‘não posso perder você’
2 anos atrás
O céu começava a ganhar um tom de laranja intenso à medida que crepúsculo se entendia por todo o horizonte. A semideusa filha de Hefesto permanecia parada na mesma posição a quinze minutos encarando a colinas verdes a sua frente em silêncio. Aguardava silenciosamente outra presença que não tivera mais visto desde a tarde, para que pelo menos pudesse olhar em seus olhos antes que partisse em direção a sua possível morte, mas ele não tinha aparecido. Sabia que ele tinha ficado muito chateado por não poder acompanhá-la, mas não imaginava que fosse ao ponto de não querer nem ao menos se despedir dela.
Pandora deixou um suspiro triste escapar de seus lábios sentindo seu peito doer ao encarar o fim da colina ainda sem nenhum sinal do garoto. Agarrou com força a alça da mochila em seus ombros e olhou para o céu que cada vez ficava mais escuro, impedindo as lágrimas que queimavam em seus olhos de caírem. A garota não costumava ser tão pessimista, mas naquele momento algo dizia que havia uma chance muito grande de que ela nunca mais pudesse ver aquelas paisagens e muito menos ver o filho de Hermes. Com um último olhar em direção ao acampamento, a semideusa deu as costas para o lugar se aproximando da barreira protetora.
— Pandora!
Seus pés no mesmo momento paralisaram no lugar ao reconhecer o portador da voz e como se tivessem vida própria dispararam correndo na direção do outro. Seu corpo no mesmo instante foi rodeado pelos longos braços do garoto enquanto o rosto dele se enterrava na curva de seu pescoço de forma quase automática.
— Não acredito que iria partir sem se despedir antes. — exclamou desacreditado.
— Eu esperei por você. — respondeu. — Achei que não quisesse falar comigo.
O garoto deixou um riso anasalado tocar a pele da ruiva enquanto se afastava a encarando.
— Acabei me atrasando enquanto me preparava.
— Se preparava?
Só então a filha de Hefesto notou a mochila abarrotada que o garoto carregava nas costas, a ausência da camiseta laranja do acampamento e as roupas apropriadas para uma viagem.
— Não! Não! — exclamou, entendendo o que ele fizera.
— Eu pensei que ficaria contente por ter uma companhia.
— Contente? — questionou desacreditada.
— Sim, contente!
— Eu não quero você nessa missão comigo, Luke!
O garoto mudou de feição no mesmo momento em que as palavras chegaram a seus ouvidos. Sua feição ficou tão seria quando a da garota de fios ruivos em sua frente. Era possível ver através de seus olhos a tristeza com o que tinha acabado de escutar e a garota se conteve muito para não correr até ele no mesmo momento.
— Tarde demais, Pandora. — respondeu com o tom de voz amargo. — Quiron já me designou para acompanhá-la.
— Merda. — xingou voltando a seu caminho até a saída do acampamento.
Aquela missão não poderia estar sendo pior, desde que deixaram os limites do acampamento nenhum dos semideuses trocaram uma palavra sequer. Estavam ressentidos, magoados e de coração partido e isso os estava matando aos poucos. Ambos sentiam falta dos assuntos aleatórios, das piadas feitas pelo garoto, dos devaneios mais estranhos vindos da ruiva, da proximidade confortável que sempre compartilhavam.
Agora, enquanto compartilhavam assentos um ao lado do outro num ônibus mortal que os levaria até a estação de trem, tudo parecia frio e sem vida. Eles não conversavam, não se olhavam e nem mesmo se tocavam como sempre faziam quando estavam juntos. Luke odiava aquilo, odiava sentir seu coração doer toda vez que encarava a garota ao seu lado de relance ou toda vez que sentia o perfume com cheiro de flores silvestres que ela usava, odiava não poder toca-la ou fala com ela, ele odiava estar tão próximo e tão longe ao mesmo tempo.