Resiliência

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Jungkook estava sentado na varanda, observando silenciosamente o vaivém das pessoas pelas ruas da vila enquanto o sol rompia timidamente as nuvens da manhã.

A atmosfera nublada cedeu lugar há um dia radiante, e logo os comerciantes saíam às pressas para expor suas mercadorias, atraindo aos gritos a atenção de alguns para os produtos expostos, enquanto outros seguiam seu caminho sem se deter.

Fazia dez anos desde seu décimo terceiro aniversário, que não apenas marcou a sua entrada no cio, mas também uma nova fase de ocultação em sua vida, culminando na chegada e estadia em Astor.

Foram dias, fugindo dos mantos vermelhos e se escondendo em meio a mata a cada vez que uma caravana era avistada vindo ao longe. Foram dias difíceis para eles, mas foi quando Jieun emergiu como uma figura protetora durante eles, demonstrando uma força singular ao proibir qualquer aproximação dos alfas que o seguiam. Não por não confiar neles, mas para preservar sua dignidade.

Após o término do cio, inicialmente planejaram seguir para o deserto de Luorim, mas tiveram que interromper seus planos, pois os soldados de Park JeongMin vigiavam os remanescentes do clã Jeon.

Sem opção, o grupo continuou sua jornada em direção ao sul, rumo ao vilarejo de Astor, onde decidiram estabelecer-se temporariamente. A discrição dos habitantes locais permitiu que se misturassem sem levantar suspeitas, a medida que o tempo passava, Namjoom, Yoongi e Hoseok encontraram trabalho nos campos de arroz, enquanto Jieun oferecia seus trabalhos como lavadeira.

Mais tarde, Jungkook começou a trabalhar na estalagem local, apesar dos protestos de seus guardas, ao final da tarde, quando voltava para casa, treinava com os alfas que ainda teimavam em usar o título a muito por ele, esquecido.

Meses se passaram, e sua aparência mudou muito desde então, graças a genética de seu clã, Jungkook não era mais um garoto com feições assustadas, ele era agora um homem adulto, os cabelos escuros curtos possuíam a franja mais alongada e o maxilar bem marcado.

Seu corpo também não era mais de um garoto magricelo, mas sim, com músculos que faziam qualquer pessoa pensar que ele era um alfa, e que ele passou a usar como forma de disfarce para sua classe. Sendo complementado pelos chás que Jieun preparava e óleos com perfume amadeirado que usava durante o banho.

Novas tatuagens foram inseridas em sua pele, e por mais que aos olhos dos outros elas parecessem apenas rabiscos sem sentido, Jungkook sabia muito bem o que significava cada símbolo em seu corpo. Eram símbolos que representavam sua resiliência e adaptação a sua nova vida.

Contudo, nem mesmo a rotina pacífica conseguira apagar o desejo por vingança que ainda queimava dentro dele. Por anos planejou, junto a seus amigos, uma forma de voltar a FroostWood e retomar o que era seu. Não por questão de orgulho, mas para honrar o nome de seus pais, porém, ele ainda teria que esperar as novidades do informante de Namjoon para poderem agir.

Por hora, ele apenas seguia sua vida, como um jovem sorridente e animado que havia conquistado todos por Astor, recebendo até flertes de outros ômegas, que, claro, eram educadamente rejeitados por ele. Afinal, ele poderia ter um corpo de um alfa, porém, sua natureza ainda era a de um ômega.

Pensar sobre sua verdadeira classe, o fez lembrar que precisaria avisar Jieun que seu cio estava chegando. Com um jarro de vinho em mãos, Jungkook tomou um longo gole de vinho, antes de fixar seus olhos escuros em um pequeno grupo que cruzava os portões da vila.

A expressão tranquila se transformou instantaneamente à medida que memórias indesejadas voltavam sua mente, relembrando aqueles dias de fuga do reino onde nascera.

De maneira abrupta, com a chegada dos mantos vermelhos adornados com o brasão real dos Park, trouxe à tona lembranças dolorosas e cruéis sobre o seu passado. Era um lembrete amargo o que aquele brasão representava para Jungkook, um símbolo do sofrimento e injustiça que havia enfrentado.

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