CAPÍTULO 19

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O portão de entrada do Maps ainda não abriu, mas sinais sonoros e vozes eletrônicas indicam a proximidade do início do evento.

Aproveitamos o momento para nos acomodarmos nos bancos metálicos e deixar para trás o caos. Precisamos nos concentrar. Desde o instante em que recebemos as doses de lembranças extras, mais momentos apareceram e tornaram claro o que buscamos.

Esquecer medos, recuperar a honra, lutar pelos oprimidos e reconstruir laços eternos. Nos curvamos para que nossa mente flua nessa viagem ao passado.

Pela primeira vez, ali naquela sala fortemente iluminada, nossas dores encontram um motivo para existirem — elas acusam um lar, uma casa. Numa espécie de autoterapia emocional, permanecemos os quatro sentados de cabeça baixa, na tentativa de conter a intensidade das fortes lembranças.

O turrão do Norte é o primeiro a levantar o rosto cheio de lágrimas. Bill cerra os olhos com força enquanto lágrimas encontram qualquer abertura entre as pálpebras — uma luta entre passado e futuro acha um campo de guerra despedaçado no coração de pedra.

Niara cobre a boca para conter a emoção. Um coração guerreiro e selvagem como a savana no Sul, embelezada pelos que correm sobre ela ao amanhecer.

Dagurasu é a surpresa. Ele chora, sim, mas faz uma careta engraçada; um samurai em pele frágil vindo do Leste, sempre se ergue diante daquilo que não pode controlar.

Eu me pego rindo com o rosto inundado. Memórias de riso; lembranças de choro; Tarzan boy. Um rio escuro e solitário iluminado pela chama no horizonte em chamas do Oeste.

Todos ganham extraordinária força, a julgar pelo levantar firme e simultâneo. A muralha nos aguarda na plataforma metálica. Os gritos eufóricos da multidão ecoam pelos corredores. Milhões se espremem em todos os espaços possíveis diante das telas holográficas oficiais espalhadas pelas ruas das quatro Províncias em chamas violentas.

O caos...

De mãos dadas, nossos olhares transmitem a mesma mensagem:

"Juntos, vamos vencer essa parada; vamos fazer história, vamos mudar nosso mundo."

— Depende de nós agora — incentivo.

— Talvez nunca mais veja meu pai e meu irmão — resmunga Dagurasu.

— É hora de deixar tudo para trás! — exclama Bill.

— Pode ser fácil dizer quando não se tem do que desapegar — diz Niara.

— Você adora me criticar, não é? Eu tenho muito o que perder e já deixei para trás muitas coisas, mas não tenho obrigação de falar.

— Desculpa. — O pedido da menina séria sai quase inaudível.

Bill levanta a cabeça e faz questão de provocá-la nesse momento:

— Não consegui ouvir.

— Eu não vou repetir! — fala Niara, arrancando nossos risos.

— Já estamos mudando — diz Bill com um sorriso.

Niara revira os olhos.

— Vocês são verdadeiros guerreiros — falo. — Ninguém além de vocês poderia ser escolhido. Não precisa ficar remoendo o que se passou. Usem o passado como arma.

Sorrisos e acenos partem como agradecimentos destes rostos jovens. Posso ser mais velho e mais experiente, mas, diante desses três, estou longe de ser o mais forte.

Recoloco a prótese, mesmo tendo forçado meu joelho durante a corrida. Deveria ter escutado Kulina.

O portão se abre lentamente, nos fazendo levantar.

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