Na manhã seguinte, durante o café, Raimundo e Maria contaram ao casal da ideia deles habitaram a casa da cidade.
A princípio eles olharam um para o outro. Rodolffo depois de tantos anos a ser maltratado, não queria acreditar que pudesse haver gente tão boa e sem preconceitos.
O casal de idosos, vinham de famílias humildes. Sabiam bem o que eram dificuldades e apesar de hoje terem uma vida desafogada entendiam o que Rodolffo e Juliette estavam a passar.
- Assim que nós arranjarmos emprego, queremos pagar renda.
- Não. Isso não. A casa pertenceu à nossa filha. Nunca tivemos coragem de ir lá nem vender após a sua morte. Deve estar suja, mas tem móveis e outras coisas necessárias. Vocês têm liberdade de usar o que quiserem e deitar fora o que não quiserem, quer dizer, deitar fora não. Talvez doar a quem precise.
- Mas depois, vocês vão visitar-nos?
- Não. Nós prometemos não entrar naquela casa. Não conseguimos.
Vêem vocês aqui almoçar connosco aos Domingos. Domingo é o dia da família e vocês já são da nossa.Os dois estavam animados com a mudança. Agora era procurar um emprego que lhes permitisse estudar ao mesmo tempo.
Rodolffo já não pensava muito nisso. O objectivo dele era que Ju terminasse a faculdade. Talvez depois ele pudesse iniciar.
Os poucos pertences deles foram levados numa só viagem. Quando eles entraram em casa ficaram chocados com o que havia ali. Apesar de tudo estar empoeirado, tudo era de muito bom gosto. Os móveis, os objectos de decoração, tudo condizia com a casa.
Imediatamente deitaram mãos à obra. Começaram pela quarto pois era necessário para dormir. Passaram à cozinha e três dias depois ninguém diria que a casa esteve fechada durante quatro anos.
A parte externa tinha um pequeno jardim que Rodolffo prometeu ser o mais lindo da rua. A toda a volta da casa existia uma pequena cerca de madeira que precisava de uma pintura.
- A nossa casa, suspirou Juliette abraçada a Rodolffo.
Juliette conseguiu um trabalho part time numa padaria. Trabalhava no período da manhã e frequentava as aulas de tarde.
Rodolffo apenas havia conseguido alguns trabalhos de jardinagem por conta do aspecto do seu jardim. Era comum os vizinhos pararem à sua porta a apreciar os belos canteiros.
O dinheiro que conseguiam dava para se manterem, mas estava difícil pagar a faculdade da Ju.
Juliette aproveitava as sobras da padaria para trazer para casa e muitas vezes eles jantavam um pão ou um pedaço de bolo com café.
Nenhum deles reclamava. Estavam felizes e tinham esperança que as coisas iam mudar.
Aos domingos quando regressavam da casa dos avós, como eles agora tratavam Raimundo e Maria, traziam o carro completo com batatas, cebolas, hortaliças e frutas. Por vezes vinha um frango lá do galinheiro dos avós e muita comida preparada que eles congelavam para a semana.
Juliette, aproveitou que hoje não tinha aulas, e foi visitar a tia. Queria notícias do pai e só ela poderia dar.
- Oh filha, como estás?
- Bem, tia.
- Onde é que tu vives? Olha a volta que a tua vida deu.
- Estou feliz, tia.
Juliette contou onde vivia e convidou-a para uma visita. Contou do trabalho e da faculdade, mas ainda não se sentia totalmente feliz, dizia ela.
- Então porquê?
- O sonho do Rodolffo é ir para a Universidade e não conseguimos pagar as duas. Se não fossem os avós nem a minha conseguíamos pagar.
- Que avós?
- O casal que acolheu Rodolffo e depois a mim. São os nossos avós que não tivemos. A casa onde moramos é deles.
- Tudo poderia ser diferente se o teu pai não fosse assim. Ele parece-me bem. Talvez um pouco triste.
- É. Tenho pena. Perdi a minha mãe e o meu pai no mesmo dia, mas eu amo o Rodolffo. Não podia escolher o meu pai. Eu mereço ser feliz e o Rodolffo também.
- Parece-me que já gosto muito desse moço. Vem cá jantar com ele um dia. Afinal, também não tenho mais família a não ser tu e o meu irmão.
Juliette despediu-se da tia com a promessa de voltarem para jantar com ela.