Capítulo 24

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Na manhã seguinte, tive medo de abrir os olhos. De acordar e perceber que era um sonho e ter que encarar a dura realidade novamente, de encontrar Shawn, meu Shawn ali. Permaneci em silêncio, ouvindo sua respiração, sentindo o toque e o calor do seu corpo no meu, sem me mover, sem querer acordá-lo. 

Mas um choro agudo e alto fez isso por mim. Assim que Elizabeth soltou o primeiro lamento, Shawn acordou. Abri os olhos, segurando em seu braço. 

— Ela só está com fome. —  falei, tranquilizando-o. 

Shawn esfregou o rosto, ainda sonolento.  

— Vou pegá-la. — Ficou de pé, caminhando até o berço e se curvando para segurá-la, como sempre, com uma delicadeza que nunca o vi ter. 

Caminhando em minha direção, vi a careta em seu rosto pelos gritos que ela dava e não consegui não cair na risada. Ajustei-me nos travesseiros, segurando minha filha em meu colo, descendo a alça da blusa o bastante para expôr o seio. 

Mordi o lábio,  tentando não me mexer muito, apesar de sentir a dor de ter ela mamando. Shawn nos observou, em silêncio, quase como se gravasse a imagem em sua mente. 

— Ela dormiu praticamente a noite toda. — Comentei. 

— Ainda bem, Peter só chorava e queria que todos ficassem acordados junto dele. 

Sorri. 

— Acho que podíamos chamar o Monstro e apresertarmos os dois.

Shawn me encarou. 

— Eu gostaria de ter minha filha viva, Camila. 

Revirei os olhos. 

— Você sabe que ele não vai fazer nada. Ele não fez com Peter, que puxa os pelos dele todos os dias. — Argumentei, indicando a porta com a cabeça. — Vai chamar ele. 

Minutos depois, Shawn chegou, segurando Monstro pela coleira no pescoço, o que foi uma ótima decisão, pois ele quis correr em minha direção assim que me viu. 

— Ei, calma! — Shawn alertou seu cachorro, que pareceu ouvir o dono. 

Com cuidado, Shawn o deixou subir na cama, ainda segurando na coleira quando Monstro aproximou-se de nós.

— Essa é a sua irmãzinha. — Sussurrei, pois Lizzie já havia voltado a dormir. Monstro aproximou o focinho, cheirando os pezinhos pequenos dela. — Viu, Shawn? Ele não comeu a Lizzie.

— Não chame ela desse apelido horroroso. — Reclamou.

Pelo jeito, a aversão ao meu apelido não havia ido embora com a volta da memória.

— Você vai ter que se acostumar com ele.

*

— Ela não fica acordada nem por uma hora. — Shawn reclamou, a voz tão baixa, que só conseguia ouvi-lo porque estávamos perto um do outro.

— Preferia que ela nunca dormisse, igual Peter? — Argumentei, tirando os olhos da minha filha adormecida entre nós dois e focando nele.

— Não, mas eu gostaria de vê-la acordada uma vez ou outra. — Shawn a observou por uns instantes. — Ela tem o seus olhos.

Sorri.

— E tem o seu nariz. — Completei. Por um momento, percorri seus rosto com meus olhos, preparando-me para entrar no assunto que vinha tentando evitar desde que ele recuperou sua memória, há uma semana. — Você... Se lembra de tudo? Ou vem se lembrando aos poucos?

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