Doutor?

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Rodolffo ia ficar um dia, mas já ficava ali há uma semana.   Ajudava o senhor Raimundo e a dona Maria em tudo.

- Tu podias ficar cá.  Eu posso pagar-te alguma coisa e tu ajudas-me.  Vais fazer o quê para a cidade?  Lá não há empregos e não tens casa para morar.

- Vou procurar o amor da minha vida e quero continuar a estudar.

- Mas podes ficar connosco e ir.  Daqui lá é perto.
Fazes bem de querer estudar.  Queres ser o quê?

- Médico.

- Isso é preciso muito estudo.  E muito dinheiro também.

- Mas eu estudo e trabalho.  O trabalho não me mata, eu fiz a minha vida inteira.

- Tu é que sabes.  Aqui connosco estás à vontade.

- Vocês foram uns anjos que surgiram na minha vida.

Juliette tinha começado a faculdade de Direito mas depois do primeiro semestre resolveu mudar.  Não se identificava muito com o Direito.

Vivendo sempre na fazenda, ela gostava era do mato por isso trocou para Agronomia.  Um dia ela esperava herdar a fazenda e dar-lhe continuidade.

Renato depois de saber da fuga de Rodolffo aceitou levar Juliette a passar lá uns dias.

Quando tomou conhecimento da fuga questionou os padrinhos dele,
mas não obteve grande informação.

Ninguém sabia para onde tinha ido.

Sentada debaixo da sua laranjeira ela recordou os momentos que ali passou com ele.  Olhou para a aliança e beijou-a.

Ao jantar, o pai percebeu a aliança pela primeira vez e questionou.

- Que anel é esse?  Nunca vi.

- É o símbolo da faculdade.  Todos usamos.

- Ah. Nunca tinha visto.  Isso é de madeira?

- Sim.  Artesanal.  Símbolo da terra.

- Pai.  Não sabes mesmo onde foi o Rodolffo?

- Ainda esse assunto?  Não sei,  nem quero saber desse ingrato.

- Ingrato, pai?  Rodolffo foi um escravo daqueles padrinhos e um pouco teu também.

- Ele não era meu escravo.  Ele trabalhava e eu pagava.

- Pagavas a quem?  A ele não era.  Ele não me contava tudo mas eu sabia que ele não recebia um tostão.
O coitado deve estar jogado nesse mundo sem poder comprar um pão.

Além disso vocês tiraram-lhe o sonho de ser doutor.

- Ah ah ah.  Isso já é demais,  Juliette.
Doutor?

- Sim, porque não?  Não sei se te lembras, mas ele conseguiu fazer em dois anos o que eu demorei 6.  Então se ele quiser, ele vai sim ser doutor.

- Vamos deixar de falar desse rapaz.  Porque mudaste de curso?

- Porque eu quero vir viver para aqui.  Não quero estar fechada no escritório.   Eu gosto da terra, dos animais, da agricultura.

- Isso é trabalho de homem.  Tens visto o Carlos?

- Eu quero lá saber do Carlos.  É um chato.

- Eu fazia muito gosto no vosso casamento.

- Eu não vou casar com ele, já disse e ele sabe muito bem.

- Não queiras ficar solteira.  Não é bom para uma mulher, ainda mais aqui no mato.

- Eu só caso com uma pessoa.  Se não for ela eu não caso.

- Tu não estás boa do juízo.  Ele deve gostar tanto de ti que até fugiu.

- Nem que seja daqui a 50 anos, a gente ainda vai se encontrar.

Terminei o jantar e fui para o meu quarto.   No dia seguinte regressava à cidade grande.
A minha mãe estava bastante doente, eu precisava estar com ela.

Menina bonitaOnde histórias criam vida. Descubra agora