biciclete dela e também um moletom.  Disse que era para eu não me esquecer dela.

Nem que eu fizesse esforço, eu conseguiria.  Há muito tempo vinha talhando um par de alianças em madeira.  A dela já estava pronta havia bastante tempo.  A minha eu terminei ontem.

Tirei as duas do bolso e peguei na mão dela.

- Lembra-te de mim quando olhares para ela.  Eu farei o mesmo.

- Prometo só a tirar quando a trocares por uma verdadeira.

Colocaram as duas alianças e ficaram abraçados.

- Juliette, não sei o que vai ser de mim, mas assim que puder eu vou buscar-te.  Eu vou estudar, ganhar muito dinheiro e casar contigo.

- Eu vou esperar-te sempre.

Já a tarde ia longe quando deram o último beijo e se separaram a chorar.

Juliette entrou em casa a correr e foi directa para o seu quarto.  Não apareceu para jantar e deu a desculpa que estava indisposta.  O paí não ligou e a mãe estava no seu quarto.

Olhou para as malas feitas e caiu no choro.

Deitou-se mas o sono não veio e ficou toda a noite sentada à janela olhando o céu estrelado.

Rodolffo terminou de lavar a loiça do jantar e retirou-se para o seu quarto.  Olhava a aliança e sonhava.

Conseguiu adormecer já tarde mas foi um sono muito inquieto.
Sonhou com ela a afastar-se.  Ele esticava o braço para tentar chegar até ela  e ela afastava-se cada vez mais.

Não teve hipótese de vê-la outra vez.  Quando ela partiu ele já estava na lida com o padrinho.  Agora era período de férias, então ele teria que  trabalhar.

A partir daquele dia nunca mais foi igual.
A madrinha continuava a tratá-lo mal e agora até o padrinho estava diferente.

Por vezes via o pai de Juliette e perguntava por ela, mas ele respondia sempre com uma certa ironia.

- A minha filha está melhor que nunca.

- Eu posso escrever uma carta para ela?

- Não.   Não quero que ela tenha contactos aqui.  Ela precisa adquirir hábitos da cidade.  Logo vai aparecer o filho de algum fazendeiro que queira casar com ela.

Ela não vai casar com ninguém, pensou Rodolffo só para ele.

Rodolffo trabalhava feito um condenado mas não tinha nada seu.

Veio um novo ano escolar e com ele vieram outros problemas.

Os padrinhos não queriam deixar ele continuar na escola e o pai de Juliette estava nem aí.  Desde que a filha foi embora, descartou este assunto.  Ele só concordou de início porque era desejo da filha.
E depois, dois braços a mais na lavoura eram bem-vindos.

Rodolffo suplicou,  argumentando que faria o trabalho após as aulas e até terminar.  Não importava as horas a que ele acabasse.  Ele ia dar conta.

O padrinho conversou com o patrão e concordou em deixá-lo experimentar.

Rodolffo já não tinha o transporte para a escola.   Agora ia na bicicleta da Juliette.

Também não tinha materiais pois
ninguém lhos comprava e todo o dinheiro do trabalho dele era entregue directamente só padrinho.

Valia-lhe a boa vontade dos professores que se aperceberam e o questionaram.

Foi assim que ele conseguiu terminar o ensino médio.  Estudava de manhã e de tarde até quase noite ficava na lavoura. Os trabalhos escolares, esses por vezes eram feitos à luz de uma fogueira que ele fazia lá fora do seu quarto.

Menina bonitaOnde histórias criam vida. Descubra agora