Capítulo 25

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O desespero nos leva a fazer coisas impulsivas. Trás o nosso pior lado, nos deixa cara com o nosso eu mais primitivo, aquele que envelhece apenas por instinto. 

E, por instinto, o ser humano só conhece três coisas: se alimentar, se reproduzir... e sobreviver .

Sobreviver é algo que fiz durante toda a minha vida, sem nem mesmo saber que o fiz durante metade dela. 

Nunca achei que quando tivesse uma filha ela teria que passar por isso. Muito menos que teria que fazê-lo sem mim.

Minha mãe, para mim, sempre foi uma pessoa sem rosto, uma idealização. Mas hoje, nunca me senti tão próximo a ela. Hoje eu me via como ela

Porque eu estava aqui, apesar da dor que senti ser quase física, em frente ao orfanato de Terrace Bay, com minha filha em meu colo, com uma caixa ao seu lado e com o homem que me amava se segurar para não desabar. 

Eu entendia minha mãe, mas do que ninguém agora. 

Não chorei quando coloquei Elizabeth na porta daquele orfanato, não chorei quando beijei seu rosto, sentindo seu cheirinho, sua pele macia pelo que poderia ser a última vez. Não olhei para Shawn quando ele foi se despedir dela, porque eu não queria em minha mente mais uma cena que acabasse comigo. 

Quando a deixei ali e voltei para o carro, ainda não chorei. Apenas segurai com força a mão do homem que amava, sabendo que íamos da mesma dor. 

Eu deixei minha filha num orfanato. Sozinha, da mesma forma que eu era. 

Por mais que eu repetisse para mim mesma que era pela sua segurança, essa era uma culpa que nunca sairia de mim. 

— Estamos chegando. — A voz mal saiu por entre os lábios de Shawn. 

— Temos que achar, Shawn. — Soltei, de repente. — Temos que matá-lo, ou vamos achar-la em algum momento. 

— Eu sei. Vamos dar um jeit... — Algo atingiu nosso carro. 

O veículo foi descontrolado por um momento, antes que Shawn conseguisse assumir o controle novamente. 

— São dois carros. — Exclamei, olhando para trás. 

— Ligue para Aaliyah, mande-a ir para o ponto de encontro. Vou tentar despistá-los. 

Eufórica, peguei meu telefone, clicando no nome da mulher, que atendeu imediatamente. 

— Aaliyah, está atrás de nós. — Exclamei. — Preciso que vá para o ponto de encontro agora. 

— Se não chegarmos em trinta minutos, vamos embora. — Shawn completou, lançando um olhar para mim.

— Shawn... estamos... em casa. — A ligação estava ruim, sua voz estava estranha, mas entendi o que dizia antes que caísse completamente.

— Eles já estão lá. — Concluí. 

— Ótimo. — Shawn pisou no acelerador.

*

Silêncio.

O caminho pela mata em direção à casa onde seria o nosso ponto de encontro era totalmente silencioso. 

Shawn e eu não conseguíamos conter a tensão, não depois de tudo isso que fizemos em um período de tempo tão curto.

— Tentou falar com eles outra vez? — Sussurrei, olhando ao redor.

— Não atendem. — Respondeu, andando devagar, tentando não fazer barulho. — Mas combinamos de nós encontrar lá, então eles devem...

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