Fui dormir, mas não estava conseguindo. O beijo de Rodolffo deixou-me pensativa.
As minhas amigas diziam que era bom beijar na boca, mas eu não achei nada de mais. Era como beijar na cara.
Na manhã seguinte fomos para a escola e eu não falei muito durante o caminho.
Rodolffo perguntou se ainda doía a barriga e eu disse que não para ele não fazer mais perguntas.
No intervalo da escola eu puxei a Alice para um canto.
Ela era a mais velha do nosso grupo.- Alice, ontem eu beijei na boca mas não foi isso tudo que vocês contam. Eu acho que é normal.
- E quem beijaste?
- O Rodolffo.
- Ele ainda é menino. Tens que beijar um mais velho.
- Mas para beijar não precisa gostar?
- Não. Eu beijo o Miguel e ele gosta da Ana.
- Isso não pode. Se o Miguel gosta da Ana não pode beijar a ti.
- A Ana não liga. Ela não beija de língua.
- Beijo de língua?
- Sim quando tu beijas um rapaz, tu pões a língua na boca dele.
- Nhaaac, que nojo!
- É assim. Eu já vi no cinema.
- Olha ali o Miguel. Eu vou lá dar um beijo. Anda que tu vês.
Eu cresci na fazenda e lá nunca vi fazerem isso. Os meu pai sempre beija a testa da minha mãe.
Olhei para Alice e Miguel que não se desgrudavam. Fui ter com o resto do grupo e deixei-os ficar.
À tarde, na hora do estudo, eu continuava calada e Rodolffo parecia que tinha medo de falar.
- Juliette, ultimamente acho-te diferente.
- Diferente como?
- Mais calada. Nem conversas muito comigo. Fui por causa do beijo?
- Mais ou menos. Podemos fazer de novo?
Juliette passou os braços pelo pescoço dele e juntou os lábios aos dele. Abriu-os um pouco e passou a língua pelos dele fazendo que instintivamente ele abrisse a boca para receber a língua dela.
Rodolffo seguiu-a nos movimentos e separaram-se quando ela ficou sem ar.
Juliette correu para perto do riacho e com as mãos passou àgua no rosto.
Rodolffo foi atrás dela e fez o mesmo.
Rodolffo olhou para ela e falou:
- Agora somos namorados. Tu queres?
- Quero. Hoje eu gostei mais.
- Eu gostei muito também.
Voltaram para casa e Renato estava à espera para falar com ela.
- Juliette, a mãe está doente. Quando acabar a tua escola vou mandar-vos às duas para a cidade grande. A mãe vai fazer o tratamento e tu vais mudar de escola. Vão viver com a tia Vera.
- Eu não quero ir, pai. Eu quero ficar aqui.
- Filha, é a saúde da tua mãe. Eu não posso mandá-la e deixar-te ficar aqui. Tu já és uma mocinha, não podes andar por aí sózinha. Vai conversar com a mãe.
Juliette saiu e foi até ao quarto da mãe.
- Como está, mãe?
- Eu queria estar boa para cuidar de ti, mas não estou.
- Eu sei cuidar de mim.
O pai quer que tu te vás tratar. Eu quero que fiques boa rápido.- Eu sei que tu gostas disto aqui, mas é preciso que venhas comigo.
- Eu vou cuidar de ti, mãe.
Na tarde seguinte encontrei Juliette com olhos de choro.
- O que aconteceu?
- Quando acabar a escola eu vou embora com a minha mãe.
- Para onde?
Contei-lhe dos planos de meu pai, do tratamento da minha mãe e de quanto era difícil deixá-lo.- Eu vou atrás de ti.
- Como? Nós só temos 14 anos.
- Quando eu puder, eu vou. Promete que vais esperar por mim.
- Eu prometo.
Fizemos o juramento do dedinho e beijámo-nos. Depois ficamos sentados, encostados na laranjeira. Ele com o braço no meu ombro e eu com o meu na sua cintura.