A vista é de tirar o fôlego. Expressões desesperançosas logo são substituídas por espanto, admiração e uma dose bem generosa de "isso vai ser muito louco, mas vai ser da hora!"
Arquibancadas se enfileiram sobre uma profunda estrutura fixada no fundo do rio, o qual se apresenta a nós numa exuberância digna da Amazônia que eu me lembro. Telas gigantes estão acopladas em várias partes entre o público que lota os assentos.
Este é apenas um gostinho do palco principal. Sobrevoando a estrutura flutuante, ouvimos os gritos que parecem viajar sobre o extenso rio.
Passamos direto e atravessamos um trecho sobre a mata. Uma torre metálica e fechada no meio da selva ultrapassa qualquer árvore gigante e alcança as nuvens. Em seguida, há uma grotesca cúpula preta de metal encobrindo a base de preparação dos jogadores do Maps, incluindo campos artificiais de treinamento e um moderno estúdio de transmissão. Na área ao redor, uma multidão se aglomera no parque turístico.
A voz de Denis soa decisiva pelo rádio.
— Os pulsos de interferência foram lançados. Nosso pouso está garantido. A base no rio logo se abrirá para nós. Depois disso, é por nossa conta. Nesse momento, os jogadores oficialmente selecionados para entrar no Maps estão sob a vigilância de nossos infiltrados na base. Esta não vai ser a vez deles. Nossos jogadores vão entrar pela porta principal, tirando onda com a cara da Província.
Que ousadia dele dizer isso. Tenho certeza de que não vai ser nada fácil desfazer o roteiro da Província, que vem há meses preparando o evento e selecionando os jogadores.
Após a pequena área florestal, mais um trecho de rio e lá está ele.
O imponente escudo magnético pulsando em energia do Eldorado, exibindo um espetáculo de luzes verdes de néon — o verde sintético no verde da selva. Quem projetou isso burlou o padrão de contraste de cores, pois a muralha que protege a área do Maps se destaca, ao mesmo tempo em que permite um pouco de visualização da Amazônia, que se mantém intacta e vibrante num verde mais vivo ainda.
Conheço este lugar, porém me sinto estranho diante dele — é o mix de sentimentos que me invade agora. Amazônia sempre soou comum para alguém nascido muito próximo a ela, mas agora não a vejo como a frágil e consumível Amazônia de minhas vagas lembranças. Sinto que ela não pertence a este lugar ou este lugar não pertence a ela.
E o que nós representamos? As vítimas da reviravolta? A explorável se tornou ameaça? O escudo brilhante soa como a voz da selva majestosa, que parece gritar:
"Vocês sempre foram os intrusos. Permitirei um deslumbre para mostrar o que sou capaz de fazer para me defender. Erro fatal foi não terem me consumido por inteiro. Tarde demais para frágeis humanos. O mundo se definha como consequência de suas próprias ações, enquanto eu me mantenho intacta."
É possível enxergar trechos caudalosos de rios serpenteando o tapete verde. Aves voam em perfeita liberdade, disputando com árvores alcançado os céus. Já sinto o frescor do ar puro e o toque de águas tão cristalinas. Cauã desistiria facilmente da vida na confusão urbana e daria tudo para proteger um lugar assim.
Meu coração se derrete num mar de emoções com essa impressionante vista de um ambiente selvagem que parece ser de outro mundo.
O muro vai ficando mais amedrontador à medida que baixamos em direção ao hangar que se abre em meio ao rio escuro. Quase caio na superfície da água ao paralisar meus olhos na proteção energizada do Maps.
— Ninguém está preparado para isso — exclama Niara.
— Eu conheço a selva — digo. — Ela foi meu berço. Mesmo que não lembre muita coisa, sinto uma atração forte.
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MAPS
Science FictionTudo começa com um experimento tecnológico que deu errado e resultou em um caos generalizado no mundo que conhecemos. Em uma tentativa de controlar os problemas, algumas organizações surgem, chips são implantados nos indivíduos e o mundo é dividido...