Uma porta luminosa se abre no grosso tronco. Estamos em movimento rumo ao interior da árvore. A viagem até a base parece longa o suficiente para que eu note a grotesca mistura de natural com artificial no interior desta castanheira. Fibras e estruturas semelhantes a artérias luminosas formam uma textura na casca interna.
Estamos em solo firme.
A cabine se abre.
Bill sai apressadamente e se agacha entre os joelhos.
— O que foi aquilo? — pergunta Niara.
— Ninguém avisou que não sair vivo era uma opção — fala Bill. — Um erro significa morte?
— Ele pode estar vivo — digo.
— Estávamos a uns cinquenta metros do chão! — grita Niara.
— Não ouvimos ruído algum — rebato.
— E nem precisava — diz Niara.
Circulamos a área ao redor da árvore, mas não há sinais de Daug.
— Que tipo de material era aquele? — pergunta Bill. — Não parecia vidro.
— Repararam na semelhança com a muralha que protege o lugar? — pergunta Niara.
— Sim — respondo. — Havia solidez sem dúvida, mas era sustentado por energia vinda de alguma fonte.
Niara deixa seus pensamentos serem levados pela minha resposta. Em seguida, pega uma flor e um pedaço de madeira. Com letras feitas à pedra, ela monta um pequeno e ordinário túmulo. O silêncio domina o momento.
— Vocês deveriam voltar enquanto é possível enxergar a muralha — digo.
— Nem pensar! — exclama Niara.
— Vocês são...
— Crianças? — interrompe a garota. — É assim que enxerga a gente? Você não tem ideia do que crianças como eu passam no Sul. Acho que já provamos nosso valor o suficiente. É isso mesmo: garantimos o vale para a vida adulta.
— Eu não consegui protegê-lo — balbucio.
— Daug nunca pediu que o protegesse — fala Bill.
— Estou falando de Cauã. Não pude salvá-lo mesmo estando tão perto.
— Você não ganhará redenção ao nos proteger. Além disso, não foi sua culpa. Você tentou, Alex — diz Niara.
Bill se aproxima e põe a mão no meu ombro.
— Somos parceiros competindo no mesmo nível. Vamos terminar o jogo.
Um alerta sonoro alguns metros à frente avisa sobre a próxima rodada. Corremos para seguir o som.
— Tomem cuidado. A selva é traiçoeira.
— Ou o que tomou conta dela — espragueja Niara.
O cheiro familiar é o clique para novas lembranças.
— Tem um rio logo ali.
Chegamos numa extensa praia banhada por um rio escuro.
Rio Negro.
Cortes e ferimentos durante as brincadeiras submersas. Latas e garrafas o transformaram. Já não se podia mergulhar. O odor tornava a extinção cada vez mais próxima.
Três hologramas piscam numa ilha próxima. Definitivamente, o jogo excluiu Daug. A cena machuca nossos corações. É hora de se despedir e continuar.
Alana estava certa o tempo todo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
MAPS
Ciencia FicciónTudo começa com um experimento tecnológico que deu errado e resultou em um caos generalizado no mundo que conhecemos. Em uma tentativa de controlar os problemas, algumas organizações surgem, chips são implantados nos indivíduos e o mundo é dividido...