CAPITULO 20

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Uma porta luminosa se abre no grosso tronco. Estamos em movimento rumo ao interior da árvore. A viagem até a base parece longa o suficiente para que eu note a grotesca mistura de natural com artificial no interior desta castanheira. Fibras e estruturas semelhantes a artérias luminosas formam uma textura na casca interna.

Estamos em solo firme.

A cabine se abre.

Bill sai apressadamente e se agacha entre os joelhos.

— O que foi aquilo? — pergunta Niara.

— Ninguém avisou que não sair vivo era uma opção — fala Bill. — Um erro significa morte?

— Ele pode estar vivo — digo.

— Estávamos a uns cinquenta metros do chão! — grita Niara.

— Não ouvimos ruído algum — rebato.

— E nem precisava — diz Niara.

Circulamos a área ao redor da árvore, mas não há sinais de Daug.

— Que tipo de material era aquele? — pergunta Bill. — Não parecia vidro.

— Repararam na semelhança com a muralha que protege o lugar? — pergunta Niara.

— Sim — respondo. — Havia solidez sem dúvida, mas era sustentado por energia vinda de alguma fonte.

Niara deixa seus pensamentos serem levados pela minha resposta. Em seguida, pega uma flor e um pedaço de madeira. Com letras feitas à pedra, ela monta um pequeno e ordinário túmulo. O silêncio domina o momento.

— Vocês deveriam voltar enquanto é possível enxergar a muralha — digo.

— Nem pensar! — exclama Niara.

— Vocês são...

— Crianças? — interrompe a garota. — É assim que enxerga a gente? Você não tem ideia do que crianças como eu passam no Sul. Acho que já provamos nosso valor o suficiente. É isso mesmo: garantimos o vale para a vida adulta.

— Eu não consegui protegê-lo — balbucio.

— Daug nunca pediu que o protegesse — fala Bill.

— Estou falando de Cauã. Não pude salvá-lo mesmo estando tão perto.

— Você não ganhará redenção ao nos proteger. Além disso, não foi sua culpa. Você tentou, Alex — diz Niara.

Bill se aproxima e põe a mão no meu ombro.

— Somos parceiros competindo no mesmo nível. Vamos terminar o jogo.

Um alerta sonoro alguns metros à frente avisa sobre a próxima rodada. Corremos para seguir o som.

— Tomem cuidado. A selva é traiçoeira.

— Ou o que tomou conta dela — espragueja Niara.

O cheiro familiar é o clique para novas lembranças.

— Tem um rio logo ali.

Chegamos numa extensa praia banhada por um rio escuro.

Rio Negro.

Cortes e ferimentos durante as brincadeiras submersas. Latas e garrafas o transformaram. Já não se podia mergulhar. O odor tornava a extinção cada vez mais próxima.

Três hologramas piscam numa ilha próxima. Definitivamente, o jogo excluiu Daug. A cena machuca nossos corações. É hora de se despedir e continuar.

Alana estava certa o tempo todo?

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